Os meus contatos com milicianos no Rio de Janeiro

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Em abril de 2010, Diogo Andrade, 17 anos, filho do contraventor Rogério Andrade foi morto num atentado a bomba

Por Roberto Kuppê (*)

Sou um “sobrevivente”, após morar por quase dez anos na Barra da Tijuca, zona oeste da cidade do Rio de Janeiro. As aspas vão quase como um exagero, porque vivi bons momentos neste bairro de cariocas emergentes. Nove entre 10 celebridades moram na Barra como jogadores de futebol, astros da televisão e artistas como Zeca Pagodinho, Ludmilla, Dudu Nobre, dentre muitos outros.

Descobri que ali também moravam milicianos e famosos bicheiros. Quando Diogo Andrade, de 17 anos, filho do bicheiro Rogério Andrade, foi explodido em abril de 2010 na Avenida das Américas, a bordo de um Corolla blindado, fui descobrindo que o paraíso no qual escolhi viver, não era bem assim essa maravilha. Cheguei a ver os carros destruídos na avenida.

Mas, o meu contato com milicianos e bicheiros na Barra se dera logo no início de minha estada na região. Acompanhado por amigos, passei a frequentar algumas festas denominadas de “social”, tanto na Barra quanto no Recreio dos Bandeirantes e Vargem Pequena. Numa dessas conheci uma figura peculiar.

Vágner Love – Wikipédia, a enciclopédia livreFoi numa chácara, em Vargem Pequena, de propriedade do ex-jogador do Flamengo, Vagner Love. Fomos a convite do enteado dele. O jogador estava atuando no exterior. De repente, adentra ao recinto, um “bonde” formado por pelo menos 10 pessoas. Nele se destacava uma figura, um jovem de presumíveis 18 anos, cercado por seguranças.

Era “Dinho”, nome que darei ao jovem, por medida de segurança e preservação da vida. Risos. De alguma forma fui apresentado a ele, que passou a pertencer ao meu rol de amigos. Encontraria ele várias vezes nas festas, sempre acompanhado por um séquito de amigos e seguranças. Era filho de alguém ligado a um famoso bicheiro. Posteriormente conheci o pai dele pessoalmente. “Dinho” passou a frequentar alguns eventos sociais na minha casa.

Pode ser uma imagem de 1 pessoa e relógio de pulsoNum desses dias ele me emprestou seu colar e relógio de ouro, para fazer uma foto. O leão do colar que parecia mais com uma corrente de atracar âncora de navios, era o símbolo da família dele. Quase como um brasão. No início disse que fui um “sobrevivente”. Sim, em vista de minha amizade com “Dinho” descobri que fui salvo de um sequestro. Sem mais detalhes.

O meu maior espanto, porém, foi saber que fui vizinho de Jair  Bolsonaro em vários imóveis que morei no Rio. Inclusive conta bancária na mesma agência.

Após a eleição de Bolsonaro, soube pela mídia que fui vizinho dele tanto na Barra da Tijuca, quanto em Angra dos Reis. Na Barra ele tinha um imóvel, dentre os 117 divulgados,  na rua Maurice Assuf, no condomínio Lagoa Mar Norte, no qual eu morava e cuja casa pertenceu ao cantor Sdiney Magal. Olha o perigo. Nenhuma descrição de foto disponível.Mas, em compensação, fui vizinho do Zico, que morava na rua de baixo, paralela à minha. E vizinho também do Zeca Pagodinho, que além de Xerém, reside num luxuoso apartamento de frente para a praia.

Essa história, dentre outras, estarão num livro que estou escrevendo há mais de cinco anos, que finalmente será concluído em meados do ano que vem. Memórias, relatos  e confidências. Alguns fatos serão revelados e/ou esclarecidos, desmentidos, para o bem da verdade. Mas, o que é a mentira? Mentira é a verdade que não pode ser dita. Há fatos que é melhor omitir ou mentir para o bem da humanidade e da própria sobreviência.

(*) Roberto Kuppê é jornalista e articulista político

Contato: [email protected]