Em 2014 as eleições foram pesadas. Traziam os reflexos das manifestações de 2013 quando as massas foram as ruas mobilizadas por uma infinidade de motivos diferentes. Essas massas não representavam (olha o problema da democracia direta!) a maioria do povo brasileiro mas empoderavam o discurso contra a política e contra os políticos. Isso fez com que o partido mais conhecido por sua politização no País, o PT, sofresse os efeitos no campo eleitoral com a redução de parlamentares eleitos. Os partidos de direita que sempre propugnaram pelo não participação política ou pela despartidarização dos debates ganharam fôlego principalmente ao receber apoio dos evangélicos neo pentecostais. É desse conjunto que um dos expoentes evangélicos, Eduardo Cunha, elege uma grande bancada e ao aliar-se na Câmara com os ruralistas torna-se hegemônico. A presidenta Dilma sobrevive aos ataques e consegue se reeleger. Mas para governar teria que se submeter ao jogo político e de interesses das bancadas comandadas por Cunha. Isso significaria avançar na pauta defendida pelos fundamentalistas e reduzir ou acabar com todo o e qualquer apoio a diversidade. Não serve para quem vive da miséria políticas públicas que acabem com a miséria, mesmo que tivessem avançado na conquista de almas pregando que a Teologia da Prosperidade era a responsável pela melhoria da qualidade de vida de seus acólitos.A direita vê que isso gera uma instabilidade e pode ser usada. Criam habilmente o alimentador dessa fogueira: A Operação Lava Jato!
Fase após fase a Lava Jato alimenta a mídia com informações que deveria ser sigilosas mas servem para atacar o governo de Dilma e induzir os envolvidos com a chantagem implícita: Dilma não controla e não quer controlar a Lava Jato. Enquanto ela estiver governando vocês estarão correndo riscos. O pouco que restava da base de apoio ao governo fica praticamente destroçado.
As pedaladas
Mesmo em condições hostis, a popularidade de Dilma cresce quando ela começa a fazer exercícios andando de bicicleta. Em uma das ocasiões atende alguém que havia se ferido. Isso é visto como perigoso para os artífices do golpe. Era preciso acabar com essa popularidade e transformar a informação positiva em negativa. O achado de mídia e marketing surgiu quando transformaram o fato positivo de andar de bicicleta em “Pedaladas fiscais”. E Dilma transformou-se em “criminosa” ao fazer algo que todos fizeram mas o conceito surgiu com ela. No primeiro momento o que era apenas para desgaste foi criando corpo pela insistência da mídia na criminalização do governo e do conceito. No país da rede Globo isso funciona. Jornais, revistas e até livros incorporaram o conceito e sua criminalização.
PSDB oferece cabeça de Dilma para Cunha
Odiando Dilma por sua política mas sendo alguém que não faz política por amor ou ódio, ou seja, é frio e calculista, Cunha está contra a parede quando MESMO SEM SER PELA LAVA JATO o Ministério Público da Suíça anuncia que descobriu suas contas. Observem que a chantagem de Cunha sobre a oposição e o governo é clara: fica com quem lhe apoiar. O PSDB contrata Bicudo e Janaína para formularem uma denúncia e pedido de impeachment baseado nas “Pedaladas Fiscais”, a genial invenção da Globo para degradar a imagem de Dilma. Com a denúncia na mão Cunha exige os votos do PT contra sua cassação. Os deputados petistas sabem do risco e avisam a presidenta. A presidenta que já foi presa e torturada na ditadura militar NÃO ACEITA A CHANTAGEM, e orienta, junto com a direção do PT, pela manutenção do processo de cassação de Cunha. Cunha sem nenhum medo ou pudor aceita a denúncia do PSDB forma comissão e encaminha ao Plenário. A pressão sobre os deputados é a Lava Jato: a operação só acaba se Dilma sair. 367 deputados, a maioria com denúncia e processos na justiça, vota pela continuação do impeachment.
O Senado e Maranhão
Quando a denúncia chega ao Senado os barões do PMDB, o mesmo partido do vice presidente, já anteviam a felicidade de ter em mãos o governo do país. As massas que foram as ruas em 2013, 2015 e 2016 gradativamente ao mesmo tempo que diminuam de tamanho radicalizavam a direita. Os políticos de direita espertamente aproveitaram a multidão como anteparo para seus projetos que JAMAIS SERIAM APROVADOS CONSCIENTEMENTE NAS URNAS. O Senado tem um terço de seus senadores frutos do desgaste das esquerdas conforme tratei no primeiro parágrafo. Essa diferença somada com os senadores conservadores que o senado já tinha, forneceu o número necessário para tocar adiante a vingança de Eduardo Cunha. Com o afastamento de Cunha (alguns dizem que para descaracterizar a vingança) o deputado Waldir Maranhão que havia votado a favor de Dilma assume e pede que o Senado devolva o processo à Câmara dos Deputados para nova votação. Imediatamente os apoiadores do impeachment, os mesmos que havia dito no início de tudo que Cunha era fruto das articulações do PT, espalharam o boato de que o deputado Waldir Maranhão fazia isso a mando de Cunha, isolando-o do apoio dos aliados da presidenta Dilma. A pressão sob Maranhão foi terrível, com ameaças de todo tipo. Ele volta atrás e o Senado vota pela admissibilidade da denúncia com o afastamento da presidenta.
O governo Temer
Ao assumir interinamente a presidência Temer puxa para o governo os partidos de oposição. Longe de agir como um interino, usando e abusando de Medidas Provisórias ele altera a estrutura dos ministérios e destrói o suporte às políticas públicas inclusivas, redistributivas e indenizatórios. Ou seja, atinge em cheio as políticas sociais. E para fazer isso passar, extingue o Ministério da Cultura, colocando o bode na sala. A extinção do Ministério da Cultura que tem um orçamento pequeno e um resultado social significativo mas não economicamente estrutural é para ser negociado. A comoção criada e as ocupações geradas serão negociadas pelo governo e a restauração do Ministério da Cultura, sob o controle do governo Temer e de uma política conservadora, oferecida como a demonstração de diálogo democrático e disposição de ceder ao povo do novo governo. Ou seja, resolve a cultura e “la nave vá”.
E a Ministra Rosa Weber pergunta candidamente à presidenta Dilma porque ela diz que é golpe?
Ronald Pinto é articulista político