Prefeito de Ariquemes anuncia cortes em livros com “ideologia de gênero”

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Thiago Flores atendeu a maioria dos vereadores, de base evangélica: homofobia
Thiago Flores atendeu a maioria dos vereadores, de base evangélica

As páginas que possam ser interpretadas como “ideologia de gênero” serão arrancadas dos livros didáticos do ensino fundamental, da rede pública do município rondoniense de Ariquemes.

 

De acordo com prefeito da cidade, Thiago Flores, a medida foi uma alternativa encontrada para evitar uma situação ainda pior. Ano passado, os livros foram simplesmente retirados das escolas pelo mesmo motivo e os estudantes ficaram sem material didático.

 

Entre as páginas que devem ser suprimidas está a de um Capítulo de um dos livros com o título “As Famílias. Entre as questões o material pergunta: como são as famílias que você conhece? A folha traz quatro fotos: a de uma família formada por mãe, pai e filhos, outra por uma mãe e um filho, outra com dois pais e um filho e outra com duas mães e dois filhos.

 

Segundo a prefeitura, a Bancada Evangélica na Câmara Municipal solicitou a suspensão e recolhimento dos materiais didáticos de 2017 enviados pelo Ministério da Educação, que contenham o que eles consideram como “Ideologia de Gênero”. Os livros distribuídos pelo MEC são escolhidos pelas escolas e aprovados em avaliações pedagógicas, hoje realizadas em parceria com universidades públicas em todo o país.

 

Os vereadores afirmam que o material está em desacordo com o Plano Municipal de Educação, aprovado em 2015. Segundo eles, por apresentar arranjos familiares de gays, lésbicas, com adoção de filhos e doenças sexualmente transmissíveis para crianças do 1º ao 5º ano do Ensino fundamental, que têm entre seis e dez anos de idade.

 

Para a professora de psicologia da Universidade Federal de Rondônia, Juliana Nóbrega, é ilusão acreditar que as crianças vão ficar alheias ao muno onde tem diversidade apenas porque o livro didático não vai tratar do assunto.

 

Contrários a medida, o Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Rondônia entregou ofício ao prefeito solicitando que a petição dos vereadores não fosse atendida. Para a categoria, a retirada dos materiais ignora a avaliação dos professores que escolheram os livros para usarem em sala, após rigorosa seleção de uma equipe técnica composta por doutores do Ministério da Educação.

 

A prefeitura chegou a fazer uma enquete no site do município sobre a adoção dos livros. 57% dos participantes foram contra a utilização dos materiais. A decisão foi tomada pelo prefeito nessa segunda-feira com apoio de 11 dos 13 vereadores do município.

 

A prefeitura da Ariquemes não informou quem fará a seleção das páginas que devem ser arrancada dos livros.

O polêmico deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ), criticou o prefeito Thiago Flores e os vereadores de Ariquemes pela decisão de arrancar as páginas que possuem o conteúdo ideologia de gênero nos livros didáticos.

Wyllys é da base do PT, ou seja, precursores da adição desse conteúdo nos livros didáticos.

A crítica foi feita nesta terça-feira (24) em seu perfil do Facebook.

Leia o texto publicado pelo deputado:

Imagem publicada pelo deputado.

Estamos voltando para a época da inquisição? Toda e qualquer página de um livro que tenha o poder de dar liberdade e de formar cidadãos críticos e com pensamento serão arrancados? Quanto tempo até que recomecem a acender as fogueiras? O prefeito de Ariquemes, Thiago Flores – Prefeito, decidiu, em conjunto com os vereadores do estado de Rondônia, recolher livros didáticos para RETIRAR as páginas que ensinem sobre o respeito à diversidade sexual e de gênero antes de disponibilizá-los para as escolas.

Os livros, elaborados pelo Ministério da Educação, foram APROVADOS E SOLICITADOS pelos professores, que os escolheram para usá-los em sala após um rigorosa seleção de uma equipe técnica FORMADA E CAPACITADA na área da educação. Além de violar o direito a uma educação que promova a igualdade, o prefeito e os vereadores também desrespeitam todo o acúmulo e formação dos profissionais de educação.

Esta decisão é o triunfo da estupidez e da ignorância. Uma decisão cuja simbologia remete ao pior: se a maioria optasse pelo extermínio real de gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais das escolas, em vez de seu extermínio simbólico das páginas dos livros, será que o prefeito populista e ignorante mandaria matá-los? Essa atitude veio com a desculpa de se combater a “ideologia” de gênero, uma expressão cunhada pela direita da Igreja católica para dizer que defendemos a ideia de que as pessoas podem mudar de gênero como mudam de roupa. Não é verdade. Essa ideia é uma farsa e é lamentável que prefeitos, vereadores e, sobretudo, jornalistas repitam essa cantilena sem qualquer tipo de crítica ou questionamento.

Quando trabalhamos a promoção da igualdade e o respeito à diversidade de gênero e orientação sexual é porque a escola não é uniforme, ela é formada de gente branca, negra, pobre, rica, mulheres, homens (cissexuais e transexuais), homossexuais, bissexuais e heterossexuais. A escola é um lugar de diversidade. As pessoas LGBT existem em sua materialidade e não podem ser ignoradas. Há pessoas que são vítimas de violência e têm suas oportunidades reduzidas por causa da sua orientação sexual ou do seu gênero.

A pesquisa nacional sobre o ambiente escolar no Brasil divulgados em 2015 nos mostra dados alarmantes: 73% dos jovens identificados como LGBT foram agredidos verbalmente na escola em 2015 por causa da sua orientação sexual ou identidade de gênero e 60% não se sentem seguros na instituição escolar.

Decisões retrógradas como essa tomada pelo poder público de Ariquemes só ajudam a agravar a violência nas escolas. Confiram aqui o estudo completo – http://www.abglt.org.br/docs/IAE-Brasil.pdf.

A realidade é que existe o medo por parte desses grupos que manipulam as informações a fim de colocar a população contra qualquer iniciativa que queira tornar a escola um lugar de inclusão e enfrente o machismo e a discriminação LGBT através da educação. Eles têm medo de uma educação de qualidade que desconstrua a nossa cultura de violência discriminatória, que dê às pessoas a possibilidade de uma vida com pensamento, porque isso é uma grande ameaça à permanência desses demagogos no poder.

Eu e minha assessoria estamos estudando a melhor forma de impedir essa arbitrariedade. Vamos reagir com força a esse absurdo. Não podemos permitir mais esse ataque à comunidade LGBT.

 

O MEC não se posicionou sobre a questão.