Peixe de Rondônia abastece Manaus: livre da doença da urina preta

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Feirantes da Manaus Moderna reclamam da repercussão que a ‘doença da urina preta’ teve sobre as vendas (Foto: Murilo Rodrigues/ATUAL)

PORTO VELHO- Manaus vem sofrendo um surto da Síndrome de Haff (Doença da Urina Preta), ou rabdomodiólise, segundo estudos preliminares, oriunda de peixes dos rios consumidos na capital do Amazonas. Porém, hoje 90% dos tambaquis vendidos nas feiras de Manaus é de viveiros Porto Velho (RO) ou de Boa Vista (RR), portanto, livre da contaminação. Em nota, a ACRIPAR – Associação de Criadores de Peixes de Rondônia, garante que o consumo do tambaqui cultivado é seguro para a saúde humana, seguido todos os protocolos técnicos ao longo da cadeia produtiva até o consumo.

“Mais de 95% do peixe produzido pelo Estado de Rondônia vêm de fazendas de cultivo e esta doença, além de ser de rara ocorrência e não estar associada ao peixe cultivado, demonstra que o consumo de pescado proveniente da piscicultura é seguro, pois toda a cadeia de produção toma os cuidados necessários para garantir a alta qualidade do pescado por meio da sanidade ambiental, a nutrição nas criações até chegar ao consumidor final. Assim, é possível afirmar que o consumo do tambaqui cultivado é seguro para a saúde humana, seguido todos os protocolos técnicos ao longo da cadeia produtiva até o consumo. Além disso, ao exemplo de qualquer outro alimento, é fundamental que o consumidor conheça a procedência do produto, que é a garantia da origem e qualidade do mesmo”, diz a nota.

(Leia nota (AQUI).

Feirantes da Feira Manaus Moderna, a maior da capital, no Centro, alegam que o surto de rabdomiólise, síndrome associada à ‘doença da urina preta’, derrubou a venda de peixes. O faturamento caiu de R$ 800 para R$ 20 por dia, em média. O ATUAL conversou com vendedores de peixes na manhã desta quinta-feira (2). Eles reclamaram da repercussão negativa que a doença causou sobre os negócios.

Edmar de Oliveira Marques, de 44 anos, disse que na quarta-feira (1º) saiu da feira sem vender nada. “A média do apurado de quem vende peixe miúdo era de R$ 600 a R$ 800 por dia. Hoje tem gente apurando R$ 20, só o da merenda, do gelo e vai embora sem nada”.

O feirante conta que antes, por volta das 9h, o estoque de peixe já estava esgotado. “Caiu mais de 90%. Nesse horário eu fiz duas vendas, (antes) nesse horário eu estava terminando o meu peixe”, disse. Para não ter prejuízo, Edmar tira parte do pescado da exposição na banca. “Ele (peixe) ‘tá’ guardado na caixa porque a gente ‘tá’ com receio de não guardar e perder a qualidade”.

Emanuel da Silva vende pirarucu e passa pela mesma situação. “Estamos aí lutando, pedindo para o pessoal vir comprar peixe porque ninguém sabe, essa doença não tem resposta ainda”, lamentou. “Eu fazia R$ 500 por dia, hoje eu não apurei nada ainda”, relata.

O feirante Leandro Mascarenhas, de 36 anos, lamenta que não tenha sido informada se a doença veio de peixe de rio ou viveiro. “Hoje 90% dos tambaquis que aparecem nas feiras é de Porto Velho (RO) ou de Boa Vista (RR). Poucos peixes vêm do rio agora. Então, se realmente o problema está com peixe do rio, são poucos peixes do rio que tem aqui na feira”, disse.

Edmar Marques reclama da forma como o surto da doença está sendo noticiado. “Estão espalhando que é quase todas as espécies que estão com essa doença, quando na verdade nem mesmo os profissionais (de saúde) estão sabendo explicar a origem e que espécie está afetada. Eles estão falando que é do pacu, tambaqui, pirapitinga, mas não dão uma informação concreta para a população”.

Nesta quarta-feira (1º), a FVS (Fundação de Vigilância em Saúde) orientou à população de Itacoatiara (a 176 quilômetros de Manaus), um dos pontos com mais casos da doença (36), a não consumir peixes por 15 dias das espécies Pirapitinga, Pacu e Tambaqui, capturados em rios e lagos.

No comunicado, a FVS esclarece que o pescado com origem de criadores em tanques de piscicultura não está associado aos casos da doença, além de outras espécies de peixes encontrados nas bacias de rios e lagos da região.

De acordo com Edmar, o pescado da feira não vem de um só local. “De Itacoatiara para cá não vem peixe. Pelo contrário, os feirantes que moram lá vêm comprar aqui. E quando começou a propagação dessa notícia desse peixe foi segundo a pesca que eles fazem para lá, o rio subindo”, afirma.

Como alternativa, alguns consumidores buscam peixes fornecidos de outros estados. “Eu estou dando preferência para o peixe que vem de fora, de Boa Vista (RR). Eu já fui atrás dos fornecedores”, conta Ana Maria, de 70 anos, que frequenta a Feira Manaus Moderna toda semana.

peixes na manaus moderna
Peixes em exposição nas bancas perdem qualidade pela demora na venda (Foto: Murilo Rodrigues/ATUAL)
Carne vermelha

Mesmo com a redução na venda de peixes, o setor de carnes da Manaus Moderna não foi muito procurado. O açougueiro Marion Roque, de 54 anos, conta que até o momento não sentiu a mudança. “Talvez esteja migrando, mas bem pouco”. Marion afirma que a média diária de venda é de R$ 100 a R$ 150. “O poder de compra caiu muito, então a gente vai sobrevivendo”.

O açougueiro José Roque, de 52 anos, está há mais de 20 anos trabalhando na Manaus Moderna. Ele afirma que os últimos acontecimentos estão afetando o sustento. “A feira teve uma queda, teve o tempo da enchente. Não recuperamos o que era antes, porque veio a pandemia. Nós ficamos trabalhando em horário restrito. O governador botou a gente para trabalhar até 11 horas da manhã, enquanto o supermercado trabalhava até 10, 11 horas da noite”, comparou.

José também disse que o movimento permanece o mesmo no setor de carnes, mesmo após o surto da ‘doença da urina preta’.

Assista ao vídeo:

(Colaborou Murilo Rodrigues)

Fontes: Mais RO com Atual e Facer