Massacre de Corumbiara, 26 anos: A Memória de Corumbiara no Contexto da Reforma Agrária

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Osvaldo Pittaluga era secretario da Agricultura no momento do fato

BRASILIA-Coordenado pelo PT Lisboa (Portugal), com a participação on line de personalidades jurídicas, políticas e acadêmicas foi realizado na tarde de hoje, debate via plataforma Zoom (live) para  lembrar os 26 anos do Massacre de Corumbiara, ocorrido em 9 de agosto de 1995. O evento contou com as participações de Derek Indoe (Inglaterra), Roberto Kuppê (Brasília), Raul Fonseca (Porto Velho), David Nogueira (PT de Porto- Portugal), Celene, Pedro (PT Lisboa), Osvaldo Pittaluga (PT Rondônia), Marcio Martins (Rondônia-Unir), Santiago (Acre), Júlia Feitoza (Acre) e Fátima Cleide (PT-Porto Velho).

Assista  aqui a íntegra da live

O massacre ocorreu durante o primeiro ano do governo Valdir Raupp (MDB), sendo considerado o maior ato de violência no campo acontecido no Brasil. O então secretário da Agricultura Osvaldo Pittaluga (PT), que abriu o debate, disse que na ocasião o governo estadual não agiu com firmeza nas investigações, o que fez com que ele deixasse a pasta da agricultura. O britânico Derek Indoe apresentou um documentário sobre o Massacre de Corumbiara. O advogado Raul Fonseca, que atuou no caso, disse que nada mudou nas políticas agrárias de Rondônia e do Brasil, desde o referido evento em Corumbiara.

 

Pode ser uma imagem de 8 pessoas, barba e texto

Em julho de 1995, famílias sem-terra ocuparam um pedaço da fazenda Santa Elina, de 18 mil hectares, localizada entre Corumbiara e Chupinguaia, no sul do sul de Rondônia. Durante operação de reintegração de posse, iniciada na madrugada de 9 de agosto, pelo menos doze pessoas morreram – nove posseiros, dois policiais e um homem não identificado. Cinco anos mais tarde, foram condenados três PMs e dois líderes da ocupação.

Sobre o Massacre de Corumbiara

No dia 09 de agosto de 1995, às três horas da madrugada, 300 pistoleiros e policiais investiram contra o acampamento na ocupação da Fazenda Santa Elina, em Corumbiara (RO), com bombas e tiroteio por cerca de quatro horas. Dois policiais morreram no confronto, diante da reação dos trabalhadores, pegos de surpresa enquanto dormiam. Do lado dos sem-terra, aproximadamente 20 trabalhadores desaparecidos, 350 lavradores gravemente feridos, 200 presos e 8 mortos, incluindo uma criança. Vanessa dos Santos Silva (criança), Nelsi Ferreira, Enio Rocha Borges, José Marcondes da Silva, Ercílio Oliveira Campos, Odilon Feliciano, Ari Pinheiro Santos e Alcino Correia da Silva foram as vítimas.

Josep Iborra Plans*

Perícia apontou casos de execução entre os mortos e de espancamento entre os sobreviventes. Relatos apontam que mesmo após dominados, os acampados foram arrastados, pisoteados, enfileirados e chutados, além de receberem tiros na orelha e em várias partes do corpo. Até o final da década, foram intensas as mobilizações pelo julgamento e para que o massacre de Corumbiara não fosse esquecido.1

Quando o tribunal julgou os fatos, em 2000, “Resumindo de maneira simplória, a acusação levou ao julgamento de dois posseiros e de 12 agentes de segurança. Do lado dos ocupantes, saíram condenados Cícero Pereira Leite Neto, seis anos e dois meses de reclusão, e Claudemir Gilberto Ramos, oito anos e meio. Entre os PMs, foram sentenciados os soldados Airton Ramos de Morais, a 18 anos, e Daniel da Silva Furtado, a 16 anos, e o então capitão Vitório Régis Mena Mendes, a 19 anos e meio.”2

Indígenas também foram massacrados em 1985 na Gleba Corumbiara

Não apenas pequenos agricultores foram massacrados na Gleba Corumbiara, os povos indígenas isolados da região sofreram dez anos antes, em 1985 (no mesmo ano do martírio do Pe. Ezequiel Ramin na região de Cacoal) um ataque brutal dos latifundiários colonizadores. O Massacre dos Omerê, como ficou conhecido, foi denunciado pelo indigenista Marcelo Santos e relatado décadas depois pelo cineasta Vincent Carelli no filme “Corumbiara”, mostrando como Marcelo e sua equipe levaram anos para encontrar apenas sete sobreviventes.3

Massacres e mortes em Rondônia, antes e depois do massacre de Corumbiara

Como mostram os gráficos 1 e 2 das mortes registradas em Rondônia pela CPT, quatro épocas marcam com especial intensidade os assassinatos de camponeses no campo em Rondônia.

No final do século passado, em 1987, precederam Corumbiara três massacres. Em Jaru três posseiros foram assassinados na fazenda Belo Horizonte: João Ribeiro dos Anjos, Elizeu Bento Franco e Osmar Soares Sindra. O crime foi cometido por dois jagunços provavelmente a mando de madeireiros que invadiram a terra, pertencente, à época, ao Seringal Bom Futuro. O INCRA não sabia se a proprietária havia vendido a terra para algum dos madeireiros.4

No mesmo ano, no dia 03/06/1987, foram mortos seis posseiros em confronto: Valdir Viana, Antônio de Jesus, José Alves da Silva, Francisco F. da Silva, José Luiz de Oliveira F. e Dalvino Viana. O atrito ocorreu por causa de possível limite das posses de cada agrupamento, diante da morosidade no processo de desapropriação e assentamento das 400 famílias residentes nesta área de 10 mil hectares no município de Pimenta Bueno (RO). O INCRA alegava que não havia conflito na região e que faltava recursos para implantação do projeto. A terra estava sob conflito pelo menos desde 1980, quando um tiroteio em conflito pela terra deixara 8 mortos.5

Ainda, outras seis pessoas foram mortas em conflito na área indígena Roosevelt por tentarem tomar a posse da terra, em disputa entre os índios Cinta Larga e fazendeiros denunciados desde 1975 por lotear as terras para práticas de desmatamento e para a entrada de posseiros. Os posseiros mortos foram José Carneiro, Claudinei Elias de Morais, Josias Ribeiro Gomes, Valdemir Pereira, Davi de Jesus Gomes e Diomar Ferreira Maia. No decorrer dos anos diversos indígenas foram mortos em armadilhas. Após este massacre, a Justiça Federal estabeleceu liminar que anulava as permissões para exploração da reserva indígena por madeireiras que, mesmo assim, chegaram a construir pontes sobre o rio Aripuana para passagem de madeira.6