O MDB e seus dilemas- as eleições de 2020 e a relação do partido com o poder

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Elizeu Lima, articulista

 

Por Elizeu Lira (*)

Ao se aproximar mais uma eleição, o maior partido do País – e do estado – inicia o seu
calvário político. Após obter resultado débil nas eleições de 2018, quando o seu candidato
a governador chegou em terceiro lugar no primeiro turno, após sete anos de controle do
executivo estadual, o Movimento Democrático Brasileiro -MDB ainda não apresentou um
nome para concorrer ao cargo de prefeito de Porto Velho, nas eleições municipais de
2020. O mesmo ocorre nos municípios de Ariquemes, Ji-Paraná, Vilhena e Rolim de
Moura. Em Cacoal, é quase certo que a prefeita atual seja a candidata do partido à
reeleição. Ouvidos, os dirigentes do partido alegam existir, em essência, duas razões para
isso.

A primeira delas é que, dizem, ainda é cedo para a escolha de nomes, uma vez que as
regras eleitorais foram definidas a poucos dias pelo TSE. A segunda razão é que, mesmo
que os nomes existam, e haja algum consenso em torno deles, é razoável que sejam
preservados de desgastes prematuros, o que, na visão deles, ocorreria uma vez
expostos em período ainda distante das campanhas eleitorais. Seja como for, como é
padrão no partido, ainda existem arestas a serem aparadas até as escolhas dos nomes
que representarão o partido nas eleições nos municípios citados – e em outros que forem
importante para as eleições de 2022.

O partido ainda convive com ressentimentos remanescentes da convenção partidária que
definiu os nomes dos candidatos às eleições de 2018, em particular aos cargos de
senadores. Como é sabido, naquela eleição, haviam duas vagas em disputas. O partido
internamente, entretanto, convivia com o dilema inócuo de lançar dois ou apenas um
nome aos cargos. A fragilidade do dilema se baseava numa quimera: nunca na história do
estado, um partido havia feito dois senadores numa mesma eleição.

Os estrategistas do partido defensores desta tese, no entanto, ignoraram dois elementos
básicos nos seus movimentos: o estado de Rondônia deixou de ser território a pouco mais
de trinta anos, portanto, não acumulou tempo suficiente para produzir série histórica com
embasamento cientifico em eleições para o senado, cujo tempo de mandato é o mais
longo da República. O outro elemento desprezado pelos pensadores do partido foi a
biografia dos seus dois potenciais candidatos. Um deles tratava-se nada menos que o
governador do estado, que deixou o governo com avaliação beirando os 70% de
aprovação popular, já no seu segundo mandato – este sim, objeto de desgastes de toda
sorte O outro candidato já era senador e concorreria à reeleição. Portanto, detinha as
mesmas condições favoráveis para a eleição que o seu companheiro de partido. Estavam
dadas as condições objetivas para vitória de ambos, se não houvessem os “oráculos” do
partido – e o egocentrismo e a ausência de desprendimento dos dois caciques
candidatos. A forma encontrada para chegar ao mínimo de unidade e disputar as eleições
de 2018, como se sabe, foi traumática e resultou em rachas no partido envolvendo os dois
principais grupos – que perduram até hoje.

O ambiente político e institucional no partido não estão pacificados. Os dois grupos ainda
atribuem ao outro a razão para a sua derrota ou o resultado frágil obtido nas eleições de
2018. Além disso, os dois grupos sabem que o controle da estrutura partidária para as
eleições municipais de 2020 é fundamental para protagonizar a escolha do nome que
disputará a eleição majoritária em 2022.

Neste sentido, os movimentos políticos se iniciaram há algum tempo. A Executiva
Estadual, reeleita em plena campanha de 2018, é controlada pelo grupo do ex-senador
Valdir Raupp e tem mandato estendido para além das eleições de 2020. Os diretórios
municipais, responsáveis pela condução das eleições municipais do ano que vem, estão
em processo de eleição dos seus novos dirigentes, com comissões eleitorais instaladas o
que, presume-se, produz espaço propicio para embates entre os dois grupos. Trava-se,
portanto, neste momento, renhida luta pelo controle dos diretórios mais relevantes do
MDB de Rondônia.

Diante deste quadro, não é difícil formular algumas considerações sobre o papel que o
MDB desempenhará e qual o tamanho terá após a abertura das urnas, em 2019 – o que
faço a seguir.

O MDB – nacional e estadual – não tem projeto orgânico de poder, embora não consiga
viver longe dele. E não se afastou do poder desde a redemocratização do País única e
exclusivamente pelo tamanho das bancadas que consegue eleger Brasil afora. Este é um
ativo importante numa sociedade em que os governos de coalização são importantes para
a governabilidade. É inegável, portanto, o papel moderador que o partido tem
desempenhado na governabilidade do País. Mas, por conta do seu tamanho (sim, o
mesmo ativo que atende aos governos centrais), deveria sonhar mais alto. Não o faz pelo
seu desprezo em protagonizar o poder.

No caso da seção estadual do partido, este desprendimento pelo poder ficou evidente nas
eleições de 2018. Tendo um governador eleito e reeleito, com o segundo mandato
melhor avaliado que o primeiro (a avaliação positiva de Confúcio Moura superava os 70%
de regular e ótimo quando deixou o cargo para concorrer ao senado), o partido abriu mão
de ter “o candidato a ser batido” naquele pleito – por não ter a ambição necessária pelo
poder na definição e preparação de nome competitivo que fosse consenso de todos os
grupos partidários. Ao contrário. Os dois caciques e seus grupos concentraram energia
nas suas próprias eleições ao senado – destinando participações limitadas e protocolares
na campanha do candidato majoritário do partido.

Diante do exposto, a unidade partidária é um sonho distante para os militantes e
simpatizantes do MDB. O cenário descrito leva a crer que um dos maiores partidos do
estado sairá menor do que entra nas eleições de 2020 e que isso refletirá negativamente
na eleição estadual de 2022 – a menos que as suas lideranças, quadros com mandatos,
dirigentes partidários e seus militantes, subitamente, sejam tomados pela necessidade de
protagonizar o poder político nos municípios. A conferir.

(*) Elizeu Lira,  57 anos, sociólogo e especialista em políticas