Txai Suruí é vítima de fake news e ataques de ódio após discurso na COP26

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Circula nas redes sociais uma mensagem que associa fotos de uma mulher se divertindo em festas à ativista indígena Txai Suruí, que discursou na abertura da COP26, em Glasgow, na Escócia, na última semana. Mas ela é #FAKE.

A pessoa retratada nas imagens não é a jovem de 24 anos, fundadora do Movimento da Juventude Indígena em Rondônia, que defende o povo paiter suruí da Amazônia.

“Olha aí a ‘índia brasileira’ que foi falar mal do seu país lá fora, fantasiada de ‘indígena vip’. Essa é a verdadeira fantasia dela: esquerdista gourmet, índia nas horas vagas”, afirma a publicação falsa.

As fotos atribuídas equivocadamente à ativista são de uma moradora de São Luís (MA), que utiliza o perfil @aurora_lincoln2 no Instagram e cujo primeiro post data de 19 de agosto.

Os perfis de Txai Suruí são @txaisurui, no Instagram, e @walela15, no Twitter. No sábado, dia 6, a ativista fez um post dizendo que tem sido alvo de “muitas mensagens racistas e de ódio”. Em entrevista gravada em vídeo, ela afirma que os ataques começaram depois que o presidente Jair Bolsonaro criticou sua participação na conferência climática da Organização das Nações Unidas (ONU).

No último dia 3, Bolsonaro afirmou que Suruí foi à cúpula “para atacar o Brasil” e que isso não acontece em outros países.

“Depois do meu discurso, o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, me atacou. E, por causa disso, agora eu estou recebendo várias mensagens racistas e mensagens de ódio”, diz Txai. “Eu estou aqui para trazer a voz dos povos indígenas.”

No discurso às lideranças globais, em inglês, Txai criticou “mentiras vazias e promessas falsas” e, sem citar diretamente o governo brasileiro, disse que os povos indígenas precisam estar nas decisões sobre as mudanças climáticas. “Tenho apenas 24 anos, mas meu povo vive na Floresta Amazônica há pelo menos 6 mil anos. Meu pai, o grande chefe Almir Suruí, me contou que devemos ouvir as estrelas, a lua, o vento, os animais e as árvores. Hoje, o clima está esquentando, os animais estão desaparecendo, os rios estão morrendo e as nossas plantações não florescem como no passado. A Terra está falando: ela nos diz que não temos mais tempo”, disse ela no discurso, que durou três minutos.

“Precisamos de outro caminho, com coragem e mudanças globais. Não em 2030, 2050, mas agora.”

No Twitter, após os boatos se espalharem, ela disse: “Tem gente que acha que por ser indígena não tenho direito de viajar, de ter celular e de amar quem eu quiser. Mas minha mãe me disse para continuar com minha mensagem de esperança e meu pai me lembrou de que sou uma guerreira da paz”.

As mensagens falsam usam, de fato, o estereótipo indígena para fazer ataques preconceituosos a ela. Diversas lideranças indígenas pelo país lutam para que essa imagem distorcida não seja mais levada adiante.

É #FAKE que fotos mostrem índia Txai Suruí em festas e sem indumentária — Foto: Reprodução

É #FAKE que fotos mostrem índia Txai Suruí em festas e sem indumentária — Foto: Reprodução

NOTA DE REPÚDIO

A Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) vem por meio desta nota prestar seu irrestrito apoio à jovem liderança indígena Txai Suruí, do povo Paiter Suruí, que vem sofrendo diversos ataques após sua forte e incisiva fala na abertura da 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP26), que está acontecendo desde o dia 31 de outubro deste ano, em Glasgow, na Escócia.
Txai Suruí foi a única brasileira e indígena a discursar na abertura da conferência.

Walelasoetxeige Suruí, conhecida como Txai Suruí, nasceu na Terra Indígena Sete de Setembro, em Rondônia, tem 24 anos e é a primeira pessoa do seu povo a cursar Direito. Também é fundadora do Movimento da Juventude Indígena de Rondônia. Txai é filha do cacique Almir Narayamoga Suruí, uma das mais importantes lideranças indígenas do Brasil, e da indigenista e ativista socioambiental Neidinha Suruí, que atua há quase 50 anos na defesa dos povos indígenas e do meio ambiente.

A jovem denunciou ao mundo o crime cometido contra Ari-Uru-Eu-Wau-Wau, liderança indígena assassinada em 2020, em Jaru, Rondônia. Txai também alertou sobre a necessidade da inclusão dos povos indígenas nas decisões e debates sobre o clima. Convocou ainda os líderes mundiais a saírem do discurso e de fato agirem para a proteção das florestas e dos povos indígenas.“Vamos frear as emissões de palavras mentirosas e irresponsáveis. Vamos acabar com a poluição das palavras vazias”, disse Txai.

A fala e o espaço ocupado por Txai Suruí na conferência representa a voz dos povos indígenas da Amazônia e do Brasil. Demonstra a luta que estamos travando nos mais diversos espaços, em defesa de nossos direitos, de nossos territórios, da vida e da floresta em pé. Mas também deixa evidente a violência e o racismo estrutural com o qual lidamos diariamente nesse atual (des)governo, que vem implementando, desde sua campanha, uma intensa agenda anti indígena, além de inflar e apoiar discursos de ódio contra nós.

Leia a nota na íntegra no nosso site: coiab.org.br (link na bio)

Acompanhe a @coiabamazonia nas redes e junte-se à luta dos povos indígenas da Amazônia.

Fontes: G1 e Caioba