Os votos dos bolivianos que vivem na Argentina e no Brasil garantiram a margem necessária para a controversa reeleição em primeiro turno do presidente boliviano, Evo Morales.
Nos dois países, a votação dele foi esmagadora (83% na Argentina e 71% no Brasil).
O processo eleitoral foi bastante conturbado neste ano. Pela lei eleitoral boliviana, um candidato vence em primeiro turno em duas situações: se obtiver mais de 40% dos votos e uma diferença de 10 pontos em relação ao segundo candidato, ou se conseguir 50% dos votos mais um.
Durante a contagem dos votos, houve uma inexplicada interrupção temporária da divulgação em tempo real do resultado. Isso gerou uma onda de acusações de fraude pela oposição a Evo.
Morales afirmou que a vitória é constitucional e acusou adversários de tentarem um golpe; o principal rival, Carlos Mesa, falou em fraude, disse que não aceitaria o resultado e convocou protestos pacíficos pelo país. A Organização dos Estados Americanos (OEA) afirmou que só pode considerar o resultado legítimo após uma auditoria solicitada pelo próprio governo da Bolívia.
Até o momento, foram computados 99,99% dos votos, e segundo a Justiça Eleitoral, que anunciou a reeleição do presidente, os votos restantes não seriam suficientes para mudar o resultado.
De acordo com dados do Tribunal Supremo Eleitoral (TSE), tabulados pela BBC News Brasil, Morales teve em território boliviano 2.768.427 votos (46,64% dos válidos) e seu principal rival, o ex-presidente Mesa, teve 2.186.326 votos (36,83% dos válidos), uma diferença de 9,81 pontos percentuais.
A margem que garantiu a vitória apertada e sem a necessidade de uma segunda votação viria do exterior, onde foram registrados 201.629 votos válidos (apenas 3,28% do total).
Os três principais colégios eleitorais bolivianos no exterior são Argentina, Brasil e Espanha, que juntos somam 80% dos votos válidos fora da Bolívia. Morales venceu nos dois primeiros.
Na soma total dos votos válidos na Bolívia e no exterior, Morales teve 47,07% e Mesa, 36,51%.
Protestos e contestações
Protestos na noite de quinta-feira (24) em La Paz, na Bolívia, tiveram confrontos entre manifestantes e policiais — Foto: David Mercado/Reuters
Desde a noite de domingo, dia em que a eleição foi realizada, manifestações pacíficas a favor e contra Morales acontecem nas ruas da Bolívia, além de vários distúrbios e episódios de violência.
Os conflitos começaram naquele dia quando o TSE suspendeu a contagem rápida das urnas de votação, quando a contagem totalizava 83% do total.
Mas 23 horas depois o órgão eleitoral voltou a divulgar os resultados, já com mais de 95% dos votos contados, dando a Morales a vantagem de mais de dez pontos percentuais necessários para vencer no primeiro turno.
Costas disse que a suspensão da divulgação de números preliminares “desacreditou todo o processo eleitoral, causando uma convulsão social desnecessária”.
A União Europeia, por sua vez, cobrou a realização o segundo turno para restabelecer a confiança no pleito.
Fonte: G1