Teatro de RO de luto: morre Alejandro Bedotti

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PORTO VELHO- O câncer no esôfago venceu a batalha. Faleceu no início da noite de ontem, 18, em Porto Velho, no Hospital do Amor onde estava internado, o multiartista Alejandro Bedotti.  Argentino, radicado no Brasil, deixa os filhos Ulisses e Thalia. O também psicólogo era mímico, teatrólogo, roteirista, diretor de cinema dentre outras habilidades. Atuou como Repórter Abóbrinha no  documentário “Porto das Esperanças” , de Beto Bertagna, no início dos anos 90.  “Era meu amigo desde 1980, quando chegamos em terras rondonienses e dividimos mesas, cervejas e boas conversas. Não há mais palavras neste momento, o mundo ficou muito mais triste”, postou o cineasta Beto Bertagna.

Quem acompanhava a luta pela vida de Alejandro Bedotti era o filho dele, Ulisses Bedotti, que postava nas redes sociais a evolução do tratamento que estava na fase de quimioterapia. “Vamos partir para o mais difícil , químico ou radioterapia. Vamos alinhar seus rins para ficar show de bola. Agora vamos depender da vontade do nosso senhor Deus. A batalha continua contra câncer do esôfago”, postou Ulisses há um mês.

Um resumo de quem foi esse grande homem (extraído de entrevista na íntegra)

1. Alejandro Ulises Bedotti, nascido em Buenos Aires – Argentina em 1954, estudou Teatro na Escuela de Teatro em La Plata -Argentina

2. Chegou  em Rondônia em 1979, na época do Governo Militar – Ditadura.Começou a trabalhar no SESC em 1980, demitido  no mesmo ano, o que me fez sair do país para uma viagem de Teatro por Manaus, Boa Vista, Barbados, Guiana, Suriname, Belém, retornando a Porto Velho, por ocasião da passagem a Estado.

3.Enfrentava a repressão vigente com se podia, passando nos anos 70 por países como Argentina, Chile, Bolívia e Peru com o Grupo Del Silencio, fazendo cursos, palestras, teatro de Mimica e Bonecos. As peças eram: Historias Para Mirar (adultos) e De Todo Un Poco (crianças)..A primeira obra vinda do Rio de Janeiro foi Panelândia, de bonecos, anos 80 que juntamos atores daqui, ficamos em cartaz, coisa inédita na cidade, na Biblioteca Francisco Meireles durante os fins de semana

4. Grupo Cipó e Grupo Quebracabeça. em Rondônia, sendo o último, nascido no Sesc de Porto Velho em 1982 e em funcionamento até hoje. As relações foram, ora de trabalho, ora de embates culturais. Com o advento da Federação, os Grupos se organizaram em atividades de Palco, de Rua e de Escolas.

5. Participou da Federação, integrando sua diretoria juntamente com os Grupos locais, como o Porantim, da peça PintaFú, Água de Chucalho, Grupos de Ariquemes, Vilhena, Ji-Paraná , Cacoal e Rolim de Moura.6.

7.Entre os anos 80 e 90 as Políticas Públicas aconteciam na marra, porque os Grupos, com seus integrantes na maioria funcionários públicos, se articulavam, fortemente, em seus setores em prol dessa conquista.Os Grupos começaram a atuar com mais frequencia nas ruas e praças, divulgando seus trabalhos e a população ia conhecendo nossas produões e nossas lutas pelo crescimento teatral de nossas cidades, Criamos festivais e mostras no Estado, dávamos cursos de Teatro  e implantação do Ensino de Teatro nas Escolas.No ano 2000, me formei em Psicologia e minha ocupação, até hoje ,é como Psicólogo.

8. O Grupo Cipó nasceu da montagem de Rio que Rio É Gente de minha autoria, nos anos 80, onde convocamos os atores de outros grupos que atuavam na nossa cidade para a montagem de um Teatro Regional. Com esta peça participamos do Mambembão em 1981 em S.Paulo e Rio. Fizemos uma apresentação em Cuiabá no Teatro da Escola Técnica.

O Quebracabeça. como foi dito nasceu no SESC e tambem foi apresentado também em S.Paulo com a peça A Banda Picolé, Dr. Tijolo e a Turma sem Miolo de minha autoria. Depois vieram Natal Amazônico, Falou Bicho, A Maravilhosa Estória do Sapo Tarô Bequê de Marcio Souza, criação do Circo Arco-Iris, do Teatro Camaleão, os dois de lona(costuradas por mim mesmo)

Como funcionario da Unir no Setor de Teatro, Teatro Sala Trinta, equipado pelo Grupo (Bedotti e Angela entraram com o dinheiro, junto com a infra da UNIR). Estréias significativas como Navalha na Carne de Plinio Marcos, O Moço que Casou com Mulher Braba, um texto medieval, Revolução na América do Sul de Augusto Boal, direção conjunta com o Grupo e Angela, peças de Eliana Ganem-Faustino, A Princesa Engasgada, Os Saltimbancos, Teatro de Sombras,

Leituras Dramatizadas de Senhorita Júlia, Mãe Coragem  de Brecht, O Seringal de Bernarda,adaptação de A Casa de Bernarda Alba de Lorca.

9. Sempre tentei criar textos de cunho politizado e social, na direção, faço questão de obedecer minhas prioridades culturais e sociais.

10 Sempre vivemos falta de atores e público em nossos espetáculos. Mas insistimos  e relevamos esse fator, porque o que falta é o conhecimento do que seja Fazer Teatro e solidificarmos esta Arte como algo imprescindível ao desenvolvimento social e humano de uma Comunidade. Público existe, o negócio é dar acesso a esse público aos espetáculos. Parece lugar comum, mas temos que ir onde o público está e facilitar ao  que ele tem direito, ver qualquer trabalho em todos os ambientes cênicos.11. hoje minha primeira atuação e ser psicólogo na Audioclin . Não dá tempo de dedicar-me ao teatro como gostaria.

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