Coluna Zona Franca – Por Roberto Kuppê

Por Roberto Kuppê (*)

Caça às bruxas

O governo Lula está promovendo uma verdadeira caça às bruxas. Ou melhor, caça aos terroristas, fascistas e golpistas. Também não é por menos. Apesar de já estar governando há quase uma semana, Lula tem visto pelo retrovisor que lampejos golpistas ainda insistem. Há uma vontade de alguns de reviver o ano de 2013, mas os tempos são outros. A realidade é outra. Lula está começando a governar, com um leque de partidos, com apoios político e popular.

Quem financia?

A coluna teve acesso à um vídeo da partida de vários ônibus de Rondônia, rumo à Brasília. Segundo o site  Hoje Amazônia seriam 35 ônibus lotados com participantes para “sitiar” o Congresso Nacional, nesse final de semana. Dizem ser para manifestações do tudo ou nada nos dias 7, 8 e 9, na Praça dos Três Poderes. Era uma turma bem numerosa, levando pacotes de comida e água mineral. Pela aparência, gente simples. Daí uma pergunta: quem os estão financiando? Quem está bancando essa viagem, os custos de hospedagem e alimentação?

Quem financia? 2

Ainda segundo o site, apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro em Rondônia têm aumentado o tom das ameaças contra o atual governo, do presidente Lula, e alguns membros de grupos de Telegram  e Whatsapp chegam a falar em “hora de sujar as mãos de sangue”. Diversos grupos foram criados nessa semana com a função de recrutar pessoas para viajarem até Brasília, onde aconteceria , conforme  mensagens, a “batalha final” contra o comunismo e restauração da liberdade do povo brasileiro

Quem financia? 3

Na convocação para a viagem à Brasília os organizadores, que não expõe nome e nem foto em seus perfis, garantem que tudo será gratuito, inclusive alimentação durante o trajeto e também em Brasília e tranquilizam os mais temorosos; “ Não vai ter problema nenhum porque as Forças Armadas estão esperando para apoiar e proteger nossa luta pela liberdade”, afirmam, garantindo que o presidente Lula não tem nenhum poder sobre o Exército porque na verdade não foi empossado e tudo não passa de “novela organizada pela rede Globo e pela imprensa comunista.”

Quem financia? 4

Além disso, circula uma mensagem em vídeo, que pede o bloqueio de postos de gasolina, caminhões de transporte de combustíveis e de alimentos. O objetivo, seria criar uma situação de emergência que forçaria uma ação dos militares das forças armadas. No que se refere a novos bloqueios nas rodovias a opinião dos golpistas rondonienses é confusa. Alguns acham que é preciso “ trancar tudo” e bloquear acesso aos postos de gasolina e outros acham que isso não da nenhum resultado. Em várias pontos da BR 364, no entanto, os acampamentos continuam montados e nunca ficam vazios, numa clara demonstração de que os bloqueios podem acontecer sobretudo porque o DNIT e a PRF nada fizeram para retirar as estruturas das margens da rodovia.

Quem financia? 5

Em Belo Horizonte (MG), alguns “manifestantes” eram “profissionais” e que todas as tardes um grupo chegava ao local, recebia um lanche e R$ 50 para permanecerem na via. À noite, uma pessoa armada fazia uma “espécie de ronda” entre os manifestantes. “O nível de organização também ficou evidente, uma vez que eles não se identificavam pelo nome e tinham técnicas de autodefesa para utilizarem em eventuais abordagens policiais, como demonstraram, ao conseguirem se esquivar, por diversas vezes, durante a abordagem de hoje”. Esses “manifestantes” de Rondônia também são profissionais pagos para irem a Brasília.

Enquanto isso…

A dupla Alexandre de Moraes (TSE-STF) e Flávio Dino (Ministério da Justiça), está agindo com firmeza e determinação às tentativas de desestabilização das instituições e da democracia. Cerca de 11 manifestantes estão com prisão decretada. Quatro já foram presos pela PF: Átila Melo, Klio Hirano, Joel Pires Santana e Samuel Barbosa Cavalcante, esses dois últimos, de Rondônia. O restante é considerado foragido: Alan Diego dos Santos, Helielton dos Santos, Ricardo Aoyama (de Ariquemes), Silvana Luizinha da Silva, Walace Batista da Silva, Wellington Macedo e Wenia Morais Silva.

