“Oração da Magistratura”, por Dimis da Costa Braga

0
1538

“Senhor, ensina-nos a ter amor e compaixão pelo companheiro de jornada terrestre, ainda que tenha ele cometido algum delito, tanto quanto desejamos ser amados pelos nossos semelhantes mais queridos, e compreendidos por aqueles que nos julgam.

Guia-nos pelo caminho da tolerância, bondade e entendimento, para que apliquemos a lei compassivamente, sem esquecer que também somos imperfeitos, e que nosso coração jamais se encha de arrogância a apontar os defeitos do próximo, qual furioso combatente no deserto, pois como nós, não raro nossos irmãos conhecem suas próprias imperfeições, às vezes pequenos gravetos ante as traves que muitas vezes carregamos.

Se os que nos buscam trazem problemas a resolver, ensina-nos a usar da cortesia fraternal com todos, acolhendo os irmãos sofridos do caminho, não com meros cumprimentos educados e auxílios frívolos a apontar falhas de terceiros que inviabilizam a causa, mas com amor fraternal em prol da solução do litígio, auxiliando não só os destinatários do direito almejado, mas todos os participantes do processo que necessitam, sem arrogância ou má vontade.

Faz-nos olhar nos olhos daqueles que nos buscam, dando ouvidos atentos às suas palavras e justo interesse pelos seus problemas, e ajuda-nos a dirigir-lhes o testemunho delicado de nossa experiência sem aumentar a voz, pois questões delicadas não demandam ruído para encontrar solução.

Afasta de nós o cálice da corrupção, pois sabemos que a cobiça é reduto de malfeitores que iguala o julgador ao criminoso comum. Livra-nos das conversações inúteis sobre a conduta os companheiros de faina, e das vaidades passageiras nos tribunais, cientes de que o comentário menos digno é invasão delituosa de imperfeições humanas, que nos compete relevar.

Lembra-nos de elogiar ao que trabalha, exaltando mesmo dos maus e ociosos o bem que são suscetíveis de fazer, a fim de exortar cada um elevar-se.

Afasta-nos do pessimismo, Senhor, pois mesmo cientes de que toda glória terrena é passageira, a justiça humana para aperfeiçoar-se necessita de bom ânimo.

Ensina-nos a respeitar aos grandes e aos pequenos em igual medida, lembrando que, assim como o sol esquenta a vida, a minúscula semente do trigo é que dá o pão; e se a Corte mais elevada profere a decisão final nas grandes causas, não raro é o mais jovem e inexperiente advogado que conhece primeiro a causa longínqua daquele que mais necessita de nós.

Concede-nos usar no dia-a-dia a chave luminosa do sorriso fraternal da amizade espontânea e sincera, olvidando qualquer dor que nos dilacera, certos de que essas atitudes evitarão delitos futuros e animarão a melhor solução das causas que nos são trazidas a julgar.

Lembra-nos de exercer a pontualidade, não deixando a nos esperar, por nos atribuir falsa importância tão passageira quanto o cargo, o nosso companheiro de luta que não é menos importante que nós.

Permita que as águas vivas e invisíveis do amor que procedem do Pai Eterno atravessem, em favor do círculo de luta em que vivemos e exercemos nosso mister, o nosso coração ainda que muitas vezes magoado, lembrando-nos que o amor é a força divina que engrandece a vida e confere o verdadeiro poder.

Ajuda-nos a fazer o melhor que pudermos, pela felicidade e pela elevação de todos que nos rodeiam, não somente no Forum, mas em qualquer parte, não somente hoje, mas sempre, em prol do aperfeiçoamento e aproximação de nossa imperfeita Justiça, da Tua Magnânima Perfeição.

Dá-nos, sobretudo, boa vontade para executar teu o programa de amor que vai levar a humanidade, enfim, à evolução, rumo a Justiça Divina!”

Dimis da Costa Braga é juiz federal em Rondônia; professor universitário; mestre e doutorando em Direito; e membro da Academia Rondoniense de Letras.

FONTE: Juiz federal em Rondônia, Dimis da Costa Braga