A Ópera de Vinícius no reino de Bolsonaro

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Vinícius Miguel, ex-secretário municipal da Agricultura

 

Em meio aos impasses da Frente Democrática em Rondônia, apresentamos no texto a seguir uma análise do cenário da disputa pelo Palácio Rio Madeira a partir da personagem Vinícius Miguel.

Vinícius Miguel: um político de centro em ambiente polarizado

Quando debutou na política rondoniense como candidato a governador, Vinícius Miguel (PSB), então na Rede,  surpreendeu com uma votação expressiva que lhe garantiu o 4º lugar nas eleições de 2018 com 110.585 votos, sendo que 69.820 destes votos foram obtidos em Porto Velho. Este resultado credenciou Vinícius Miguel como um dos favoritos nas eleições para prefeito da capital nas eleições de 2020, quando foi cortejado por vários partidos, especialmente pelo MDB, mas optou por ser candidato pelo Cidadania com apoio do PDT do senador Acir Gurgacz.

No pleito municipal, entretanto, Vinícius já não empolgou tanto e ficou apenas em 3º lugar com 29.369, representando uma queda de mais de 50% dentre o eleitorado que havia votado nele na eleição anterior. Um dos fatores que podem ter contribuído pra isso foi o distanciamento da esquerda, com Vinícius evitando se manifestar a favor de Lula e flertando com eleitores da direita ao escolher uma militar para ser sua vice. A ideia dele era se posicionar como político de centro, mas em ambiente extremamente polarizado, ser de centro é o mesmo que não ter ninguém ao seu lado. Some-se a isto as fake news disseminadas por milícias digitais que a campanha de Vinícius não teve capacidade de combater, o resultado foi o outrora favorito e crítico mordaz da administração Hildon Chaves (PSB), rendendo apoio ao então prefeito. E se isso já deixou o eleitorado de Vinícius atônito, vê-lo compor o quadro de secretários da gestão peessedebista-bolsonarista arranhou ainda mais profundamente o resto do charme esquerdista que Vinícius um dia teve, fazendo questionar, afinal, qual eleitorado ainda lhe resta daqueles pouco mais de 29 mil eleitores que lhe confiaram o voto?

Alguém poderá dizer, entretanto, que política é nuvem, mas o fato é que para uma disputa pelo Palácio Rio Madeira, Vinícius chega enfraquecido por suas próprias decisões e posicionamentos políticos. O ambiente continua polarizado. Talvez até mais polarizado que em 2020, dado que agora teremos as eleições presidenciais, e nem Bolsonaristas nem Lulistas reconhecem Vinícius como tal, afinal, ele é de Centro, então ele terá que garimpar votos brancos, nulos e indecisos, que correspondem a cerca de 10% da população, e ainda que a Frente Democrática possua força considerável, será necessário um político muito mais posicionado em 1 dos extremos para vencer a máquina governamental.

A tese do reino dividido

Bolsonaro tem dois candidatos fortes na disputa pelo governo em Rondônia. De um lado, Marcos Rocha (União Brasil) , atual governador. Ao que pese ter feito um governo inexpressivo, sem deixar sua marca na história, tem o mérito de ter mantido as finanças de Rondônia no azul e possui a máquina governamental que costuma garantir o atual mandatário no segundo turno.

Vencer a máquina, aliás, é tarefa hercúlea. Requer carisma, preparo e muito dinheiro.
Sabemos, entretanto, que o atual governador foi eleito na onda do fenômeno Bolsonaro,
e neste quesito agora ele tem um concorrente que ficou renomado nacionalmente como o maior defensor de Bolsonaro, o senador Marcos Rogério, que teve atuação vencedora na CPI da Covid-19.

Alguns analistas políticos tendem a pensar que dentre os dois bolsonaristas, apenas um irá ao segundo turno, por entenderem que eles dividirão eleitorado entre si, o que abrirá caminho para um candidato de esquerda. Esta tese é plausível, mas aí é importante salientar que isto abre caminho para um candidato genuinamente de esquerda, não para um candidato de centro.

Se a terceira opção for um candidato de centro, que não assume as bandeiras da esquerda e que não traz Lula em seu estandarte, o que veremos no segundo turno serão dois candidatos bolsonaristas em Rondônia.

Bolsonaro vence em Rondônia

Várias pesquisas têm confirmado a vitória de Bolsonaro no Estado de Rondônia, porém sua vantagem sobre Lula é de cerca de 6 pontos percentuais. Ou seja, podemos dizer que a polarização se faz presente de forma muito forte e dividida em nosso Estado. Não há espaço para quem não se posiciona fortemente também.

Resumo da Ópera

Em tese, Marcos Rocha deverá ir ao segundo turno contando com o peso da máquina governamental, o eleitorado bolsonarista e o dinheiro do grupo Chaves.

Marcos Rogério (PL), por sua vez, é um nome muito mais apreciado pelos bolsonaristas do que Marcos Rocha devido a sua defesa do presidente na CPI da Covid. Além disso, é Marcos Rogério que poderá trazer Bolsonaro ao seu lado, pois faz parte do mesmo partido do presidente. Ademais, Rogério é um político inteligentíssimo e muito bem preparado, tal modo que pode conquistar a preferência dos eleitores bolsonaristas.

Para fazer valer a tese do ‘reino dividido’, a Frente Democrática precisa ter como candidato um político genuinamente de esquerda, que tenha Lula em seu estandarte. Um político de centro não atrairá os votos da esquerda no primeiro turno, que se sentindo órfã poderá optar pela abstenção ou pelo voto de protesto.

Dentre os nomes propostos até então, Daniel Pereira (Solidariedade) é quem melhor representaria um candidato genuinamente de esquerda – apesar de sua atuação no sistema S.

A Vinícius Miguel resta candidatar-se a deputado federal, tal como era seu alegado projeto inicial ao filiar-se ao PSB e ajudar a legenda a conquistar uma cadeira no Congresso Nacional; cadeira esta que poderá ser ocupada pelo próprio Vinícius, que tem mais chances de vencer uma disputa interna com Nazif pela câmara federal do que vencer a eleição para governador do Estado.

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