“O mundo está cada vez mais analítico, informação é poder e o robô ainda precisa aprender muito”, diz Ricardo Cappra

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Ricardo Cappra diz que a maioria dos dados no Brasil diz respeito a relacionamentos

A cada minuto, nomes, fotos, opiniões, preferências, comportamento, deixam rastros enormes na internet.

“O digital fez chegar tudo ao mesmo tempo, não há como acompanhar tanta informação (mostrando a tela do Twitter), é preciso usar a inteligência analítica”, demonstrou o especialista em negócios Ricardo Cappra, na instigante palestra A era dos algoritmos,  sábado à noite na Infoparty.

Ele é cientista-chefe na Cappra Data Science e do laboratório de big data Mission Control.

“A situação mudou completamente e acabou aquela era em que o poder dominava todas as informações, junto com a mídia tradicional, a indústria, o empresariado”, disse.

A criação de métodos, quadros, fórmulas, painéis e algoritmos é atualmente o objetivo principal da consultoria, ele explicou. “Ajuda as pessoas na solução de problemas cotidianos, por meio de ‘sistemas’ lógicos”. São dados transformados em poderosos algorítimos, impactantes sobre a vida das pessoas, aceleradores da inteligência artificial.

“Até anos 1970, a ciência e o comportamento humano se valiam de poucos dados que hoje ‘estouram’ na internet”, disse.

“ALGUÉM ESTUDA VOCÊS”

Segundo Cappra, a ciência de dados é a forma mais efetiva de hackear negócios. Ele propõe “hackear” nossas próprias vidas, usando aspectos racionais. “Alguém estuda vocês”, provocou. Em seguida, descreveu a possibilidade de uma série de identificações, entre as quais, fatores que motivam ações diversas; propagação social de doenças; indicadores de política; monitoramento de lançamento e compra de produtos; e até mesmo, o efeito de um aperto de mão ou de um abraço.

Uma série de frases apareceu no telão da Inforparty. Um deles: “Tá mais fácil capturar pókemon do que arrumar um mozão”.

Na análise de 60 milhões de dados, a maioria diz respeito a relacionamentos. No Brasil, segundo ele, 90% dos aplicativos de namoro falam sobre relacionamento.

“Todas as pessoas que revelam relacionamento sério no Facebook, diminuem as amizades, mas não é ruim estar num relacionamento sério”.

O algorítimo revoluciona tudo. Cappra lembrou, por exemplo, o compartilhamento de filmes feito pela Netflix, “conforme o agrado da pessoa”. “Eles sabem a preferência de cada um”. “E no Facebook, percebam, a cada palavra que você digita diversas vezes, surge na tela a oferta de informações e produtos a ela referentes”.

ROBÔ RACISTA

Nem tudo é perfeito no mundo digital. Nem deveria ser, pois eles ainda devem aprender um tanto, deduz-se a cada frase de Cappra.

“Calma, gente, o robô não vai roubar o emprego”, comentou ao falar de inteligência artificial. “Primeiro, porque ainda precisamos ensiná-lo a ser inteligente, e mesmo na improvisação ele precisa aprender”, ele assegurou.

Segundo o palestrante, na rede, o robô às vezes faz tarefa de humano, e até comete racismo e preconceito. Referiu-se a Tay, o perfil de inteligência artificial criado pela Microsoft para interagir com adolescentes nas redes sociais.

“Em 24 horas ele foi desativado. Deveria se tornar mais esperto e perspicaz ao conversar com os humanos, só que rapidamente passou a reproduzir racismo e ignorância dos trolls da internet”, lamentou.

O que ocorreu com o robô mencionado por Cappra foi trágico: instigado por usuários no Twitter, disse coisas impublicáveis ao mencionar mulheres e negros. Declarou apoio ao genocídio e à causa dos supremacistas brancos. “O Holocausto aconteceu?”, perguntou um usuário. “Ele foi inventado”, declarou a “inteligência artificial”, com a surpreendente postagem de um emoticon de aplauso em seguida.

“O que é certo ensinar a uma máquina, diante de tão diferentes opções e opiniões humanas?” – questionou Cappra mostrando um eslaide no qual o internauta é desafiado a optar por qual grupo de pessoas preferia que o carro atropelasse.

Aos que iniciam carreira, sugeriu identificar o que realmente importa, descobrir fontes dos dados, coletar, organizar, mostrar e analisar informações relevantes. “O cenário é global e sem fronteiras para competitividade, daí a necessidade de decisões que não se limitam apenas à intuição e inteligência emocional”, alertou.

Segundo ele, se todos tiverem acesso a “sistemas” (não necessariamente softwares), podem reservar um pouco do seu trabalho repetitivo, dedicando-se a explorar o máximo do conhecimento em descobertas e solução de problemas complexos. “O mundo seria bem melhor”, disse.

A plateia de jovens na Infoparty participou de inesquecíveis palestras nesta segunda edição. A dos algorítimos demonstrou a existência  de inúmeras possibilidades de oferecer subsídios racionais e científicos para ajudar as pessoas.

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Fonte
Texto: Montezuma Cruz
Fotos: Jeferson Mota

Secom