Natal serve pra renovar a fé, “só não se sabe fé em que”

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O aniversário mais esperado do ano chegou e durante a semana que antecede a grande festa o mundo gira na banguela, sem pressa e buzina. As pessoas irradiam uma energia diferente, boa, mudam como o primeiro milagre do aniversariante, da água pro vinho.
De todos os milagres atribuídos a Jesus Cristo o Natal é o maior deles, pois promove a união, a solidariedade e a paz onde menos se espera. Quantos pais e filhos, casais ou amigos não adiam acertos de contas pra depois do Natal? É tanta ação beneficente que na festa passada sugeriram num abrigo que entregasse a minha doação em outro lugar, pois lá a dispensa estava abarrotada.
Não dá pra explicar uma data que vira o mundo do avesso e o deixa mais ou menos do jeito que a gente sonha, do jeito que a gente precisa. Já pensou o ano inteiro todos os cristãos praticando o bem, pregando a paz e o perdão?
Imagine como John Lennon, um mundo “sem motivo pra matar ou morrer, com todas as pessoas vivendo a vida em paz”. Não é difícil imaginar, é praticamente impossível.
Cada um que dê o seu sentido pro Natal, mas fico com o do Papa Francisco para quem nestes tempos medonhos, “as festividades soam falsas em um mundo que escolheu a guerra e o ódio”.
A cada Natal me pergunto por que o mundo parece ir de mal a pior, se mais de dois bilhões de cristãos acreditam e praticam os ensinamentos de Jesus.  Me parece evidente que entre os que dizem seguir e os que de fato seguem os mandamentos cristãos, sobretudo o que impõe amar a todos, a todos perdoar, a todos servir e a ninguém excluir, há uma abissal distância.
O mundo está mais religioso de um modo geral e também piorado de um modo geral. De cada 10 crianças que nascem no mundo, nove estão em famílias que se declaram religiosas, e seis em lares cristãos ou muçulmanos.
E cá, prá nós, é um como um fio de cabelo o que separa um Amém de um Assalamu Alaikum, ‘só’ mudam os profetas que as duas religiões com maior número de fiéis veneram. Os muçulmanos, portanto, para quem Muhammad é o último profeta de Deus, não comemoram o Natal.
Longe de ser mero detalhe, mas importa que para os católicos, Deus é amor e está acima de todas as coisas e para os muçulmanos, islam significa igualmente submissão e amor a um único Deus.
A perspectiva é a de que o islamismo tenha o maior número de fiéis até 2050, conforme o relatório, intitulado “Cristandade em seu contexto global, 1970-2010”.
Veja que estamos falando de mais de dois bilhões de adpetos ao cristianismo e mais de 1,6 bilhão de muçulmanos que, poxa, entendem o amor e a fraternidade como princípios religiosos fundamentais. Por que o mundo está cada vez mais hostil, não sei, mas deveria ter melhorado com o crescimento das religiões.
Não estou querendo dizer que as religiões pioraram o mundo, mas perguntando por que não o melhoram. É uma provocação à reflexão sobre até que ponto se pratica o discurso religioso. No Brasil, a cada duas horas se abre uma igreja evangélica, ou seja, 12 por dia e não reluto em afirmar que há muitas pequenas igrejas que nasceram pra se transformar em grandes negócios.
Pra salvar o mundo, a fé terá que mover uma montanha de hipocrisia.
Imagine os fiéis das duas maiores religiões somados aos 15 milhões do judaísmo, aos 13 milhões do espiritismo, aos 900 milhões do hinduísmo e os 376 milhões do budismo, “sem a necessidade de ganância ou fome. Uma irmandade dos homens. Imagine todas as pessoas partilhando o mundo todo”.
Ah…seria Natal todo dia, pra todo mundo e no mundo todo.
Luciana Oliveira
Empresária e Jornalista