Solo de dança aborda abuso sofrido por ribeirinhos em Rondônia

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soloSolo de dança aborda abuso sofrido por ribeirinhos em RondôniaManaus – O solo de dança contemporânea ‘Recolon’, que mistura a modalidade de desfiguração com a temática da ‘recolonização’ dos ribeirinhos de Porto Velho, foi contemplada pelo Prêmio Funarte de Dança Klauss Vianna. A montagem do espetáculo, que está prevista para estrear em 2016, é assinada pelo artista manauara e estudante do curso de Teatro da Universidade do Estado do Amazonas Leonardo Scantbelruy.

Com interlocução das bailarinas Elisa Schmidt, de Florianópolis, e Gilca Lobo, de Porto Velho, o espetáculo tem como eixo norteador a desfiguração do intérprete, no caso, Leonardo, por meio da pasta de macaxeira. “A escolha da pasta de macaxeira é justificada pela sua ação alusiva ao remanejo e desfiguração do ribeirinho por conta das construções das usinas hidrelétricas em Porto Velho”, explicou o artista.

Segundo Scantbelruy, apesar de a pasta da macaxeira não ter sido sua primeira opção como agente desfigurante, ela acabou prevalecendo por motivos estéticos.

“Experimentamos primeiramente com a goma de tapioca, mas ela tinha um efeito muito efêmero, trocamos pela pasta e a decisão foi acertada. A pasta é maleável, ela nunca será a mesma coisa. Em cada apresentação ela assumirá diferentes formas, resultando em diferentes leituras por parte do público”, afirmou.

Inspirado pela série hibrida de pintura, fotografia, escultura e performance, intitulada ‘Transfiguration’, criada pelo artista Olivier de Sagazan, em 2001, na qual o artista, nascido no Congo, em 1959, propõe a desfiguração por meio da argila e tinta, Leonardo Scantbelruy conta que a temática para o espetáculo surgiu a partir de suas raízes e laços criados por Porto Velho no período em que morou no município.

“Eu já tinha o argumento, que era trabalhar a questão dos ribeirinhos sendo devastados pelas usinas hidrelétricas, mas a forma de como isso seria abordado só me surgiu em setembro do ano passado, durante uma oficina ministrada pela Elisa (Schmidt) sobre desfiguração”, relembrou Scantbelruy, ressaltando que Elisa estudou cerca de três anos na França com o próprio Sagazan.

No momento, Scantbelruy conta que está trabalhando no processo de aprimoramento técnico e estético do seu espetáculo, que inclui, até mesmo, extensas e profundas pesquisas bibliográficas. “Através de vídeos gravados e enviados para a Elisa, estamos definindo qual a nossa delimitação, as questões corporais e as tendências que utilizarei na montagem final. Há também de se definir o diálogo da sonoplastia com a iluminação ainda”, contou o estudante.

Sobre o Prêmio Funarte, Leonardo disse estar honrado. “Ser contemplado pelo prêmio é algo único. Um prêmio é um dos pouco meios de um artista se manter ativo, produtivo e reflexivo”, concluiu.

Com estreia prevista para junho do ano que vem, em Manaus, Scantbelruy deverá seguir com ‘Recolon’ para Florianópolis e Porto Velho. E, a exemplo de Sagazan, o público pode esperar um espetáculo desconstrutivista, animalesco, filosófico e um tanto macabro.