Lula discursa para políticos estrangeiros em São Paulo

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Em sua fala, o ex presidente abordou a consciência democrática que se manifesta nas ruas e nas redes sociais, num amplo movimento de repúdio à quebra da ordem democrática.

“É hora de perguntar se vamos permitir o retorno ao passado, na época da guerra fria que o mundo se dividia entre dominados e dominadores, se vamos ativar novamente a bomba da fome e da injustiça”, disse Luiz Inácio Lula da Silva, nesta manhã (25), durante seminário com políticos de 20 países organizado pela Fundação Perseu Abramo e pela Aliança Progressista.

 

Apesar de praticamente afônico, Lula fez um discurso de 20 minutos, indo muito além do que havia prometido. A fala programada foi lida pelo diretor do Instituto Lula, Luiz Dulci. No entanto, como é de seu feitio, o ex-presidente acabou estendendo o encerramento que seria apenas de 2 minutos. Durante o discurso foi lembrada a significância da data de hoje, 25 de abril, a qual tornou-se referência para os democratas e progressistas de todo o mundo, especialmente na América Latina e no Brasil. Foi nesta da data que ocorreu, em Portugal, a Revolução dos Cravos – a qual encerrou 48 anos de ditadura no país. A data histórica faz referência a força da luta pela democracia, por um mundo mais justo e por uma sociedade mais igualitária.

O presidente nacional do Partido dos Trabalhadores (PT), Rui Falcão, abriu o evento analisando a construção do golpe: “Comanda o golpe o vice-presidente da República, que registra 1% de intenção de voto, caso passasse pelo teste das urnas e que acumula nas pesquisas uma rejeição próxima de 80%.”.

Em reposta às acusações de que o PT vem manchando a imagem do Brasil no exterior ao denunciar o processo de impeachment, o Falcão afirmou: “Tanto quanto no passado, quando denunciávamos a existência de torturas e assassinatos políticos de opositores do regime, acusam-nos agora de prejudicar a imagem do Brasil no exterior. Entretanto, o que causa dano e nos indigna é o circo de horrores protagonizado por parlamentares no último dia 17, quando, em nome de Deus, da pátria e da família, votaram pelo impedimento da presidenta sem qualquer base legal”.

Lula deu sequência em seu discurso afirmando estar convencido que haverá muita luta pela democracia no Brasil e que viveremos momentos de muito combate democrático. “Não é possível aceitar que um jornal governe o pais, que meia dúzia de jornais digam o que é bom e o que é ruim para esse país. Quem deve fazer isso é o povo que elegeu um metalúrgico no Brasil, um índio na Bolívia e uma mulher no Chile e na Argentina”, continuou.

Lembrando dos que foram as ruas contra os militares e pela constituição, em nossa recente história, o ex presidente afirma se questionar sobre, uma vez que agora, em sua opinião, estes estejam cometendo o mesmo crime ou ainda mais grave daqueles que foram vítimas.

Naquele tempo era um gesto de força dos militares, hoje é um gesto de livre e espontânea vontade da direita desse país que não suporta que a esquerda governe. Tirar a Dilma é apenas um gesto. Tirar ela do jeito que querem tirar é o maior ato de ilegalidade desde o golpe de 1964. O argumento é sempre o mesmo, acabar com a corrupção. Foi assim que Hitler cresceu, assim que Mussoline cresceu e assim que todos os partidos de direita crescem na América Latina.

Finalizando, Lula disse que é hora de se questionar se vamos permitir o retorno ao passado – na época da guerra fria em que o mundo se dividia entre dominados e dominadores.

Também estiveram presentes no evento, nesta manhã: Massimo D’Alema, Presidente da Fundación de Estudios Progresistas Europeos (FEPS); Monica Xavier, Secretária Geral do Partido Socialista do Uruguay (PSU); Luiz Dulci, Diretor do Instituto Lula; Esawi Freij, Membro da Knéset, Partido Meretz; Israel Alfredo Remo Lazeretti, Secretário Geral do Partido Socialista (PS) – Argentina; Surendra Prasad Chaudhary, Membro do Parlamento em Nepal; e Conny Reuter, Secretario General em Solidar.

O Seminário da Aliança Progressista “Democracia e Justiça Social” ocorreu ontem e vai até às 18h de hoje no Hotel Maksoud Plaza, na Alameda Campinas em São Paulo, e tem como objetivo reunir participantes progressistas de todo o mundo, de partidos políticos e sindicatos a sociedade civil.

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