Líder indígena de RO lança livro ‘Salve o Planeta: A mensagem de um cacique da Amazônia’’

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Almir Suruí lança seu primeiro livro e fala sobre luta indígena. Foto: Vanessa Moura/Portal Amazônia
Almir Suruí lança seu primeiro livro e fala sobre luta indígena. Foto: Vanessa Moura/Portal Amazônia
Almir Suruí lança seu primeiro livro e fala sobre luta indígena. Foto: Vanessa Moura/Portal Amazônia

PORTO VELHO –  A história do Povo Paiter Suruí, localizado na Terra Indígena Sete de Setembro, em Rondônia e Mato Grosso, e a importância do desenvolvimento sustentável dentro de fora das aldeias são contadas no livro ‘Salve o Planeta: A mensagem de um cacique da Amazônia’. Esse é o primeiro livro de autoria do líder indígena Almir Narayamoga Suruí e a primeira vez que a história desse povo é escrita por um indígena.

Indígena este premiado no Brasil e internacionalmente. Almir é o Líder Maior do Povo Paiter Suruí e já esteve em 36 países divulgando a cultura e a luta indígena. E aponta o desenvolvimento sustentável como o caminho para salvar o planeta. O livro começou a ser escrito em 2012 com coautoria da escritora francesa Corine Sombrun e foi finalizado em fevereiro deste ano. Em março, ocorreu o lançamento da obra, em Paris.

‘‘O livro trata sobre a Amazônia, como a Amazônia foi ocupada na década de 80,70 e também a história dos Suruí e de outros povos indígenas da Amazônia. O livro começa falando da Amazônia, aí parte para o meu povo e fala também da minha luta’’, afirma Almir. O livro também foi uma forma que Almir encontrou de divulgar a necessidade que o mundo tem de cuidar melhor dos recursos naturais e de seus povos.

Alerta

‘‘A ideia do livro surgiu porque a gente precisa lutar pela conscientização do mundo sobre floresta em pé. A gente precisa utilizar várias ferramentas que pode atingir um público maior, não só no Brasil, mas no mundo sobre porque lutamos tanto pela floresta. O planeta precisa ser protegido para contribuir com o bem comum de todos. Muita gente podia ler o livro e entender importância da Amazônia, dos povos indígenas e do desenvolvimento sustentável’’, destaca.

Para Almir, o enfrentamento ao desmatamento e o desenvolvimento a qualquer custo deve ser uma preocupação de todos. ‘‘As pessoas têm que entender que a Amazônia precisa ser respeitada. Não é só culpado o povo brasileiro, o governo brasileiro, até porque tem várias empresas multinacionais que atuam na Amazônia, será que eles sabem quais os impactos que esses mega projetos trazem para a Amazônia, para povos indígenas, para o meio ambiente, para nossos estados amazônicos?’’, questiona.

Livro busca conscientizar o mundo sobre a importância da Amazônia. Foto: Vanessa Moura/Portal Amazônia

No livro, o líder indígena busca incentivar as pessoas a compreenderem e colaborarem com a floresta Amazônia e seus povos. ‘‘Estamos alertando sobre a importância da Amazônia, mudança de clima, nós fazemos isso não porque só porque somos indígenas, mas temos responsabilidade com o nosso país, como o nosso Estado, com a nossa Amazônia’’.
Uma luta para que haja mais espaços verdes no mundo. ‘‘Se você sobrevoar o estado de Rondônia, você não consegue ver uma floresta em pé fora de uma Unidade de Conservação, fora de uma Terra Indígena. É onde que tem ainda com suas dificuldades [a conservação] do meio ambiente’’, disse.

Parceria

O livro conta com a parceria da editora francesa Albin Michel e com a escritora Corine Sombrun. ‘‘Conheci a Corine através de uma amiga, a atriz francesa Agnes Soral. Corine fala que ela é Xamã, pajé, aprendeu esse Xamanismo com os povos indígenas do Peru e também na África. Ela ajudou a escrever esse livro’’. Uma parceria que rompe fronteiras e superou a barreira dos idiomas diferentes.

Corine não fala português e nem Almir, francês, mas com ajuda de amigos a mensagem de um era traduzida para o outro. ‘‘Isso mostra para nós como é importante compromisso e respeito de você querer fazer uma coisa junto. Não tem limite, basta você ter compromisso, respeito e coragem de avançar cada vez mais’’, avalia.

