Museu Palácio da Memória Rondoniense aguarda contribuição indígena para identificar e expor peças milenares

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Fóssil de um crocodilo do período pleistoceno será uma das atrações do Museu da Memória
Fóssil de um crocodilo do período pleistoceno será uma das atrações do Museu da Memória

Único na América do Sul, o fóssil de um crocodilo do período pleistoceno [período quaternário que ocorreu entre 1,8 milhão a 11 mil anos atrás] será uma das atrações no Museu Palácio da Memória Rondoniense, no centro de Porto Velho.

Segundo a diretora do museu, paleontóloga Ednair Rodrigues, esse fóssil foi encontrado na região do Garimpo de Araras, próximo à rodovia BR-364, no sentido Porto Velho-Rio Branco (AC).

“Se os crocodilos se concentram na Linha do Equador, esse aí nadava a 8 mil quilômetros da faixa”, observou o professor paleontólogo cearense Daniel Fortier, um dos colaboradores do museu.

“O Araras é um dos mais profícuos lugares onde encontramos crânios de preguiças gigantes; de todas que estão aqui guardadas, apenas um esqueleto gigante não é da região, pois foi encontrada no Ribeirão, perto de Guajará-Mirim”, ela contou.

O crânio de um tatu embrulhado e acondicionado numa caixa de papelão é três vezes maior que o do tatu-canastra. O paleontólogo rondoniense Flávio Goes foi estudá-lo no Museu da Prata [na Argentina], que também foi visitado três vezes por Ednair. Lá ele concluiu que o animal pesava pelo menos uma tonelada.

Palacio-Presidente-Vargas-Foto-Daiane-MendonçaAos poucos, o museu situado no antigo Palácio Presidente Vargas organiza o seu acervo arqueológico, etnográfico, geológico, paleontológico, zoológico e obras de artes.

Pedra ametista, cassiterita, hematita, mica [mucovita], quartzo rosa [um tipo de ferro] serão brevemente desencaixotados. A cassiterita [minério de estanho é da região de Ariquemes, a 200 quilômetros da Capital.

Nem todas as peças – mais de cem tipos – são regionais. Algumas foram trazidas a Porto Velho por geólogos de diversos estados. A associação de classe cedeu-as para exposição. “Temos material da Bolívia, de Minas Gerais, do Rio Grande do Sul e da China”, assinalou Ednair.

O Serviço Geológico do Brasil-CPRM [Companhia de Pesquisas de Recursos Minerais] tem contribuído na organização. Parte do acervo paleontológico e arqueológico rondoniense permanecerá no Prédio do Relógio, até ser definido o espaço de exposição, que foi prejudicado em consequência da grande cheia de 2014.

Algumas peças

Índio devem auxiliar na identificação de algumas peças disponíveis no Museu

Já a denominada reserva técnica deverá ficar disponível até o meio do ano.  A CPRM orientou a bióloga Lília Maciero, da Faculdade São Lucas, durante seu estágio de dois anos para fazer a monografia mineral.

O museólogo Ocampo Fernandes colheu-o em 1988 e possivelmente o esqueleto sirva para desvendar a tese segundo a qual calor amazônico já foi muito maior do que o de hoje.

Quando prateleiras e estantes envidraçadas estiverem instaladas, raridades estarão à vista do público visitante.

Este mês, Ednair aproximou-se de líderes e professores de 20 etnias indígenas em Ji-Paraná, a maioria dos quais frequenta a educação intercultural no campus da Universidade Federal de Rondônia

“Eles se comprometeram a nos ajudar na identificação”, comentou Ednair Rodrigues. Há dúvida, por exemplo, se a máscara ritualística pendurada na parede seria kaxarari ou karipuna.

Uma urna funerária inteira, colhida no Vale do Guaporé pelo falecido antropólogo Ary Tupinambá Penna Pinheiro, tem idade avaliada em três mil anos. O arqueólogo gaúcho Eurico Müller, que pesquisa em Rondônia desde os anos 1980, estudou-a em sua tese de doutorado. “Muitas urnas serviam para sepultar chefes indígenas em posição fetal”, disse Ednair.

Uma sala inteira guarda material etnográfico: arcos, bordunas, flechas lanceoladas, jamanxim, máscara ritualística e tipiti.

Do ciclo da borracha, restam 30 peças – poronga, ferro, pela, pares de calçados de látex –, mas a recuperação desses últimos é urgente, devido à decomposição. “Algumas peças foram usadas há mais de 70 anos”, explicou a diretora.

A cestaria é farta. A megafauna também dá a entender que no Rio Madeira havia muito mais botos e nas matas, antas, caititus, cervos e tatus. “Tínhamos uma grande mistura, mas com a Era do Gelo, essa megafauna extinguiu-se”, comentou Ednair.

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Fonte
Texto: Montezuma Cruz
Fotos: Admilson Knightz
Secom – Governo de Rondônia