Um Kennedy na linha de frente contra a vacina de Covid-19

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Filho de Bob e sobrinho de ex-presidente americano, Robert Kennedy Jr. é militante ferrenho de campanha antivacinação e ajuda a espalhar teorias conspiratórias.

Entre o grupo que desdenha a corrida da ciência para obter uma vacina e livrar o mundo da pandemia novo coronavírus, há um ativista que se destaca tanto pelo sobrenome quanto por disseminar teorias da conspiração. Terceiro filho de Bob Kennedy, sobrinho do ex-presidente americano, o advogado especializado em direito ambiental Robert Kennedy Jr. é também um proeminente anti-vaxxer, vinculando a imunização ao autismo e a outros distúrbios infantis.

Para isso, ele preside o Children’s Health Defense, um dos principais grupos fornecedores de publicidade antivacinas no Facebook até os anúncios serem removidos, no início do mês, como falso conteúdo. Uma postagem no site do grupo denuncia que vacinas de desenvolvimento rápido são uma mina de ouro para as farmacêuticas e para o governo e que existem terapias eficazes, “mas que não prometem lucros exorbitantes”.

Sua militância ferrenha — já comparou sem evidências os efeitos da vacinação a um holocausto — fez com que outros membros do clã Kennedy se distanciassem publicamente dele, em carta aberta publicada no ano passado. “Ele ajudou a espalhar desinformação perigosa nas redes sociais e é cúmplice em semear a desconfiança na ciência por trás das vacinas”, afirmaram os irmãos Kathleen e Joseph e a sobrinha Maeve Kennedy McKean.

O lobby antivacinação, no entanto, se mantém durante a pandemia do novo coronavírus e reverbera fortemente numa parcela da população, graças à disseminação dessas teorias conspiratórias. Um em cada cinco americanos revelou, em pesquisas de opinião, que não pretende se imunizar contra a Covid-19.

Aos 66 anos, Kennedy Jr. tenta tirar proveito da corrida mundial em torno de uma rápida vacina, alegando que não será a solução para conter a propagação do novo coronavírus. Ao contrário, segundo ele, trará danos assustadores. “Temos mais probabilidade de obter essa solução com drogas terapêuticas.”

Outro de seus alvos é Bill Gates, fundador da Microsoft, que está no campo oposto como defensor da vacinação. Segundo uma das teorias conspiratórias amplamente difundidas desde o início da pandemia, Bill Gates planejaria instalar, com a vacina do novo coronavírus, dispositivos para rastrear os cidadãos. Robert Kennedy Jr. ajuda a fomentar a tese.

Por isso, não causou estranheza a sua presença em Berlim, ao lado de extremistas de direita, que no fim de semana passado protestaram contra as medidas de restrição determinadas pelo governo alemão para combater o ressurgimento do novo coronavírus no país. Manifestantes negacionistas tentaram invadir o prédio do Parlamento e exibiram bandeiras do Império alemão e símbolos neonazistas.

No palanque, Kennedy Jr. lembrou o histórico discurso do tio-presidente, quando esteve na cidade em 1963 em plena Guerra Fria, para alertar sobre o Estado de vigilância, o poder das redes de 5G e também espalhar a falsa tese de que os governos amam tanto as guerras quanto as pandemias.

“Meu tio veio para Berlim porque Berlim era a linha de frente contra o totalitarismo global. E ainda hoje, Berlim está na linha de frente contra o totalitarismo global.” Num momento em que mais de 25 milhões de pessoas foram infectadas pelo vírus, com 850 mil vidas perdidas, o discurso de Kennedy Jr. carece de sentido.

Fonte: G1

Por Sandra Cohen