O resumo do golpe, por Ronald Pinto

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Dilma: reforma do Poder Executivo visa melhorar gestão pública, elevar competitividade do País e continuar assegurando a igualdade de oportunidade aos cidadãos. Foto: Roberto Stuckert Filho/PR

dilmaonuEm 2014 as eleições foram pesadas. Traziam os reflexos das manifestações de 2013 quando as massas foram as ruas mobilizadas por uma infinidade de motivos diferentes. Essas massas não representavam (olha o problema da democracia direta!) a maioria do povo brasileiro mas empoderavam o discurso contra a política e contra os políticos. Isso fez com que o partido mais conhecido por sua politização no País, o PT, sofresse os efeitos no campo eleitoral com a redução de parlamentares eleitos. Os partidos de direita que sempre propugnaram pelo não participação política ou pela despartidarização dos debates ganharam fôlego principalmente ao receber apoio dos evangélicos neo pentecostais. É desse conjunto que um dos expoentes evangélicos, Eduardo Cunha, elege uma grande bancada e ao aliar-se na Câmara com os ruralistas torna-se hegemônico. A presidenta Dilma sobrevive aos ataques e consegue se reeleger. Mas para governar teria que se submeter ao jogo político e de interesses das bancadas comandadas por Cunha. Isso significaria avançar na pauta defendida pelos fundamentalistas e reduzir ou acabar com todo o e qualquer apoio a diversidade. Não serve para quem vive da miséria políticas públicas que acabem com a miséria, mesmo que tivessem avançado na conquista de almas pregando que a Teologia da Prosperidade era a responsável pela melhoria da qualidade de vida de seus acólitos.A direita vê que isso gera uma instabilidade e pode ser usada. Criam habilmente o alimentador dessa fogueira: A Operação Lava Jato!

Fase após fase a Lava Jato alimenta a mídia com informações que deveria ser sigilosas mas servem para atacar o governo de Dilma e induzir os envolvidos com a chantagem implícita: Dilma não controla e não quer controlar a Lava Jato. Enquanto ela estiver governando vocês estarão correndo riscos. O pouco que restava da base de apoio ao governo fica praticamente destroçado.

As pedaladas
Mesmo em condições hostis, a popularidade de Dilma cresce quando ela começa a fazer exercícios andando de bicicleta. Em uma das ocasiões atende alguém que havia se ferido. Isso é visto como perigoso para os artífices do golpe. Era preciso acabar com essa popularidade e transformar a informação positiva em negativa. O achado de mídia e marketing surgiu quando transformaram o fato positivo de andar de bicicleta em “Pedaladas fiscais”. E Dilma transformou-se em “criminosa” ao fazer algo que todos fizeram mas o conceito surgiu com ela. No primeiro momento o que era apenas para desgaste foi criando corpo pela insistência da mídia na criminalização do governo e do conceito. No país da rede Globo isso funciona. Jornais, revistas e até livros incorporaram o conceito e sua criminalização.

PSDB oferece cabeça de Dilma para Cunha
Odiando Dilma por sua política mas sendo alguém que não faz política por amor ou ódio, ou seja, é frio e calculista, Cunha está contra a parede quando MESMO SEM SER PELA LAVA JATO o Ministério Público da Suíça anuncia que descobriu suas contas. Observem que a chantagem de Cunha sobre a oposição e o governo é clara: fica com quem lhe apoiar. O PSDB contrata Bicudo e Janaína para formularem uma denúncia e pedido de impeachment baseado nas “Pedaladas Fiscais”, a genial invenção da Globo para degradar a imagem de Dilma. Com a denúncia na mão Cunha exige os votos do PT contra sua cassação. Os deputados petistas sabem do risco e avisam a presidenta. A presidenta que já foi presa e torturada na ditadura militar NÃO ACEITA A CHANTAGEM, e orienta, junto com a direção do PT, pela manutenção do processo de cassação de Cunha. Cunha sem nenhum medo ou pudor aceita a denúncia do PSDB forma comissão e encaminha ao Plenário. A pressão sobre os deputados é a Lava Jato: a operação só acaba se Dilma sair. 367 deputados, a maioria com denúncia e processos na justiça, vota pela continuação do impeachment.

O Senado e Maranhão
Quando a denúncia chega ao Senado os barões do PMDB, o mesmo partido do vice presidente, já anteviam a felicidade de ter em mãos o governo do país. As massas que foram as ruas em 2013, 2015 e 2016 gradativamente ao mesmo tempo que diminuam de tamanho radicalizavam a direita. Os políticos de direita espertamente aproveitaram a multidão como anteparo para seus projetos que JAMAIS SERIAM APROVADOS CONSCIENTEMENTE NAS URNAS. O Senado tem um terço de seus senadores frutos do desgaste das esquerdas conforme tratei no primeiro parágrafo. Essa diferença somada com os senadores conservadores que o senado já tinha, forneceu o número necessário para tocar adiante a vingança de Eduardo Cunha. Com o afastamento de Cunha (alguns dizem que para descaracterizar a vingança) o deputado Waldir Maranhão que havia votado a favor de Dilma assume e pede que o Senado devolva o processo à Câmara dos Deputados para nova votação. Imediatamente os apoiadores do impeachment, os mesmos que havia dito no início de tudo que Cunha era fruto das articulações do PT, espalharam o boato de que o deputado Waldir Maranhão fazia isso a mando de Cunha, isolando-o do apoio dos aliados da presidenta Dilma. A pressão sob Maranhão foi terrível, com ameaças de todo tipo. Ele volta atrás e o Senado vota pela admissibilidade da denúncia com o afastamento da presidenta.

O governo Temer
Ao assumir interinamente a presidência Temer puxa para o governo os partidos de oposição. Longe de agir como um interino, usando e abusando de Medidas Provisórias ele altera a estrutura dos ministérios e destrói o suporte às políticas públicas inclusivas, redistributivas e indenizatórios. Ou seja, atinge em cheio as políticas sociais. E para fazer isso passar, extingue o Ministério da Cultura, colocando o bode na sala. A extinção do Ministério da Cultura que tem um orçamento pequeno e um resultado social significativo mas não economicamente estrutural é para ser negociado. A comoção criada e as ocupações geradas serão negociadas pelo governo e a restauração do Ministério da Cultura, sob o controle do governo Temer e de uma política conservadora, oferecida como a demonstração de diálogo democrático e disposição de ceder ao povo do novo governo. Ou seja, resolve a cultura e “la nave vá”.

E a Ministra Rosa Weber pergunta candidamente à presidenta Dilma porque ela diz que é golpe?

Ronald Pinto é articulista político