Números do Ibope não indicam “já ganhou”: tem muitos indecisos e rejeição incomoda

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João Paulo Viana, cientista político

Roberto Sobrinho, do PT, é líder nas pesquisas
Roberto Sobrinho, do PT, é líder nas pesquisas
Articulistas e cientistas políticos locais não se empolgaram com os números positivos do Ibope dados ao candidato à “reeleição”, Roberto Sobrinho. O professor e cientista político João Paulo Viana foi bem enfático: o jogo não está definido, muito pelo contrário. Para ele, o desempenho de Roberto Sobrinho (PT) na pesquisa Ibope é passageiro.

A análise de João Paulo Viana

João Paulo Viana, cientista político
João Paulo Viana, cientista político


Sobre a liderança de Roberto Sobrinho(PT) na corrida eleitoral em Porto Velho

“Inicialmente, gostaria de pontuar algumas questões que nortearão a minha análise e nos ajudarão a compreender melhor. 1) Não é uma grande surpresa que Sobrinho apareça com pouco mais de 20% das intenções de voto. 2) Também não é correto, sob hipótese alguma, dizer que o eleitorado não sabe votar, que o povo é “burro”, etc…3) Os 8 anos de governo Sobrinho em Porto Velho podem e devem ser analisados sob a perspectiva do antes e depois da reeleição em 2008. 4) O melhor cabo eleitoral de Sobrinho é o atual prefeito Mauro Nazif (PSB) – também o maior prejudicado com a entrada do petista no processo eleitoral”.

“Não é surpresa os 22% de Sobrinho na pesquisa quarta-feira. Nos bastidores da política local, pesquisas internas dos candidatos já anunciavam isso desde o período das convenções, o que certamente fez com o que o PT rondoniense passasse por cima do que sobrou da reserva ética e moral do partido, se é que restou algo disso. Afirmo não ser uma surpresa, pois essa fatia do eleitorado, muito provavelmente menos escolarizada, de baixa renda e residente em áreas mais afastadas, foi bastante beneficiada por Sobrinho durante sua gestão. Como não recordar o programa de regularização fundiária, carro chefe do primeiro mandato, a construção de Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), os milhares de quilômetros de asfalto onde desde sempre só havia poeira, além das milhares de famílias beneficiadas pelo bolsa família na capital? São essas questões citadas que demonstram que o eleitorado de Sobrinho não tem nada de burro, ou “não sabe votar”. Ora, eles mostram querer Roberto novamente porque, de certa forma, a vida deles melhorou durante a gestão do PT em Porto Velho. Essa é uma postura racional, eles votam porque ganharam algo em troca, seja o asfalto na sua rua, a UPA no bairro, ou a tão sonhada escritura de sua moradia. Isso para a classe média não é muita coisa, mas para essa fatia da população representou uma sensação de bem estar, de melhora em sua qualidade de vida, sensação essa nunca vivenciada antes. Não obstante, quando eu divido a análise entre o primeiro e o segundo governo Sobrinho é porque, se num momento inicial, quando o governo federal despejava centenas de milhões de reais em Porto Velho e Sobrinho estava em céus de brigadeiro, sendo, inclusive, reeleito com quase 60% dos votos, o segundo governo petista, foi altamente desastroso, apagando todo e qualquer lampejo de desenvolvimento e os avanços citados acima. Eu, eleitor de Roberto em 2008, posso afirmar com toda certeza que ele foi a minha maior decepção na política rondoniense. Porque ele nos deu esperança, pensávamos em 2008 que Porto Velho conseguiria avançar, ser a cidade dos nossos sonhos. Mas como disse a jornalista Eliane Brum, quando visitou nossa capital em 2009, Porto Velho era “a cidade que não estava lá”. Nos fins de 2012, ao ser afastado da prefeitura pela Justiça – e ver parte do seu staff sair em carreata para o presídio, Roberto caía na vala comum da imensa maioria dos políticos do estado. Como símbolo da incompetência e da corrupção que marcaram o seu segundo governo ficaram os vários viadutos inacabados que há 8 anos “decoram” a paisagem portovelhense, para não falar de muitos e muitos problemas que se agravaram com o crescimento desordenado na era das usinas do Madeira. Entretanto, o que contribuiu, e muito, para o ressurgimento de Roberto na política local foi a péssima gestão de seu sucessor, Mauro Nazif (PSB), que, por motivo de espaço aqui, dispensa comentários. A cidade está abandonada e os 62% de rejeição de Mauro revelam isso. Nesse sentido, não tenho dúvida ao afirmar que Nazif é o maior “cabo eleitoral” de Roberto. Para concluir, venho tranquilizar os amigos: Roberto não vencerá as eleições. Mesmo que concorra, sua rejeição é muito alta (49%) e ele já chegou ao seu ápice. A tendência, ainda que ele vá ao segundo turno, é só cair…Contudo, muito provavelmente e se a Justiça permitir, terá uma eleição garantida à ALE-RO em 2018”.