Almir e Carine pensaram na ideia de escrever o livro juntos durante um evento que participaram na Suíça, em 2011.  Mas foi só em 2012 quando Corine visitou a Terra Indígena Sete de Setembro que o livro começou a ser escrito. Uma história que conta com a experiência da escritora que já chega ao seu quinto livro e o inexperiente Almir, que está sempre experimentado o novo.

Lançamento

Almir explica como foi o processo até deixar o livro pronto. ‘‘Eu vou muito na Europa. A cada um ano, um mês eu passo lá. Desse um mês eu tirava dez dias para escrever lá. A maior parte escrevi lá mesmo junto com a minha colega, a escritora. Algumas [coisas] eu complementava daqui [Rondônia] para ela por e-mail, muitas vezes usava teleconferência pelo Skype. Esses aplicativos tecnológicos são rápidos para comunicar e eu sou fã da tecnologia’’, disse. O líder indígena também trata em seu livro de 192 páginas sobre a importância da tecnologia para os povos indígenas.

O livro foi lançado em Paris, em março. Foto: Vanessa Moura/Portal Amazônia

‘‘É meu primeiro livro. A experiência é muito emocionante porque você está falando da história do próprio seu povo, sua história. Você pode achar que poxa, eu durante cerca de 20 anos de luta quase não consegui nada. Mas quando você vê escrita pensa: acho que fiz  muita coisa. Hoje eu sei que nossa luta tem contribuído. Não resolveu tudo, mas nós contribuímos muito para que a política indigenista, o movimento indígena, meio ambiente e conscientização econômica sejam feitos’’.

O livro foi lançado em Paris durante um evento em homenagem ao Brasil.  ‘‘Além disso, é uma história de luta do país, não só povos indígenas. Daqui a 100 anos, nós não sabemos como será Rondônia, por exemplo, na questão ambiental, questão indígena, mas vai está escrita aqui [no livro].  É uma tentativa de conscientizar o mundo da luta e da construção da política sustentável. Não só cobrar, denunciar, mas também tentar conscientizar políticos, empresas, consumidores que o mundo seja realmente sustentável’’, conta.

Tradução

A obra está disponível apenas no idioma francês, mas deve ainda este ano ser traduzido para o português e inglês. Pelas redes sociais, Almir recebe o retorno do público. ‘‘Já está na Europa toda. Estou recebendo várias mensagens falando que compraram meu livro, de pessoas de vários países. Do Oriente Médio já recebi mensagem, aqui no Brasil várias pessoas disseram que já adquiriram. [Gente] parabenizando, agradecendo, desejando que a luta continue e perguntando como eles podem contribuir. Aqui no Brasil, o pessoal fala que é fã, que me admira, e que represento eles Isso pra mim é muito significativo’’.

Almir vê no livro uma forma de registrar a história do povo indígena. Foto: Vanessa Moura/Portal Amazônia

O apoio das pessoas que conhecem a luta de Almir dar um fôlego a mais para que o líder indígena continue a avançar em prol dos indígenas e do meio ambiente. ‘‘Essas pessoas que me mandam mensagens são a minha força para que eu continue lutando, acreditando que ainda é possível transformar políticas públicas de desenvolvimento sustentável sério, que realmente atenda ao nosso povo amazônico’’, conta.

Incentivo

Almir incentiva que outros indígenas também contém a história de outras etnias em livros. ‘‘É importante as pessoas saberem o que os povos indígenas estão fazendo. Eu sempre falo que as pessoas só vão amar ou gostar de alguma coisa só quando ver que aquela coisa tem importância para ela. Muita gente acha que floresta não vele nada para a vida delas por falta de informações. Se nós povos indígenas tem essa relação muito próximo com a floresta e sabemos que ela é importante para a vida do ser humano porque não transmitir nossa mensagem da floresta pelo livro?’’, questiona.

A experiência em escrever o primeiro livro foi tão positiva para Almir que ela já planeja lançar uma nova obra, desta vez autobibliográfica. A expectativa é que a trajetória deste líder indígena esteja disponível para que o público a conheça a partir do próximo ano. E ele já adianta que o desafio maior da vida dele não são as ameaças externas, mas vem de dentro da própria Terra Indígena.