O dia em que Bolsonaro derrotou Expedito Júnior

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Marcos Rocha e Expedito Júnior no debate do segundo turno de 2018

Por Roberto Kuppê (*)

Bastidores das eleições de 2018 em Rondônia. Tudo caminhava para a tão sonhada vitória de Expedito Júnior (PSDB) para o governo de Rondônia. Já havia perdido duas campanhas para governador. Mas, desta vez tudo conspirava para sair finalmente vitorioso. Mesmo sem alianças, tendo o vereador Maurício Carvalho como vice do mesmo partido (chapa puro sangue que chama), Expedito Júnior era só entusiasmo e tinha certeza de que desta vez realizaria o sonho de governar Rondônia.

A campanha foi impecável, com formiguinhas em todo o Estado, cabos eleitorais de luxo como o então deputado federal Marcos Rogério (DEM) que disputava uma vaga no Senado Federal. As pesquisas indicavam que Expedito venceria o primeiro turno com folga sobre o segundo colocando, indo ao segundo turno com chances de vencer.

Algumas reuniões de campanha eram realizadas no enorme apartamento de quatro quartos e três ambientes do candidato, no bairro Olaria, em Porto Velho. Lá toda hora chegavam apoiadores como o prefeito da capital, Hildon Chaves, deputados estaduais, vereadores, etc. Jornalistas como Rubens Coutinho (Tudo Rondônia), Tadeu Itajubá (O Combatente), Everaldo Fogaça (OObservador), dentre outros, também frequentavam o apartamento comitê, em busca de notícias. O clima era de positividade e uma certa euforia. Ali morava o futuro governador de Rondônia. Ninguém tinha dúvida disso.

Maurão de Carvalho (MDB)

Durante a campanha, dentre os candidatos mais temidos pelo staff de Expedito era o presidente da Assembleia Legislativa, Maurão de Carvalho (MDB), que aparecia sempre nas pesquisas em segundo lugar. Ele seria o adversário de Expedito no segundo turno e vencê-lo eram favas contadas. Moleza. Mamão com açúcar. Maurão tinha dificuldades nos debates e não sabia se expressar com clareza suas posições e Expedito era uma águia em raciocínio e capacidade. Outro candidato que chegava a assustar era o Vinícius Miguel, da Rede, que crescia nas pesquisas a olhos vistos. Mas, o Maurão era a preocupação. Tinha um candidato sem graça, que ninguém prestava a atenção nele: coronel Marcos Rocha (PSL) que vivia brigando nos debates com o outro coronel, o Charlon (PRTB). Marcos Rocha não era nenhum problema para a equipe de Expedito Júnior.

Ás vésperas das eleições do primeiro turno, as pesquisas indicavam que Expedito seria o próximo governador de Rondônia. No âmbito nacional o candidato à presidência da República, Jair Bolsonaro (PSL) se firmava em primeiro lugar, com Fernando Haddad (PT), em segundo. Havia um resquício de possibilidade de Haddad vencer em primeiro lugar o  primeiro turno, devido ao fato de Bolsonaro faltar a todos os debates.

Mas, Bolsonaro ficou em primeiro lugar e iria disputar o segundo turno com Fernando hadadd. Em Rondônia, Expedito confirma o favoritismo e vai para o segundo turno em primeiro lugar. A surpresa foi o segundo colocado, o insípido, incolor e inodoro Marcos Rocha foi para o segundo turno! Pior. Naquele momento uma enxurrada de adesões à Bolsonaro vindas de todos os lados mudou o curso do vento em Rondônia. De pangaré, coronel Marcos Rocha também começa a receber adesões de todos os lados como jamais se imaginaria. De repente ele virou o cara.

Expedito Junior concede entrevista coletiva- Foto Marcelo Gladson

No apartamento comitê de Expedito Júnior, o que antes era alegria e entusiasmo passou a momentos dramáticos. O desânimo tomou conta de todos, mesmo tendo Expedito vencido em primeiro lugar a primeira etapa das eleições de 2018. Como um candidato sem plano de governo, sem propostas para o Estado, poderia virar governador do nada? E Expedito que tinha um dos melhores e mais completos plano de governo iria amargar a terceira derrota para governador?

Na apuração dos resultados das urnas o apartamento comitê de Expedito encheu de amigos, correligionários e simpatizantes. Alguns cumprimentos pela vitória em primeiro lugar não eram convincentes. Mesmo tendo sido eleito senador da República, Marcos Rogério, com mais de 300 mil votos, aquele ambiente não era de alegria. Era de preocupação. Nem o reeleito deputado federal Expedito Netto demonstrava satisfação. O semblante de Expedito Júnior era de quem levou um banho de água fria. E agora? Qual a estratégia para vencer Marcos Rocha? Ninguém estava preparado para enfrentá-lo. Não se tinha nada contra ele. Tinha um arsenal contra Maurão de Carvalho, o adversário ideal, lembram?

Pra lá e pra cá, pensativo, Expedito Júnior chama alguns amigos para conversar em particular, dentre estes, esse que vos escreve. Expedito queria saber o que fazer. Ele tinha uma ideia. Chamar a imprensa, que, aliás, já estava lá, para dizer que iria apoiar Bolsonaro no segundo turno e assim atrair os eleitores que votaram no “mito”, mas não votaram em Marcos Rocha. O plano não seria contestado de todo porque Marcos Rogério se elegeu senador dizendo apoiar Bolsonaro. O próprio senador eleito Marcos Rogério disse a Expedito que ele deveria declarar voto a Bolsonaro. Seria um tiro escuro. E assim ele o fez. Ao lado de Marcos Rogério e Expedito Netto, ele, Expedito Júnior declara apoio à Bolsonaro no segundo turno. O anúncio imediatamente ganhou as redes sociais e não foram bons os resultados. No anúncio, Marcos Rogério chegou a dizer que ia coordenar a campanha de segundo turno de Bolsonaro em Rondônia, o que não aconteceu. Os apoios carrearam todos para Marcos Rocha. No apartamento comitê, o jornalista Fogaça se dirigiu a mim e disse: “Aqui acabou!”. Rubens Coutinho emendou: “Mais uma derrota de Expedito Júnior”. E o segundo turno nem tinha começado ainda.

Marcos Rocha, governador eleito

Bom, o final todos já sabem. Marcos Rocha se tornou governador fazendo uma campanha chinfrinha, sem graça, sem plano de governo. E Expedito perdia pela terceira vez uma disputa pelo governo de Rondônia. Agora é esperar 2022. Se não aparecer nenhum azarão pela frente, é um dos favoritos. De novo.

(*) Roberto Kuppê é articulista político