SEGUNDO TURNO EM RONDÔNIA – A AUTOFAGIA NA ONDA OU AS DIFERENÇAS NA CONVERGÊNCIA

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Elizeu Lira

Por Elizeu Lira (*)

O segundo turno das eleições majoritárias no estado de Rondônia traz fenômeno
inusitado para as duas candidaturas postas na disputa – e mais para os eleitores de
ambos. Tão logo acabou a apuração dos votos do primeiro turno, o candidato Expedito
Junior, do PSDB, declarou apoio ao candidato a presidente Jair Bolsonaro, do PSL, num
gesto controverso, uma vez que este é presidente nacional do partido do seu oponente, o
Cel. Marcos Rocha. Com a vitória significativa de Bolsonaro no estado (62,2% a 20,3%
para o capitão contra Fernando Haddad, do PT), a declaração de Expedito produz uma
serie de indagações sobre quem será o representante de fato do presidencial pesselista
no estado.

Mas, não foi ao caso a frase de Expedito. A onda Bolsonaro escancara a guinada à direita
no País todo, e em Rondônia em particular. Ela se alastra em todos os segmentos,
consciente e inconscientemente, como uma convicção de que o acesso ao paraíso passa
por ele, candidato e por ela, direita enquanto ideologia. Mesmo avançando no espaço
político do seu opositor no segundo turno, Expedito também que surfar na onda
Bolsonaro.

Aparentemente, não parece haver contradição nesse movimento de Expedito, uma vez
que ele e Marcos Rocha trabalharão para o mesmo candidato a presidente. Em tese,
Bolsonaro ganharia com isso, pois haveria dois palanques para ele no estado. Mas, por
outro lado, há uma só vaga para governador em disputa. E dois grupos ávidos por ter o
controle do estado para si. A contradição reside ai, nos grupos que almejam governar o
estado nos próximos quatro anos. Explico.

Marcos Rocha e Expedito Junior não são ilhas na política estadual. Ao redor dos dois
gravitam pessoas e projetos muito próprios, num emaranhado de interesses difícil de
conciliar. Mesmo muito generosa, a máquina do estado não cabe todos os componentes
dos dois grupos – menos ainda a fome daqueles mais gulosos e menos republicanos que,
certamente, existem em ambos os coletivos. Portanto, mesmo que os dois candidatos
queiram explorar a “representação” de Bolsonaro, os seus companheiros não aceitarão
serem os derrotados.

Sob o ponto de vista dos eleitores que levaram Marcos Rocha ao segundo turno, este é o
legitimo representante de Bolsonaro no estado, pois foi isso que lhe foi entregue ao longo
do primeiro turno das eleições. Para esses eleitores, ao assumir o apoio ao capitão do
exercito, Expedito age como um oportunista, de modo a se oferecer como mais uma
opção no mesmo campo político. Isso seria verdadeiro se não fosse por um detalhe:
Marcos Rogério. Ao se eleger como o senador mais votado do estado como integrante do
grupo de Expedito, Marcos Rogério, dado a proximidade com Bolsonaro, se coloca como
uma cunha na relação de (quase) exclusividade entre Marcos Rocha e o candidato a
presidente do PSL. Isso não é pouca coisa.

Com a enorme votação obtida, Marcos Rogério consolida a sua posição de estrela
ascendente na política do estado de Rondônia. Jovem e articulado, Rogério potencializa
suas virtudes junto à sociedade local, refratária aos discursos mais progressistas e
engajados. Nessa seara, sua posição e verbos encontram terra fértil para que avance
célere em direção a ser o maior protagonista na política estadual.
Mesmo que integre o grupo de Expedito (ao menos nestas eleições), Marcos Rogério
transita bem em todos os espaços políticos do estado. Como senador, a sua interlocução
com Bolsonaro (que já é boa) ganha densidade, a ponto de ameaçar as posições de Expedito e Marcos Rocha junto ao candidato presidencial do PSL.

Com a participação de Marcos Rogério no segundo turno no estado de Rondônia, mais uma vez parece não haver contradição entre os interesses de Expedito Junior e Marcos Rocha, já que os três convergem em direção ao mesmo candidato presidencial.

Mas, além dos interesses controversos dos grupos que representam, serão necessárias
composições com os grupos derrotados no primeiro turno. Estes também repletos de
angustias e desejosos de reparações pós-campanha. Com isso, estão colocadas as
condições para que a autofagia coletiva se instale, produzindo aquilo em que a política
brasileira é pródiga: resultados práticos esvaziados para a população.

(*) Elizeu Lira é sociólogo, 55 anos, especialista em políticas públicas.