Rondônia é o estado que mais desmatou em territórios com povos indígenas isolados, em setembro

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Dados da última edição do boletim Sirad Isolados apontam que a invasão na Terra Indígena Uru-Eu-Wau-Wau (RO) cresceu 500% em setembro, ameaçando os indígenas isolados que ali vivem

O desmatamento em territórios com povos isolados aumentou em 54% no mês de setembro, totalizando 250 hectares, de acordo com o boletim Sirad Isolados, monitoramento independente do Instituto Socioambiental (ISA). Outras ameaças como incêndios criminosos e garimpo ilegal também avançam nestes territórios e seus entornos.

O boletim destaca que a Terra Indígena (TI) Uru-Eu-Wau-Wau, a maior do Estado de Rondônia, foi a mais ameaçada em setembro. Foram identificados aproximadamente 83 hectares desmatados, um aumento de 538% em relação ao mês anterior, evidenciando que a atividade ilegal continua crescendo e não há qualquer ação de controle e de combate à atividade ilegal.

Leia na íntegra.

Em 2021, os meses de julho e setembro foram os que registraram mais ataques na TI Uru Eu Wau-Wau. No meio do ano, duas grandes áreas foram invadidas e, agora, foram descobertas queimadas nesses locais. Sem vegetação a terra está pronta para a chegada da soja, da pastagem e de grileiros.

Segundo o Ministério Público Federal a TI Uru-Eu-Wau-Wau é o segundo território indígena com mais propriedades e imóveis irregulares cadastrados em sobreposição à Terra Indígena: 805 no total. Os grileiros não pagam pela terra, mas alegam que é deles pelo fato de o lote estar inscrito no Cadastro Ambiental Rural (CAR) – que é autodeclaratório e não está ligado com a posse direta do terreno. Os detentores destes lotes têm a expectativa de conseguir regularizar e legalizar a terra por meio de um título de posse que possam requerer no futuro. Desde o início do ano já foram desmatados 322 hectares no interior dessa TI, o que equivale a 185 mil árvores derrubadas.

Invasões avançam

Outros territórios com presença de povos isolados também estão ameaçados. Na Terra Indígena (TI) Piripkura (MT), os ataques não param e novas áreas de desmatamento avançam em direção ao interior do território. Em setembro, foram identificados 41,6 hectares desmatados e chama a atenção uma nova área desmatada de 24 hectares, a 1,5 metro do limite do território. Ainda de acordo com o boletim de setembro, este desmatamento pode crescer. Desde agosto de 2020, quando o território passou a ser alvo intenso dos criminosos, 2.361 hectares foram desmatados.


Invasões ameaçam a sobrevivência de Baita e Tamandua, indígenas isolados que vivem na Terra Indígena Piripkura

A TI Piripkura, entre os municípios de Colniza e Rondolândia, em Mato Grosso, é uma região com numerosos conflitos relacionados à extração ilegal de madeira, roubo de terras públicas e mineração, além de uma forte pressão para que a Terra Indígena não seja demarcada. A nova portaria de restrição de uso, com duração de apenas seis meses, pode ser uma oportunidade para que grileiros roubem ainda mais terras, uma vez que a portaria, de tão curta, não garante o tempo necessário para ações de retirada dos invasores.

O monitoramento do ISA identificou ainda um grande ramal de desmatamento crescendo em direção à Terra Indígena Pirititi, localizada em Roraima. No total, já são 129 hectares devastados muito próximos dos limites do território. Com a proximidade do vencimento da portaria de restrição de uso dessa terra por parte da Funai, que protege o território, as ameaças se intensificaram.

Na Terra Indígena Munduruku, o avanço do garimpo continua e parece longe de cessar. Embora ações de fiscalização tenham acontecido em 2021, lideranças indígenas falam sobre a pouca efetividade das operações. Foram identificados 75 hectares desmatados em setembro, um aumento de 240% em relação ao mês anterior.

*A reportagem é do Instituto SocioAmbiental

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