Sema apoia projeto de resgate do pirarucu no Lago do Cuniã

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A Prefeitura de Porto Velho, através da Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Sema) em parceria com a Associação de Moradores e Extrativistas do Lago do Cuniã (Asmocum) realizaram na última sexta-feira (09) o resgate de mais de 49 Pirarucus, na região do baixo Madeira, trabalho que todos os anos os moradores realizam voluntariamente em prol da sobrevivência da espécie. A secretaria se disponibilizou junto os moradores a executar o resgate do peixe, manejo e contagem do pirarucu na Reserva Extrativista do Lago do Cuniã.

De acordo com o secretário da Sema, Edjales Benício, a secretaria tem em seu planejamento o apoio de formação de novas unidades de conservação e implementação de unidades de conservação já existentes. “Logo no início tivemos uma dificuldade por ser tratar de uma reserva federal, alguns achavam que não era justo colocar apoio financeiro, em um projeto de manejo comunitário do pirarucu, mas a resposta que demos foi que a Resex pode estar com o apoio federal que no caso é a ICMBIO, mas o povo que mora aqui é de Porto Velho as políticas públicas devem ser direcionadas para o povo do Município. Hoje temos como unidade de conservação o parque natural que está em fase de implantação avançada. E veio a ideia de fortalecer o apoio em dois projetos que são o manejo do pirarucu e ecoturismo. Um investimento de grande importância para essa comunidade que visa a melhoria da qualidade de vida das famílias daqui a conservação da espécie do lago do Cuniã. A comunidade sentiu a necessidade de parar a pesca por que estava perdendo o pirarucu. Vimos que com o manejo de Mamirauá no Amazonas (maior reserva do país, no AM) foi possível manter a espécie e queremos trazer esta metodologia para o Cuniã e a Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Sema) não teria como negar o apoio, pois está dentro de nossos planejamentos de unidade de conservação e por ser um projeto voltado a sustentabilidade dessa comunidade, temos todo o interesse”, declarou o Edjales.

Said Barboza, técnico de pesca do Instituto Mamirauá, fala sobre o projeto: “A gente trabalha com recurso pesqueiro, voltado para o pirarucu, mas de um modo geral com todas as outras espécies a gente desenvolve trabalhos no Amazonas. Levamos a iniciativa aos outros Estados também aqui da região norte, mas a principal atividade nossa é trabalhar nas unidades de conservação, e realizamos parceria com a ICMBIO e as secretarias de Meio Ambiente dos municípios e estado, trabalhos voltados para a capacitação e mapeamento das áreas”, disse ele.

O técnico acrescentou ainda que esse curso foi uma demanda da Asmocum, ficamos de vir ano passado, mas estávamos com alguns projetos em andamento e deixamos para iniciar no Cuniã  este ano. Notamos o empenho dos pescadores. O Conhecimento cultural e científico, são bem diferenciados, mas uma pesquisa complementa a outra, todas as pesquisas são somas de conhecimento e do ribeirinho é muito valido só precisa das técnicas adequadas”, informou o técnico.

Geraldo Carlos de Souza, pescador da comunidade, descreve bem seu conhecimento cultural e fala sobre a reprodução do pirarucu. “O pirarucu se reproduz quatro vezes ao ano. Nasci para ser pescador, todos que nascem aqui com o tempo vai aprendendo todas as técnicas de pescar e vai também aprendendo a época não só da reprodução do pirarucu como sabe a época de reprodução de todas as espécies e sabe aonde encontrar”, disse o pescador.

Reprodução, resgate, contagem e manejo 

 Herlan Alves Lopez, da assistência técnica do manejo do pirarucu, relata que antigamente não havia manejo do pirarucu, existia a pesca somente para a sobrevivência do pescador. “As datas para pescar eram pré-definidas, passávamos quase dois anos para voltar a pescar. Foi neste momento que percebemos que teríamos que fazer um controle mais minucioso da espécie, nós criamos um estatuto e todo mundo ficou de acordo, fechamos a pesca para realizar a contagem e fazer o manejo do pirarucu. O resgate se dá em lagos que ficaram represados, no verão. Aonde a temperatura da água eleva 28° até 60° graus, porque afinal de contas não tem corrente, pegamos o peixe e andamos mais de 2 quilômetros, passamos quase uma hora andando e levamos o pirarucu para um lago maior, onde ele ficará livre de predadores e ficará em uma temperatura ambiente. A reprodução de pirarucu é três vezes ao ano, a desova é de 300 a 500 que dão origem ao alevinos, mas com uma perda é de 80% com o predador natural só serão aproveitados 20%. O peixe leva de um ano a um ano e meio para crescer e de três a cinco anos ele está pronto para o abate. É muito interessante como o pirarucu fêmea faz para escolher seu parceiro, que não é muito diferente dos seres humanos. Se a fêmea perceber que o macho esteve com outra fêmea automaticamente ela troca de parceiro e se reproduz com outro macho. A natureza também é inteligente” finalizou o assessor.

O secretário explica que alguns anos atrás a Associação dos Moradores, Extrativistas e Produtores Rurais da Reserva Extrativista do Lago do Cuniã (Asmocun), realizou um acordo com o Instituto Chico Mendes, órgão gestor da comunidade, e interromperam por quatro anos a pesca do pirarucu. Essa atitude foi a solução encontrada para evitar a extinção da espécie e também garantir a principal fonte de renda dos moradores.

Texto Elen de Paula | Fotos  Medeiros