Jornalistas acusam PM de Rondônia por omissão em roubo de equipamentos em Porto Velho

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Ênedy Dias, Comandante Geral da PM
Ênedy Dias, Comandante Geral da PM
Ênedy Dias, Comandante Geral da PM

RIO – A Associação de Correspondentes da Imprensa Estrangeira no Brasil (Acie) publicou na última sexta-feira nota expressando alarde e preocupação com o roubo de materiais de trabalho da jornalista Juliana Barbassa e do fotógrafo Bear Guerra, em Rondônia. Os correspondentes trabalhavam para as revistas Americas Quarterly e US News & World Report e tiveram seus equipamentos roubados, após o governo estadual ordenar que a Polícia Militar não cooperasse com a cobertura que realizavam em Ariquemes, porta de entrada para uma “região que tem vivido disputa por terras entre fazendeiros e sem-terra”, segundo a ACIE.
A associação relata que os jornalistas contataram o chefe da Polícia Militar de Rondônia, coronel Ênedy Dias, que estava em Ariquemes. Dias concordou em conceder uma entrevista, mas um porta-voz do governo estadual teria ligado para informar que a polícia tinha sido instruída a não cooperar com a reportagem, porque um relatório internacional sobre o tema teria “repercussões terríveis para o Estado”. Em Porto Velho, no mesmo dia, o veículo dos correspondentes foi furtado com equipamentos, cartões de memória, arquivos de vídeo e notebooks, além da bolsa de Juliana com seu passaporte.
A Acie pede que as autoridades federais investiguem os acontecimentos e busquem explicações do estado. A associação classificou como “preocupante” a situação, independentemente de quem realizou o furto.
“É altamente preocupante que a polícia tenha sido aparentemente instruída a não cooperar com os jornalistas, sob o argumento de temor em relação à repercussão da reportagem na mídia estrangeira. Essa postura agride os princípios da transparência e também aumenta os riscos enfrentados pelos jornalistas na cobertura de áreas perigosas. Em segundo lugar, é preocupante que os materiais do repórter e fotógrafo tenham sido furtados de seu carro. Enquanto não pode ser descartado um furto oportunista, é notável que outros objetos de valor foram deixados para trás e que isso tenha acontecido logo depois de as autoridades informarem a Barbassa e Guerra que a cobertura não era bem-vinda na região”, diz a nota.
A entidade diz ainda que a “suspeita de má fé” é reforçada “pelas recentes declarações públicas, tanto do chefe da polícia e do governador (Confúcio Aires Moura), que têm chamado os trabalhadores sem terra de terroristas e criminosos, pessoas que devem ser colocadas em seu lugar e pelo fato que esta ameaça foi estendida àqueles que os apoiam”.
Procurados, o governo estadual e a Polícia Militar de Rondônia ainda não responderam ao GLOBO.
Nesta segunda-feira, a Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert) divulgou um relatório em que aponta, no Brasil, a morte de oito jornalistas e a agressão a outros 64, enquanto exerciam a profissão, somente no ano passado. Para a Abert, o país está entre os locais mais perigosos para o jornalismo. O roubo dos equipamentos dos jornalistas Juliana Barbassa e Bear Guerra, em Rondônia, não aparece no relatório da Abert, que cobre o ano de 2015, porque ocorreu este mês.

Fonte: Jornal Extra-Globo