NOTA DA ASSOCIAÇÃO CULTURAL RIO MADEIRA

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Vimos esclarecer que a Associação Cultural Rio Madeira é a proponente original da ideia de criação do Dia do Tacacá e da nomeação institucional do Tacacá como Bem Cultural da cidade de Porto Velho!

Enquanto fenômeno civilizatório, a cidade nasceu rente às barrancas do Rio Madeira, mais especificamente nos idos da construção da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, em 1907. Não bastasse os trabalhadores estrangeiros das quase 50 nacionalidades que vieram participar da edificação da Ferrovia do Diabo, também hordas de brasileiros vieram participar dessa empreitadas, e, dentre esses grupamentos humanos, os paraenses. Embora não tenhamos uma historiografia profunda e específica sobre o culto a essa beberagem em nossa literatura científica, é fácil supor, do ponto de vista empírico, que os primeiros paraenses partícipes da epopeia de construção da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré introjetaram voluntariamente no meio social a prática do fazimento e da degustação do Tacacá na embrionária Porto Velho de antanho. A pesquisa da História Oral oferece lastro fático e testemunhal a essa dedução. Temos, pois, que o Tacacá, nestas paragens, é tão centenário quanto a Capital do Estado de Rondônia, tendo deixado um rastro de participação tão marcante que o identificamos vivo nas memórias e histórias de vida das tacacazeiras como Dona Isaura, Dona Mita, Dona Chiquinha e Dona Mirtes, e muitas outras tacacazeiras!

A civilização Rondoniense é uma civilização formatada a partir dos fluxos migratórios e do caldeamento das raças e etnias que convergiram para este rincão e aqui se misturaram no fazer da vida. São muitas as contribuições dos diversos grupamentos humanos que participaram do processo histórico que desaguou na realidade do presente. No que diz respeito especificamente ao Tacacá, é óbvio que a beberagem tem por berço a rica cultura paraense, a quem o povo de Porto Velho agradece a contribuição. Tomar para si um item cultural advindo de outras plagas não desmerece nem o berço original de onde ele veio nem a ação de tomá-lo, do ponto de vista da nossa história, como bem cultural formatador da identidade do Povo de Porto Velho. Muito pelo contrário, enaltece e explicita uma das facetas da nossa formação cultural, que é o aspecto antropofágico vivenciado durante o processo histórico passado e presente. É inegável que o Tacacá, decorridos mais de 100 anos da formação da cidade de Porto Velho, participa da gastronomia popular, estando presente nos diversos bairros da cidade, sendo degustado pelas diversas classes sociais, nas diversas fases históricas, criando os personagens do seu universo, as famosas tacacazeiras, a maioria de saudosa lembrança. Ser originalmente do Estado do Pará não impede que o povo de Porto Velho, através do seu Parlamento Municipal, tendo à frente os vereadores Aleks Pailitot e Ada Dantas, venha a reconhecer, no campo jurídico formal, seu status de bem cultural desta terra, haja vista sua intrínseca presença no bojo do processo histórico que emoldurou a organização social tal qual hoje a concebemos e vivenciamos. Então, desse ponto de vista, a Associação Cultural Rio Madeira rende homenagem ao Povo do Estado do Pará por ter contribuído com a nossa formação cultural, agradece ao Parlamento Municipal pela sensibilidade de institucionalizar o Tacacá como bem cultural e defende a ideia de que o Tacacá receba, tanto da iniciativa privada quanto das agências culturais estatais, o tratamento que ele de fato merece, enquanto elemento que identifica a cultural local!

Antônio Serpa do Amaral Filho
Presidente