“Tsunami” em Porto Velho: barragens construídas estão sob risco de rompimento

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Imagem manipulada e ilustrativa - Foto: Josiel Silva / Rondonia Destaque
magem manipulada e ilustrativa - Foto: Josiel Silva / Rondonia Destaque
Imagem manipulada e ilustrativa – Foto: Josiel Silva / Rondonia Destaque

As hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau estão despreparadas para as possíveis grandes enchentes dos próximos anos na Amazônia e as consequências para a região e sua população são imprevisíveis por falta de estudos adequados à instabilidade climática da área.

A conclusão foi feita na sexta passada, 6 de novembro, durante a audiência pública “Impactos ambientais da instalação das hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau na calha do Madeira”, proposta pelo deputado estadual Dermilson Chagas (PDT-AM), da Assembleia Legislativa  do Amazonas, que promete levar denúncia ao Ministério Público Federal (MPF).

O parlamentar destacou a urgência de medidas que tentem minimizar os prejuízos de ordem social, ambiental e econômica que os municípios da calha do Madeira já estão sofrendo. Na região, moram aproximadamente 200 mil pessoas.

De acordo com o doutor em Biologia do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Philip Fearnside, a falta de uma avaliação séria antes da obra colocou as barragens sob risco de rompimento. O pesquisador explica que os estudos para a construção das hidrelétricas previam apenas as cheias anteriores e não levaram em consideração as mudanças climáticas previstas para o futuro.

“A previsão de mudanças climáticas é de que haverá mais enchentes grandes. O problema é que as usinas foram desenhadas nas enchentes passadas. Na enchente de 2014, chegou no limite. Então, há o risco de que elas não aguentem e se rompam podendo haver uma tragédia em Porto Velho. O vertedouro (servem para escoar água em excesso que chega ao reservatório durante o período chuva) das usinas não tem capacidade para grandes enchentes no futuro”.

Philip Fearnside afirmou ainda que as barragens ao longo do rio Madeira prejudicam a pesca porque diminuíram a quantidade de sedimentos na bacia, o que interfere diretamente na cadeia alimentar dos peixes. Ele fez críticas ao sistema que deveria garantir a migração dos grandes bagres, peixes de valor comercial importante para a região.

“Simplesmente a migração dos peixes foi prejudicada. Os peixes não entraram na avaliação da estrutura feita pelas usinas. Em um caso, o canal construído para que os peixes atravessem as barragens vai parar em um tanque de cimento e daí os peixes são transportados até o lago natural, ou seja, não há migração.  Nas várzeas, abaixo das usinas, a barragem enfraquece o pico da enchente e assim diminui o fluxo de nutrientes para os lagos, o que prejudica a pesca já que a mudança interfere na cadeia alimentar dos peixes”, explicou.

O pesquisador demonstrou preocupação com os estudos que podem resultar na construção de novas barragens na Amazônia brasileira e peruana.

 

O ALERTA FOI DADO NO ANO PASSADO

Há um ano e meio o blogueiro Carlos Henrique Ângelo, titular do Blog do Cha (www.blogdocha.com.br) publicou  um alerta que ninguém gostaria que seja verdade. A possibilidade do rompimento das barragens que contêm as águas do Madeira provocando um verdadeiro tsunami que arrastaria a Usina de Santo Antônio e tudo o que tivesse na frente, chegando em Porto Velho e arrasando 30% da cidade, ocasionando a morte de pelo menos 50 mil pessoas. Veja o relato. É de se preocupae 18 metros, já tendo ultrapassado o histórico nível registrado há um século, e com perspectiva de subir ainda mais em março, é o pior dos problemas. Faltou contudo maior atenção à notificação encaminhada pelo consórcio controlador de Jirau à Agência Nacional de Águas, Ibama e Aneel. No documento, publicado por Valor Econômico, o consórcio Energia Sustentável do Brasil – ESBR adverte que a elevação do nível da lâmina d’água de Santo Antônio para além da cota de 75 metros. Isso estaria comprometendo as estruturas da barragem de Jirau.

A gravidade da situação não parece ter sido levada ainda em consideração no estado, até porque as duas usinas vivem em permanente conflito, especialmente por questões de ordem financeira. Problemas ambientais nunca passaram da condição de secundários nas preocupações de ambos os empreendimentos. Pode ser que também agora a carta distribuída pelo consórcio seja apenas mais uma jogada daquelas que antecedem a mais um avanço nos cofres do BNDES. Mas pode ser que, agora, a situação seja realmente grave e a estabilidade da barragem esteja realmente em situação de risco.
Pode-se imaginar o que aconteceria em Porto Velho na eventualidade do rompimento da barragem. Técnicos do Indam, que advertiram para a necessidade de consideração dessa possibilidade, afirmam que caso isso aconteça, em exatamente sete horas a barragem de Santo Antônio seria atingida por um verdadeiro tsunami ao qual não conseguiria resistir. O resultado iria atingir pelo menos 30% de Porto Velho, com algo em torno de 50 mil mortes. A hidrelétrica de Jirau passaria a ser conhecida internacionalmente pelo seu verdadeiro nome: “Caldeirão do diabo” – a localidade de Jirau está situada a três quilômetros da barragem.
O documento do ESBR foi minimizado pelos dirigentes de Santo Antônio, para quem a mesma água que entra é a que sai da barragem. Mas o Consórcio afirma que a autorização concedida pelo Ibama, dá conta de que a altura máxima suportada por Jirau é de 74,8 metros em relação ao reservatório da usina de Santo Antônio.
Esta, no entanto, estaria operando com um reservatório que já teria ultrapassado a cota de 75 metros. “Tal fato, além de não respeitar o limite estabelecido por imposição do projeto estrutural da usina de Jirau, está ocasionando diversos impactos na estrutura do empreendimento e demais existentes no canteiro de obras”, alega o ESBR no documento.

Segundo o consórcio, o reservatório de Santo Antônio já chega a comprometer, inclusive, o sistema de transposição dos peixes, um tipo de escada de concreto por onde os peixes sobem a corredeira do rio. A situação estaria comprometendo até a instalação de novas turbinas de Jirau, por conta de “consequente inundação de toda casa de força, devido à pressão sobre a mesma, para a qual não está dimensionada”. O consórcio ESBR pede, no documento, o imediato esvaziamento do reservatório, para que a situação volte ao normal, pelo menos dentro do que é possível dizer, considerada a anormalidade da elevação das águas do Madeira.

Mais RO comn informações de A Crítica de Manaus e Blog do Cha

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