IstoÉ: convocação de governadores para CPI da Covid foi tiro no pé dos governistas

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Foto montagem: IstoÉ
“Infelizmente o presidente ataca os governadores para mobilizar seus seguidores nas redes” Alessandro Vieira, senador (Crédito:Edilson Rodrigues)

Acuado pela investigação da CPI da Covid, Bolsonaro colocou sua tropa de choque para mudar o rumo das investigações e incluir governadores nas investigações. A artimanha era conhecida nos áudios divulgados pelo senador Jorge Kajuru (Cidadania), em 11 e 12 de abril. Na conversa, o presidente dizia que queria fazer uma “limonada” e ampliar a CPI. “Bota governadores e prefeitos”. Coincidência ou não, na manhã de quarta-feira, 2, uma operação da Polícia Federal (PF) fez buscas na casa do governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC), e de outros investigados em irregularidades com o uso da verba destinada à pandemia. O secretário de Saúde do Amazonas, Marcellus Campelo, teve mandado de prisão expedido. Por conta da operação da PF, o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD), antecipou a convocação de Lima para o dia 10 de junho, inicialmente a data era 29. Manaus, capital do Amazonas, protagonizou a maior tragédia da pandemia com a falta de oxigênio nos hospitais. Mas o presidente não calculou que os depoimentos tomados até o momento pudessem incriminá-lo. O senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) afirma que “já existem provas de que poderíamos ter ao menos 64 milhões de doses a mais da vacina”, o que foi negligenciado pelo presidente.

Senadores governistas como Eduardo Girão (Podemos-CE), Marcos Rogério (DEM-RO) e o filho do presidente, Flávio Bolsonaro, queriam a convocação massiva de governadores. Mas mudaram de opinião por opção do próprio Palácio do Planalto. Muitos depoimentos poderiam aumentar o tempo de duração da CPI. Tudo o que o governo quer evitar. A lista inicial ficou com nove governadores: Carlos Moisés (Santa Catarina), Helder Barbalho (Pará), Ibaneis Rocha (Distrito Federal), Marcos Rocha dos Santos (Rondônia), Mauro Charlesse (Tocantins), Waldez Góes (Amapá), Wellington Dias (Piauí), Wilson Lima (Amazonas), além do ex-governador Wilson Witzel (Rio de Janeiro). O depoimento do governador de São Paulo, João Doria, era o sonho dos bolsonaristas. Ele afirmou que se fosse convocado iria depor. O governador paulista afirmou que classificaria o bolsonarismo como “negacionismo que contribuiu com a morte de brasileiros. Quem não deve não teme”. A cientista política Juliana Fratini não acredita numa guerra entre governadores e Bolsonaro. Mas acredita que aqueles “que já estão em choque com o presidente, vão aproveitar a ocasião para acirrar o debate, como é o caso de Doria”, afirmou Juliana.

Convocação do presidente

O tiro pode sair pela culatra. Atento às investidas de Bolsonaro, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), vice-presidente da CPI, partiu para o contragolpe. Ele apresentou um requerimento pedindo a convocação do presidente como testemunha. Hábil, o senador disse que o precedente provocado pela convocação de governadores abriria uma brecha para intimar o presidente. O senador Marcos Rogério saiu na defesa do mandatário e disse que se tratava de uma piada: “É uma afronta à separação de poderes”. Randolfe enumerou uma série de motivos pelos quais o presidente precisaria depor e afirmou que o objetivo da CPI era apurar as omissões, especialmente, praticadas pelo governo federal e que causaram mortes.

O tema da convocação de autoridades de outros poderes gera polêmica. Em 2012, o então governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), conseguiu um habeas corpus do ministro Marco Aurélio, no Supremo Tribunal Federal (STF), para não comparecer à CPI. Motivados pela jurisprudência, 19 governadores entraram com uma ação no Supremo pedindo o mesmo tratamento. A autoria da ação, com governadores que não foram convocados, aumentou o poder político da iniciativa. A ministra Rosa Weber, concedeu, em 1º de junho, prazo de cinco dias para que o presidente da CPI, senador Omar Aziz, justifique a convocação dos governadores. O senador Alessandro Vieira diz que o “ideal seria que eles e o presidente falassem”, mas não acredita que existam condições jurídicas.

A ofensiva aos líderes dos executivos estaduais tem DNA conhecido. Bolsonaro entrou com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) contra os governadores Ratinho Junior (Paraná), Fátima Bezerra (Rio Grande do Norte) e Paulo Câmara (Pernambuco). O presidente contesta as medidas restritivas adotadas pelos governadores para conter a Covid. O negacionismo do mandatário é tão bizarro que até mesmo o aliado governador do Paraná virou alvo de suas investidas.

 

Fonte: revista ISTOÉ