RONDÔNIA: Guerra de atrito para a Câmara Federal

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JOSÉ BUENO (*)

O deputado federal está para o seu partido como o sol está para o sistema solar: sem ele não existe partido. Por isso o maior esforço e foco dos partidos é pela eleição de deputados federais, acima de qualquer outro.

Em Rondônia, o cenário atual aponta para severas mudanças na dança das cadeiras, talvez a maior das últimas legislaturas. Os indicadores dessas mudanças começam com o líder em 2018, o deputado federal Léo Morais, que marcou quase 70 mil votos e anunciou sua pré-candidatura ao governo.

Nesse cenário de pré-candidaturas, ou seja, tudo ainda pode mudar até o dia 5 de agosto, a mexida é forte: Mariana Carvalho (Republicanos), com 38 mil votos em 2018, agora quer o Senado, a mesma pretensão de Jaqueline Cassol (PP), que teve 34 mil votos.

Hoje, o único imexível na lista de 2018 e virtualmente reeleito – por enquanto – é o deputado federal Expedito Netto (PSD), 40 mil votos e o único com gestão profissional em sua carreira parlamentar. Segue firme se não deixar os defeitos do pai – mão grande e cobiça – lhe abater.

Mas, o que é que está tornando o cenário da disputa para a Câmara Federal tão volátil e incerto? Mudanças na legislação eleitoral, mais intensas em Rondônia porque ocupamos a lista dos estados com as mais altas taxas de quociente eleitoral.

Mauro Nazif (PSB), por exemplo, 30 mil votos em 2018, persegue desesperadamente uma nominata que lhe permita atingir a alta taxa percentual do quociente eleitoral de Rondônia (12,5%), com o complicador da mudança no cálculo das sobras. Aliás, eleição, antes de política, é matemática.

Essa mudança mais a alta taxa do quociente vai afetar diretamente as intenções de reeleição do deputado federal com menos votos em 2018, o paquidérmico e incompetente coronel Chrisóstomo. Eu considero esse biltre fora do páreo.

Com Léo Moraes (Podemos), Jaqueline, Mariana e o coronelzinho fora da disputa pra federal, temos metade dos assentos na Câmara Federal ou 50% disponíveis para a disputa. Dos outros 50%, Expedito Netto já abocanhou 12,5%. O que sobra, 62,5%, será disputado por Mauro Nazif, Lúcio Mosquini (MDB), Silvia Cristina (PL) e mais cerca de 200 pré-candidatos a federal.
Entendeu? Esta eleição será como uma guerra de atrito: cada voto será disputado no grito, no tapa, na voadeira. Se na reta final das convenções Leo, Jaqueline e Mariana desistirem de suas atuais pretensões, será uma guerra nuclear.

Considerando que o governador de fato, chefe da Casa Civil, juntou alhos e bugalhos no mesmo caldeirão, a guerra por votos neste grupão será como famintos disputando comida espalhada no chão: será dedão no tororó de um no outro.

Os partidos precisam desesperadamente de deputados federais para poderem sobreviver na Câmara Federal. Os nanicos são os mais vulneráveis e a debandada para um lugar ao sol diante da avassaladora mudança provocada pelo PL, União Brasil, PP e PSD, tornaram o ambiente hostil nos estados.

Juntando isso com os novos blocos partidários na Câmara Federal, o surgimento das federações partidárias, e a existência das coligações brancas ou nem tanto, o caldo eleitoral ficou muito mais apimentado.

O PL do presidente Bolsonaro, agora é o maior partido da Câmara, com 78 parlamentares, e o PT tomou o segundo lugar com 56 e o PP com 52.

O União Brasil, fusão do PSL com o DEM, agora conta com 47 deputados, mas quem manda mesmo é o Centrão (PL, PP, Republicanos), com 168 deputados.

O MDB, que antes tinha uma posição semelhante à da rainha da Inglaterra, agora com 38 deputados, se debate para não perder sua majestade, pois foi ultrapassado pelo PSD, com 48.

Os que mais perderam deputados foram PSB, PDT, PTB, PSDB e Podemos. Os cerca de 15 partidos nanicos com menos de 10 deputados, foram os que mais mantiveram equilíbrio em suas perdas e, por isso mesmo, precisam lutar muito pra poderem manter seu espaço.

Todas essas mudanças geraram fortes impactos na estrutura político-partidária e eleitoral em Rondônia. E alguns desses impactos estão gerando muitos conflitos, traições, tapetões e safanões, pois os interesses são imensos.

Nada, absolutamente nada está fechado, garantido, com “prego batido e ponta virada”, como afirmou o governador de plantão, chefe da Casa Civil em seu delírio de arrogância.

(*) José Bueno é consultor político