Não merecemos respeito. Merecemos?

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Por Osmar Silva (*)

osmarsuilva2Definitivamente a Capital de Rondônia não tem mais nenhuma festa consolidada em seu calendário de eventos. Francamente, já não inexistem festas populares, com local e data certa, para alegrar a população do estado. Algo desejável, sonhado, que leve o trabalhador e a trabalhadora a fazer uma programação, uma poupança, para garantir sua participação. E, lógico, nada temos para atrair turistas internos e externos.

Sejamos realistas. Não somos destino de quem busca grandes eventos religiosos, não temos uma grande festa de celebração folclórica. Embora tenhamos espaço e vocação, não temos ambiente apropriado para a realização de grandes eventos de negócios empresariais. A única coisa que vem despontando nesse setor é a feira Rondônia Rural Show lá em Ji-Paraná, em ambiente aberto, cedido. Temos patrimônio histórico e história. Desprezados, mal cuidados, abandonados. Mais nos envergonham que orgulham.

Quem não mostra aos parentes e amigos que nos visita, a Praça Madeira Mamoré, o Porto do Cai n’Água, a Nova Teotônio e o que resta da vila de Santo Antônio, onde tudo começou? E quem não passa pelo vexame de ficar se explicando pelo descabroso estado de desleixo em que se encontram esses patrimônios e que estapufeta o visitante?

Em Santo Antônio, revitalizado, temos um conjunto de ocas indígenas fechadas, sem uso, sem visita, sem finalidade alcançada. E, procure um banheiro para aliviar a bexiga do visitante? Será-lhes mostrado uma ponta de mato. Na Praça da Madeira Mamoré lhes indicam, sem pudor nenhum, as árvores. Coloque-se atrás do tronco. Em Teotônio, lhes mostrarão casas novinhas em folha, abandonadas, depredadas, no meio do mato. Isso sem falar em uma hora para fazer os vinte quilômetros de acesso, de carro. Por quê? Muitas belezas no caminho? Não! Muitos buracos, muitas crateras, muitas lagoas na pista de chão.

Não temos mais nem a Cachoeira do Teotônio nem a Cachoeira de Santo Antonio. E há muito tempo, foi-se a Cachoeira de Samuel. O que ficou no lugar destas riquezas naturais de indescritíveis belezas? Nada. Alguém me dirá: ‘e as usinas?’ é verdade. As usinas. Elas estão aí. Mas elas substituem as riquezas e belezas que tínhamos? Não. Hidrelétricas têm em todos os lugares do mundo. Embora contenham tecnologia, quem as ver? Turista não chega lá. Ninguém tem acesso. Empobrecemos incomensuravelmente. Não soubemos negociar as contrapartidas. Somos péssimos comerciantes. Ou quem as negociou, negociou em favor de si.

O nosso Carnaval, outrora referência nesta Região do Norte, esboreou-se, fragmentou-se em pedaços e datas. Saiu dos salões do Ypiranga, do Ferroviário, dos camarotes do Botafogo para a Praça das Caixas d’Água, as pistas das Avenidas Jorge Teixeira e Migrantes e, agora, subsiste nos Bairros Areal, Caiari e algumas pequenas manifestações na Jatuarana, na Zona Sul, e agora, na Avenida Mamoré, na Zona Norte. Em datas diferentes.  Semana antes do Carnaval, durante a Festa de Momo e na semana após a festa do Rei da Folia.

Não temos mais local apropriado ou destinado para o Carnaval, durante os três dias de festas. Não temos arquibancadas, nem camarotes, nem decoração. Não temos mais desfiles de escolas de samba nem estímulos para que elas subsistam. Esse ano desfilarão muito após o Carnaval. Desrespeitando a Quaresma e corrompendo a Aleluia. A Banda do Vai Quem Quer que era a abertura do Carnaval, virou o próprio Carnaval. Carnaval de um turno do dia num único dia. Qual papel e finalidade estão reservados às secretarias de cultura e de turismo do estado e dos municípios? Carecemos de uma urgente reflexão sobre isso sob pena de não encontrarmos utilidade para existência destes órgãos. Esse é o desafio. E à falta de respostas, empobrecemos e nos tornamos um povo sem cultura e sem história. E sem isso, não temos identidade. Não merecemos respeito. Perdemos valor. Nada que produzimos ou fazemos vale nada neste mundo comandado, ainda, pelo dólar. Essa é a verdade.

 

(*) Osmar Silva é jornalista – [email protected]