Ruas da Vergonha: ação encabeçada pelo Núcleo Memória transforma ditadores em nomes de ruas

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Ivan Seixas, Presidente do Núcleo Memória e Maurice Politi, ex-preso político, Fundador e Diretor Administrativo do Núcleo Memória / Foto de Thiago Gripp
Foto de Thiago Gripp

São Paulo, 31 de Março de 2017 – Para que uma pessoa mereça uma homenagem tão permanente como virar nome de praça, rua ou prédio, o ideal é que ela tenha uma história que valha a pena ser contada. Por isso, o dia em que o Golpe Militar de 1964 completa 53 anos marca o início da ação Ruas da Vergonha, iniciativa do Núcleo Memória (www.nucleomemoria.org). Ao longo do dia, placas de seis ruas com nomes de militares que infringiram os direitos humanos durante a ditadura militar, serão substituídas temporariamente por outras, com nomes de conhecidos ditadores mundiais.

Tendo como ponto de partida o projeto Ruas da Memória, lançado em 2015 pela Prefeitura de São Paulo, a iniciativa tem a intenção de estimular as pessoas a refletirem que assassinos e torturadores não podem ganhar homenagens oficiais, não importando se mataram 10 ou 10.000 pessoas. Para isso, apresenta o tema: Quem matou ou torturou não pode virar nome de rua. “Fizemos a comparação para alertar as pessoas que é um absurdo homenagear qualquer um que matou ou torturou alguém”, afirma Maurice Politi, ex-preso político, Fundador e Diretor Administrativo do Núcleo Memória.

Ivan Seixas, Presidente do Núcleo Memória e Maurice Politi, ex-preso político, Fundador e Diretor Administrativo do Núcleo Memória / Foto de Thiago Gripp

Réplicas de placas trazendo os nomes de figuras mundiais como Adolf Hitler, Augusto Pinochet, Benito Mussolini, Jorge Rafael Videla, Pol Pot e Saddam Hussein, conhecidos pelas suas atrocidades e genocídios, foram colocadas por cima das originais. As ruas escolhidas para receber a ação prestam homenagens a Alcides Cintra Bueno Filho (Rua Doutor Alcides Cintra Bueno Filho, na Vila Amália), Filinto Müller (Rua Senador Filinto Müller, no Parque São Rafael), Henning Albert Boilesen (Rua Henning Boilesen, na Vila Lageado), Milton Tavares de Souza (Praça Gen. Milton Tavares de Souza, no Jardim Japão), Octávio Gonçalves Moreira Junior (Rua Doutor Octávio Gonçalves Moreira Júnior, no Jardim Esmeralda) e Sérgio Fernando Paranhos Fleury (Rua Dr. Sérgio Fleury, na Vila Leopoldina).

Abaixo-assinado:

Cada placa é um convite para que as pessoas pensem sobre o assunto e entrem no site www.ruasdavergonha.org em busca de mais informações. Lá é possível conhecer as histórias desses militares e sua atuação durante o Regime Militar. Também é possível assinar um abaixo-assinado para que as ruas sejam renomeadas. Ao final, o Núcleo irá encaminhar este documento ao prefeito João Dória e ao presidente da Câmara dos Vereadores.

 

Para não perturbar a movimentação das pessoas, apenas 80% das placas serão substituídas durante algumas horas. A intenção é não confundir os moradores e, principalmente, evitar problemas para serviços fundamentais como Corpo de Bombeiros e SAMU.

 

Além das intervenções, a ação também será divulgada durante esta sexta-feira, dia 31, em ato programado pelos alunos da Faculdade de Direito do Largo São Francisco. Neste sábado, dia 01 de abril, a partir das 15h30, será realizado o 4º Ato Unificado Ditadura Nunca Mais, nas antigas dependências do DOI-CODI, na Vila Mariana. Na ocasião, Ruas da Vergonha será apresentada aos presentes, que serão convidados a conhecer e participar da ação. O evento, que tem o Núcleo Memória como um dos realizadores, foi criado para marcar a data e solicitar a transformação do prédio em um museu voltado à preservação da memória dos presos políticos.

 

Sobre o Núcleo Memória – Criado em 2009 por ex-presos políticos, o Núcleo de Preservação da Memória Política atua para a promoção de políticas públicas nas questões referentes à memória política e à defesa dos direitos humanos através de ações educativas nessas áreas. O Núcleo Memória nasceu como um grupo de trabalho do Fórum Permanente de Ex-Presos e Perseguidos Políticos de São Paulo. O Fórum foi fundado em 2001 para defender os interesses dos ex-prisioneiros políticos e perseguidos na ditadura civil-militar no Brasil de 1964-1985.