Governo transversal

É nítido que os tempos agora são outros. Todos os ministros de Lula estão empenhados em tirar o Brasil das trevas. O termo mais usado é a transversalidade, ou seja, todos os ministérios atuarão entre si pelo combate às desigualdades, pobreza, injustiças. E o ministro Flávio Dino, da Justiça, já está atuando na prática, na reparação das injustiças praticadas contra Genivaldo de Jesus Santos, o rapaz que foi morto por policiais da PRF, numa câmara de gás. Dino vai reparar financeiramente a família da vítima do genocida. Nota 10!

Os indiferentes

Nos Alpes Suíços, as mudanças climáticas afetaram as estações de esqui que tiveram que improvisar com neve artificial. No Brasil, o assunto passou a ser tratado com seriedade. O novo Ministério do Meio Ambiente e Mudanças do Clima, comandado pela deputada federal Marina Silva (Rede), é um sinal de que o novo governo está preocupado com o aquecimento global. Impressiona, porém, a indiferença de oposicionistas, que minimizam o problema, criticam o atual governo, idolatrando aquele que fugiu para não ser preso.

Sintomático

A coluna concorda com as palavras de Madre Tereza de Calcutá. É comovente a atuação de alguns religiosos em suas pregações, mas, dali para as práticas concretas existe uma distância quilométrica. A maioria apenas proferem palavras de efeito com seus vozeirões de locutores da Kombi do Ovo, mas, na prática não ajudam a ninguém. E ainda cobram dízimos e votos.

Sintomático 2

Por falar em votos, a maioria dos deputados evangélicos eleitos e reeleitos em 2022 é apoiadora do agora foragido Jair Messias Bolsonaro (PL). E a maioria deputados evangélicos que forma a bancada da Bíblia, votou contra o Bolsa Família, contra as 33 milhões de pessoas famintas. Vai vendo, Brasil.

 

                                          Sem anistia

Há em curso no âmbito da Câmara dos Deputados (leia-se presidente da Casa, deputado Arthur Lira (PP-AL), uma proposta de se anistiar o ex-presidente Bolsonaro, que cometeu centenas de crimes graves na gestão dele. Mas, ao que parece, essa não é a vontade do atual governo liderado por Lula, que ficou 580 dias preso por crimes que não cometeu. Bolsonaro precisa ser punido e sentir a força da lei. Do contrário, se vangloriará da impunidade e poderá até pleitear a volta ao poder.

Lula salvou o Brasil

O jornalista Ascânio Seleme, que dirigiu O Globo, jornal que fez campanha pela prisão política do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, diz hoje, em sua última coluna no jornal, que o Brasil deve agradecimentos a Lula. “Lula nos salvou do pior pesadelo, dando vida nova à democracia terrivelmente ameaçada por Jair Bolsonaro. O Brasil deve lhe agradecer por não retroceder aos tempos das trevas. Lula quer trazer de volta para o orçamento da União os pobres e os miseráveis, só lembrados nos últimos quatro anos durante os poucos meses que antecederam a eleição presidencial. O Brasil deve lhe agradecer por prometer três refeições por dia a mais de 30 milhões de brasileiros que passam fome”, escreve Ascânio, que foi secretário de Comunicação em Rondônia na década de 90.

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“Lula devolveu aos direitos humanos a prioridade que o tema necessita num país tão desigual e violento como o nosso. O Brasil deve lhe agradecer por nomear o incrível advogado e filósofo Sílvio Almeida para tocar uma pauta que antes cabia à inacreditável advogada e pastora Damares Alves. Lula nomeou Nísia Trindade para o Ministério da Saúde. O Brasil deve lhe agradecer por entregar a pasta mais sensível de seu governo à presidente da Fiocruz, entidade que fabrica vacinas, objeto de desprezo do general Pazuello e de Marcelo Queiroga, últimos dois ocupantes do cargo”, acrescenta Ascânio.

