Presas ou em liberdade mulheres afirmam que o maior presente de suas vidas são os filhos

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Emily Teixeira teve a primeira filha, Jenifer, um dia depois de completar 18 anos
Emily Teixeira teve a primeira filha, Jenifer, um dia depois de completar 18 anos
Emily Teixeira teve a primeira filha, Jenifer, um dia depois de completar 18 anos

A ciência, com todo avanço, ainda não pôde tirar da mulher o poder de gerar e parir, o que conserva o dia das mães como uma data especial, lembrada por homens e mulheres que se deixam contagiar com a magia deste mistério.

Na maternidade do Hospital de Base, onde nascem mais de 300 bebês por mês, encontram-se todos os tipos de sentimentos. Mães de primeira viagem ou do sexto filho. A emoção pode não ser a mesma, mas é sempre verdadeira. Cada gestação tem as suas peculiaridades, assim como cada filho.

São mães em plena adolescência, como Renata, que aos 12 anos já teve seu primeiro filho; ou Emily, que recebeu de presente de 18 anos a pequena Jenifer. Maria Catiana, de 32 anos, está grávida de nove meses e espera para qualquer momento o nascimento do filho. E ela  corre o risco de tê-lo consigo apenas nos seis primeiros meses, porque está no Presídio Feminino, Mas para todas elas nota-se um significado especial no dia das mães. “Amor e carinho são a receita básica para bem criar os filhos”, destaca Marlene Frata, 41 anos, mãe de quatro filhos, que acompanhava a filha mais velha  no parto do primeiro neto.

Mercilane Pereira  Frata, de 21 anos, precisou deixar Presidente Médici para salvar o bebê na 37ª semana. “Quando o médico falou que era grave, e que meu filho poderia morrer, deixei tudo pra trás e vim”. A jovem mãe está na categoria de primeira viagem, mas tem certeza que vai dá conta do  recado com maestria. “Trabalhei como babá e praticamente ajudei a criar cinco crianças”, relatou.

Ansiosa pela chagada de João Vitor, Marcilane não quis ser fotografada porque estava se sentido abatida, por isso a foto não ficaria boa. Mas fez questão de ressaltar que se uma mãe proporciona uma boa orientação ao filho, se lhe dá amor e carinho, ele certamente será um bom cidadão. Marlene Frata também não escondia a ansiedade de ver o rosto do primeiro neto.  “Marcilane é uma boa filha e por isso penso que será uma mãe bem zelosa. Mas se precisar vou estar aqui para ajudar”, disse. Para ela cada dia está mais difícil criar filhos. “Falta respeito, falta amor”.

“O amor é essencial, não o permissivo, mas aquele onde se ensina a criança o certo e o errado e se dá o exemplo”, explica a futura vovó.

Três gerações: avó, filha e neta., juntas para celebrar o dia dedicado às mães

Emily Freitas Teixeira, de 18 anos, foi encaminhada ao Hospital de Base depois que o médico que a atendia em Buritis percebeu riscos para a criança e para a mãe; e devido à falta de recursos mais específicos. Jenifer não demorou para chegar, Emily completou maior idade no dia 27 e no dia seguinte já estava com a filha nos braços. Feliz,  a jovem mãe já imaginava o seu primeiro dia das mães. “Para minha filha, os meus melhores sonhos”.

Ela estava amparada pela mãe, a técnica de enfermagem Rosângela de Freitas,  de 34 anos, que salientou que a filha, apesar da pouca idade é muito madura, e que até se casar ajudava em casa no cuidado com as irmãs de 4 e 14 anos. “Falar em dia das mães é se perder um pouco num dia que virou comercial. Acho que um abraço sincero pode fazer uma mãe mais feliz do que se recebesse um presente caro”, considera.

Rosário Cruz Castro veio de Humaitá para acompanhar a sobrinha, Lucélia Cruz Silva, de 21 anos. Falar em dia das mães para ela, é lembrar o melhor dia do ano, em que toda a família se reúne em Humaitá em torno da matriarca, Francisca da Cruz, de 91 anos, mãe de 16 filhos, netos, bisnetos e tetranetos para uma grande confraternização.  Rosário  conta que a mãe continua  lúcida e com excelente visão depois da cirurgia de catarata. “Ela até faz costuras manuais e tece tapetes de retalhos sem usar o óculos. Além disso,  cobra a presença de todos os descendentes no dia das mães e gosta muito da atenção de todos. O dia das mães é a nossa melhor festa em família”, afirmou.

