Henry Borel afirmou que “o tio machuca” cinco dias antes de morrer

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Menino relatou agressões durante chamada de vídeo (Foto: Reprodução Instagram)

Desconfiado de que o filho Henry Borel Medeiros, de 4 anos, sofria maus-tratos, o engenheiro Leniel Borel passou a questionar, com frequência, a mãe da criança, sua ex-mulher Monique Medeiros da Costa e Silva. Em um fim de semana de fevereiro, o menino havia lhe contado que o “tio” o machucava. O ‘tio”, ao qual o garoto se referia, era o médico e vereador Jairo Souza Santos Junior, o Dr. Jairinho.

Pode ser uma imagem de 1 pessoa e texto que diz "Vereador Dr.Jairinho 77123 Defensor da família Contra aideologia de gênero A favor do Escola sem partido Fechado com Bolsonaro"Na decisão sobre prisão: Juíza afirma que Dr. Jairinho praticava abusos físicos no menino e o trancava sozinho no quarto

Monique, por sua vez, dizia que a história era fruto da imaginação da criança por conta da separação. Mas foi numa videochamada de celular com Henry, no dia 3 de março, cinco dias antes da morte do menino, nas presenças da avó Rosângela Medeiros e da babá Thainá de Oliveira, que o menino repetiu na frente de todos: “O tio machuca”. Monique e Jairinho foram presos nesta quinta-feira, e serão indiciados pela Polícia Civil por homicídio duplamente qualificado.

Leniel conta que ligou para o filho e percebeu que ele estava triste:

— Ele atendeu todo tristinho. Eu perguntei o que houve. Ele me disse: ‘Papai, eu não quero ficar na casa nova da mamãe’. Eu perguntei o que tinha acontecido, e ele respondeu: ‘O tio me machuca’. Ele estava perto da avó e da babá. Aí eu disse: ‘Vocês estão vendo aí que não é coisa da minha cabeça? Vocês não falam que sou eu que estou manipulando o Henry para falar isso?’ – lembra Leniel, em entrevista ao GLOBO, um mês depois da morte de Henry.

Leniel Borel de Almeida, pai de Henry Foto: Alexandre Cassiano / Agência O Globo

Ainda abalado, o pai da criança diz não entender por que Monique e a mãe dela mentiam para ele. Segundo Leniel, a relação com a ex-sogra era de confiança e amizade.

— Durante a ligação (por mensagem do WhatsApp), Dona Rosângela (avó materna) disse: ‘Leniel, esquece isso. O Henry é muito inteligente! Ele está fazendo isso por causa da nova casa, pois ele não quer ficar lá. Inclusive a Thayná está do meu lado e disse que ela fica com o Henry o dia inteiro e só sai quando a Monique chega. Quando a Monique chega, ela dorme com ele’ – recorda Leniel, sem compreender a razão de elas protegerem Jairinho.

A esperança de Leniel de chegar à verdade era a psicóloga contratada para acompanhar a criança no início do ano:

— Foi naquela semana que o meu filho falou que ‘o tio machucava’. E a Monique me dizia que era invenção da cabeça dele. A busca pela psicóloga parecia ser a solução. Eu fui na primeira sessão com ela. Eu pensei: ‘Beleza, ele (Henry) não falou comigo, mas vai falar com a psicóloga’. Em nenhum momento ela falou que ele tinha comentado sobre agressão.

No mesmo dia, uma hora depois da conversa com a avó materna, Leniel diz que Monique ligou para avisar que tinha ido à psicóloga.

— Ela me ligou para dizer que o Henry estava morrendo de saudades de mim. Eu disse que também estava e que iria buscá-lo no fim de semana. Aí ela me disse que o Henry contou que o “tio” machucava ele. Eu comentei que havia acabado de falar isso com mãe dela. Ela, então, falou: ‘Tira isso da cabeça que isso não acontece. Inclusive, a Thayná só sai quando eu pego o Henry. Ele passa poucos momentos em contato com Jairinho, porque ele chega muito tarde da Câmara. Ele nem tem contato com ele’. Aí eu disse que, a partir do momento que eu visse uma marca no meu filho, a nossa conversa seria diferente – conta o pai de Henry.

Leniel passou a examinar o corpo do menino e a puxar assunto com o filho, querendo saber se havia algo errado na casa do casal. No sábado, dia 6, quando pegou a criança no apartamento de Jarinho e Monique, no condomínio Majestic, na Barra daTijuca, ele cumpriu o ritual. E percebeu que o menino tinha um arranhão no nariz:

— Perguntei a ele o que era aquilo. Ele me respondeu: ‘Papai, eu não sei’. Hoje eu acho que ele foi coagido a não falar o que acontecia lá. Ele pode ter sido coagido.

Na noite de quinta-feira, o pai de Henry fez uma homenagem ao filho. Ele prometeu que não deixaria sua morte ser esquecida:

“Prometo lutar para que sua morte não seja a representação da violência com apenas mais uma criança, mas que haja reflexão de que qualquer tipo de violência doméstica deve ser denunciada”.

As informações são de O Globo.