A miliciana

A nova ministra do Turismo, Daniela Carneiro (União Brasil), conhecida como Daniela do Waguinho, se viu envolvida numa polêmica já no início do seu mandato: a ligação dela com um miliciano condenado por homicídio e associação criminosa. O vínculo político de Carneiro, reeleita deputada federal pelo Rio de Janeiro, com o ex-PM Juracy Alves Prudêncio, conhecido como Jura e acusado de comandar uma milícia na Baixada Fluminense, foi revelado nesta terça-feira (03/01) pelo jornal Folha de S.Paulo.

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Mesmo após repercussão negativa, o ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa, afirmou nesta quarta-feira (4) que não há “nenhum tipo de desconforto” com o episódio envolvendo a ministra do Turismo, ligada a milicianos no Rio de Janeiro. O problema é do União Brasil que deve descascar sozinho esse abacaxi.

Ah, e o mercado?

A jornalista Helena Chagas, do Brasil 247, comentou a relação de forças entre o novo governo Lula e o mercado financeiro, que já impôs concessões nas negociações da PEC da Transição e agora vem opondo o aumento dos gastos da nova administração federal. Apesar da influência política da Faria Lima no centrão do Congresso Nacional, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o presidente Lula sabem negociar de forma a garantir as principais ambições do novo governo, avaliou Helena. A jornalista alertou, no entanto, que os embates entre a administração federal e o mercado devem aumentar nos próximos meses.

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“A minha aposta é que o Haddad tranquilão aguenta, porque o Lula tranquilão está atrás dele. Ao longo de toda a campanha eleitoral, o Lula foi pressionado a falar mais do fiscal, defender o arcabouço fiscal, encontrar com banqueiros, conversar com representantes do mercado financeiro. Ele até foi no final. Democraticamente foi conversar com todos os setores, mas em nenhum momento na campanha vimos o Lula ajoelhando para beijar a cruz. Ele pode ter feito concessões, conversado e ouvido. Isso faz parte do papel dele, que era de candidato e agora de presidente. Ele é presidente de todos, tem que ouvir todos os setores e tenho certeza que ele vai conversar também com esses setores do mercado. Agora, conversar, ouvir e negociar no Congresso com uma base que sabemos ser do centro para a direita, temos esse complicador. Uma boa parte da base que está no Congresso, esses partidos do centro e do centrão são diretamente ligados ao mercado financeiro. Eles vão estar ali no Congresso representando esse pessoal, como estiveram na PEC da Transição. E o Lula se saiu muito bem nessa negociação. Ele entregou anéis, mas preservou os dedos, a essência do que ele queria: uma PEC para pagar o Auxílio para os mais pobres, porque o compromisso número 1 dele, ele foi eleito para melhorar a vida das pessoas, dos vulneráveis, dos humildes, e ele conseguiu fazer passar essa PEC. Acredito muito nessa capacidade de negociação do Lula e do Haddad também”, disse a jornalista.

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“Haddad é um sujeito extremamente tranquilo na hora de negociar e conversar, mas muito firme também ao não ceder no que é essencial para o país. O mercado vai continuar dando mais chilique, acalmando, dando mais chilique, acalmando… Esses primeiros tempos são uma espécie de teste. O mercado está querendo acuar o Lula, um teste com ele. Claro que não fizeram isso com o Bolsonaro. E quem criou esse rombo de 300 bilhões e fez gato e sapato da responsabilidade fiscal? O Bolsonaro. São dois pesos e duas medidas e há um componente político muito forte nessa queda de braço, mas acredito que tanto o Lula como o Haddad têm muita experiência para lidar com isso”. A informação é do Brasil 247.

Avaliação da coluna

Na avaliação da Coluna ZF, de zero a 10, o governo Lula está tirando a nota 8. Pode cair, pode subir. Para início de governo, está muito boa a aprovação.

A coluna retorna na segunda-feira com mais informações

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