PSL Rondônia cava sua vitória de Pirro – Parte 1

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Percival Sanchez, de Brasília

Parafraseando Pirro, rei da Macedônia, após uma grande batalha: “mais uma vitória como esta e estamos perdidos”. Pois este é o cenário pós batalha eleitoral que consagrou o PSL em Rondônia. Decorridos quase um mês do pleito final, líderes e partidários da sigla não sabem o que fazer com o butim. Como se não bastasse a falta de liderança, cérebros e um grupo estruturado e dirigente para dar conta da gigantesca responsabilidade, o PSL é menos que um arremedo de organização partidária e que cava sua vitória de Pirro aceleradamente: ganharam, mas podem não levar. Isto é pior que perder. Aliás, mais que cavar sua vitória de Pirro, cavam a própria cova.

17: a sedutora roleta midiática

Explica-se: desde a campanha os sinais de desacertos internos, conflitos de poder e interesse, incompetências e inconsistências têm feito do PSL um balaio de gatos e ratos atados a nada, porque nem projeto de verdade o partido tem, como é público. E não me venham com a conversa fiada de que seus integrantes lutam por um país ou uma Rondônia melhor. Menos gente, muito menos. Perguntado a milhares de eleitores em quem votariam para presidente no segundo turno, um uníssono 17. Repetida a pergunta para governador, um uníssono 17. Perguntado ainda mais se conheciam Marcos Rocha, seu projeto, suas ideias, um uníssono preocupante: é Bolsonaro, então é ele! O eleitor, num misto de irresponsabilidade e sedutora roleta midiática, jogou tudo no 17. E convenhamos, escolher governador como se fosse uma roleta é o que Rondônia menos precisava numa hora dessas.

O próprio veneno já consome o PSL

Poucos sabem quem é Marcos Rocha,eleito não por seus feitos, inexistentes, mas por ser simplesmente do PSL do Bolsonaro que, diga-se de passagem, apenas tolera o novo governador. O preço de tamanha ignorância política avizinha-se alto para um estado que já conta mais de 40% da população formada por pobres e miseráveis que não sabem o que vão comer hoje. Se é que vão comer. As cenas, ações e decisões, ridículas e pesadamente maquiadas de incompetências e traições, enxertaram o PSL de Rondônia do veneno que lhe consome por dentro, em insuspeito silêncio, quando conseguem fingir de morto. Os tapinhas nas costas, os vídeos e declarações de congraçamento, perdão e vozeirão, são apenas cenas de uma peça teatral sem direção, sem roteiro, sem atores, mas com fila imensa de patrocinadores.

Na transição já começou a decepção

No quase segredo das reuniões da transição, já se sabe que o PSL não sabe sequer o que quer e os integrantes da equipe, mais que trocar pés por mãos, não sabem distinguir econômico de financeiro, projeto de planejamento e desconhecem, em profundidade abissal, aonde se meteram. O preço de tamanha incompetência veremos a partir do dia primeiro de janeiro. Mas isto não é nem o começo. Esta semana Bolsonaro já avisou para todos os governadores: não tem dinheiro. E em Rondônia o que mais será preciso é dinheiro, pois o orçamento para 2019 já está integralmente comprometido. Marcos Rocha terá apenas alguns centavos para brincar de governador. Além disso, já tem sobre si vigilância dobrada de órgãos de controle, cujos integrantes ele traiu acintosamente em passado não tão distante. Poucos sabem, de fato, quem é Marcos Rocha, mas quem sabe, já sabe o que vem pela frente. Ou por detrás?

Federal garantido, Estadual perdido

E o PSL sofreu mais duas derrotas esta semana. Primeiro, o papagaio falante que responde pelo nome de Sargento Eyder, fez um vídeo anunciando que o TSE havia garantido sua eleição quando, na verdade, garantiu apenas a do deputado federal coronel Chrisóstomo, que nos bastidores do TSE quase precisou de socorro médico durante a votação. E a lista de ações de disputa pelas vagas na ALE já passou de uma dezena e mais cabeças podem rolar antes da diplomação, ou até depois. Mais do que aritmética eleitoral, o que está em jogo é a competência jurídica de advogados eleitoralistas. Os que escolheram neófitos, já trocaram de fraldas uma dúzia de vezes. Não bastasse isto, na primeira oportunidade eleitoral para conquistar uma prefeitura, a de Rolim de Moura, o PSL derrotou seu próprio candidato, o vereador Uender Nogueira, por divisões internas insanáveis. Isto indica que 2020 será um desastre para o partido, mais que partido, dividido, e que caminha para o patíbulo.

E o comando do partido?

Marcos Rocha já disse a interlocutores que não abre mão da presidência, que tomou num golpe conhecido e vivenciado por poucos, que tem não apenas testemunhas, mas gravações e documentos. Essa historinha que conhece Bolsonaro há décadas é fake news daquelas bem sem-vergonhas. Vê-se como lhe falta cultura política. Isto vai prejudicar e muito o PSL. De outro lado, o deputado federal eleito, coronel Chrisóstomo, que seria o natural presidente, está apático, imobilizado, como se Marcos Rocha o tivesse sob os pés. Uma fonte presenciou uma ligação do presidente do PSL, Antônio Bivar, para o deputado Chrisóstomo, e o líder nacional da sigla teria afirmado em alto e bom som que, a partir do dia primeiro de novembro, ele seria o novo presidente do partido. Novembro vai acabar logo e a palavra dada não sobreviveu à realidade. Ou Bivar não tem palavra ou Chrisóstomo não tem estofo político. Ou pior: não sabe qual o poder de um deputado federal. Sabe-se que em uma reunião a portas fechadas com Marcos Rocha e Chrisóstomo, Bolsonaro teria dito: “Coronel – dirigindo-se a Chrisóstomo – eu não quero governador, eu quero e preciso eleger deputado federal, governador existe só pra pedir e deputado federal é pra me ajudar”. Parece que a falta de cultura política, de posicionamento, de capacidade e liderança, criou um vírus inoculado no PSL Rondônia.