Lucélia esteve grávida de gêmeos. Um  teve morte intrauterina, mas a gestação teve continuidade sob cuidados médicos. Na trigésima semana Nicolas foi retirado. A mãe estava conformada, apesar de o bebê permanecer na Unidade de Tratamento Intensivo. “Ele tem tudo pra se recuperar e crescer forte”, destacou.

Em casa, outras duas crianças aguardavam pela mãe e o irmão, uma de sete e outra de dois anos. “Quero que meus filhos tenham tudo o que eu não tive”. A lembrança do filho perdido Lucélia diz que vai guardar pra sempre e vai se lembrar não só no dia do aniversário, mas muito mais no dia das  mães.

Renata e Isaque: a diferença de idade entre eles é de 12 anos

Elaine Garcia, de 22 anos, mora em Guajará Mirim, e afirma que não sabe nem o que falar. Ela vai passar o dia das mães longe de casa, onde tem uma criança de quatro anos. “Vou continuar aqui até que meu bebê receba alta”. A criança  está na UTI e se recupera do nascimento prematuro. “O que eu mais quero agora é reunir minha família e ficar bem juntinho de todos”.

Vítima de hepatite A, Elaine conta que a criança nasceu na 29ª semana. “Acho que ser mãe é um pouco disso, mesmo dividida ficar inteira para cada filho”.

R. mora na zona Sul de Porto Velho, e aos 12 anos teve o primeiro filho de parto normal. Sem nenhum acompanhante, as vizinhas de enfermaria ajudavam a cuidar do pequeno Isaque. Sobre a mãe, Renata apenas disse que sabe onde encontrá-la, mas não quer fazê-lo. Atualmente mora com a irmã, que tem 14 anos e uma bebê de dois meses. A adolescente contou que a notícia de ser mãe foi uma boa surpresa. “Eu queria muito”.

SEM LIBERDADE

Na Penitenciaria Femininas mães têm o direito de permanecer com seus filhos até que completem seis meses de vida. A maternidade dá a elas alguns privilégios, como deixar a cela. No berçário, elas amamentam e cuidam dos filhos, que são levados aos postos de saúde para vacinação, ao médico para consultas de rotina ou emergência. No período final, caso não haja parentes com condições de receber a criança, a mesma é levada para uma instituição onde aguardará adoção.

Maria Catiana  Nery tem 32 anos e está presa há duas  semanas. Grávida do sexto filho, ela aguarda o nascimento para qualquer momento. “Gostaria muito de estar em casa com minha família, mas infelizmente vim parar em um lugar que nunca havia imaginado que estaria”. Segundo ela, seu crime foi permanecer em casa quando a policia chegou e apreendeu uma quantidade de drogas em casa. “Meu marido fugiu e eu fui responsabilizada, mas não tinha nada a ver com a mercadoria”, relatou.

Os filhos de  15, 14, 10, 7 e 3 anos estão com familiares. “Se eu não conseguir sair, vai ser muito triste este dia das mães”. Catiana também é avó de uma menina de um ano e meio. Mandei uma carta pra eles e quero muito ir para casa”.

A saudade dos quatro filhos fez Simone chorar

Simone Pereira Santos, de 29 anos, tem quatro filhos e está presa  há quatro meses. Seu delito: assalto a mão armada. A vida de Simone mudou de curso aos 26 anos, quando foi experimentar uma pedra de craque. “De lá pra não larguei mais”. Ela diz que pensa nos filhos e que apesar dos erros sempre esteve junto com eles, mas agora sequer recebe notícias. “Sei que estão sendo cuidados pela família”.

Sentenciada, Simone ganhou o benefício do regime semiaberto, mas no primeiro dia tentou fugir pulando o muro. Caiu, quebrou o pé na região do calcanhar e perdeu o direito ao benefício. “Queria sair pra ver meus filhos”. Ela diz que se preocupa especialmente com o mais novo, que tem 4 anos. Além desse, tem um de 11, 10 e 8 anos. Para Simone, passar o dia das mães sem a presença dos filhos vai ser muito triste, mas ela espera voltar  para casa e nunca mais viver esta situação.


Fonte
Texto: Alice Thomaz
Fotos: Daiane Mendonça
Decom – Governo de Rondônia