IMPEACHMENT? Trump Pop Star lota arena na Flórida

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Paulo Figueiredo

Na última terça-feira dia 26 de novembro, um pesado esquema de segurança montado para um inusitado pop star movimentou a pequena cidade de Sunrise, a cerca de vinte minutos de Fort Lauderdale, na Florida. Ao lado do conhecido shopping Sawgrass Mills, no BB&T Center, Donald Trump organizava um de seus rallys – comícios em grandes arenas esportivas usados frequentemente pelo presidente americano para falar direta e pessoalmente com seu eleitorado.

Este encontro representaria uma importante prova de popularidade para Trump, que enfrenta um duro processo de impeachment, sendo massacrado diariamente pela grande mídia, incluindo por alguns âncoras da conservadora Fox News como o respeitado Chris Wallace. E apesar de gozar de níveis de aprovação próximos aos 95% entre eleitores republicanos, o agregado mais recente das pesquisas de opinião parece indicar que uma ligeira maioria dos americanos é favorável ao processo de impeachment.

Neste cenário, Trump resolveu apostar sob as condições mais adversas possíveis. A Florida, novo domicílio do presidente, é decisiva e o que se chama de swing-state, ou seja, sem uma maioria republicana sólida. Na realidade, Hillary Clinton obteve mais de 2/3 dos votos em 2016 no condado de Broward, onde aconteceu o comício. Tudo marcado para uma terça-feira, mais especialmente na semana do feriado do Thanksgiving, quando muitos americanos tradicionalmente viajam para visitar familiares. O presidente também não é exatamente mais uma novidade, mas um político com três anos de mandato e todo o desgaste que isto pode trazer.

Mas nada disso importou. Donald Trump passou no teste com louvor.

Por volta das 17:30, cerca de uma hora e meia antes do início do comício já quase não havia lugares disponíveis. Kelly, uma moradora da Florida com cerca de 50 anos e eleitora republicana desde Ronald Reagan, veio com toda a família. Estava radiante, porque seu filho, de 20 anos e estudante da ultra-liberal Universidade da Central Florida, decidiu acompanha-la pela primeira vez. Contou ainda que seus amigos que se sentaram nas primeiras fileiras haviam chegado às 8 da manhã para aguardar a abertura dos portões às 15:00, mas muitos haviam passado a noite na fila para poder ver o presidente mais de perto.

Quando, faltando cerca de dez minutos para o início oficial do evento, Brad Parscale, coordenador da campanha de reeleição, entrou para um breve discurso e pedir doações, já não havia mais lugares disponíveis, com algumas pessoas tendo ficado de fora da arena acompanhando o evento por um telão. A única exceção eram os camarotes e os lugares destinados à imprensa, parcialmente vazios, revelando o claro antagonismo das elites e da mídia a Trump.

O Vice-Presidente Mike Pence então assumiu o palanque ao som the “Eye of Tiger”, o famoso tema de Rocky Balboa. É notável sua boa relação com o comandante em chefe, a quem se refere como amigo e de quem testemunhou o trabalho duro e as dificuldades encontradas. Elencou os sucessos do governo e, muito aplaudido, falou por cerca de vinte minutos até anunciar a entrada da estrela da noite.

Donald Trump subiu no palco ao som do hit, tema da reeleição, “Proud to Be an American”, do seu amigo pessoal e ídolo country Lee Greenwood. Ovacionado sob gritos de “USA” e “Nós te amamos!”, começou abrindo o verbo: “I am working my ass off” [Dublado: “eu estou ralando o meu c* de trabalhar!”], arrancando gargalhadas da plateia. Humor, frases de efeito, histórias contadas sob uma imensa espontaneidade foram, aliás, a marca do discurso de alguém que claramente estava “em casa”. Afinal, não é coincidência que o nome do evento fosse “Homecoming” – a volta à casa.

Trump basicamente agitou sua militância em três grandes frentes: elencou e repetiu os feitos do seu governo e os valores que representa; defendeu-se das acusações que levaram ao pedido de impeachment; e, finalmente, atacou vorazmente a mídia e as elites.

Ao avaliar seu governo, lembrou o momento histórico em que a economia americana se encontra, com forte crescimento, recordes no mercado financeiro e os 6,7 milhões de postos de trabalho criados – ocasião que aproveitou para alfinetar Barack Obama, que afirmara em 2016 que empregos não surgiriam por um passe de mágica. Em seguida, falou da reconstrução do poderio militar, do apoio aos veteranos e aos “grandes guerreiros” do país, além de celebrar a morte do líder do ISIS Abu Bakr al-Baghdadi. Também se gabou dos mais de 160 juízes conservadores que nomeou, defendeu os direitos do cidadão de ter armas e reforçou sua rejeição ao aborto. E claro, falou sobre imigração ilegal, citando a queda de 70% nos cruzamentos ilegais na fronteira com o México e garantindo que o Muro estava sendo construído – momento em que foi mais aplaudido, mesmo em um local repleto de imigrantes.

Trump também aproveitou para atacar detalhadamente o que chamou de “a maior fraude da história americana” e as tentativas dos democratas de “rasgar a nação em pedaços”. Recordou as tentativas fracassadas de incriminá-lo sob acusações de conluio com os russos e utilizando o relatório do investigador especial Robert Muller. O presidente comparou os os acordos obscuros de Hilary Clinton e o suspeito emprego milionário do filho do ex-vice-presidente Joe Biden ao seu “telefonema perfeito” com o atual presidente ucraniano Volodymyr Zelenski, motivador do processo de impeachment aberto por quem ele chama de “maníacos”. Mais uma vez, sua franqueza brutal não encontra par: “That is really BULLSHIT!”, classificou em um linguajar informal que arrancou novamente risos da plateia.

Estes são reflexos do que o Trump chama repetidamente de uma nação sob um sistema fraudulento e defeituoso de uma elite que ele está derrotando, como já fez com “as dinastias Bush e Clinton”, para devolver o governo ao povo – um discurso muito alinhado ao que alguns classificam como o novo populismo. Seja como for, certamente provocou calafrios em muitos democratas ao disparar: “Eles querem me tirar porque sabem que não tem como me derrotar nas urnas. Teremos pelo menos mais 5 anos. Pelo menos!”

Mas foi contra a imprensa que Trump fuzilou com as armas de maior calibre. Em um dado momento, interrompeu um discurso e apontou para a área de mídia dizendo: “nós temos a rede Fake News aqui hoje”, referindo-se aos repórteres do canal de notícias CNN. E deitou repetidamente sua biblioteca de insultos sem pudor: “pessoas estúpidas, totalmente corruptas, horríveis, muito desonestas, falsas, tortas e fraudulentas”. O fez com embasamento, enumerando casos de falsas notícias, inclusive o fajuto infarto que teria sofrido recentemente. A multidão bradava em uníssono “CNN SUCKS!”, momento em que o presidente espirituosamente chamou a atenção para o fato de que, sob o coro nada elogioso, as câmeras da rede haviam sido desligadas – para vaias e novas gargalhadas de todos.

E do auge dos seus 73 anos de idade, Donald Trump falou com muita energia por mais de uma hora e meia e encerrou o discurso com fortes frases como “In God We Trust” e o seu slogan de reeleição “Manteremos a América Grande”. Seu eleitorado republicano, por outro lado, demonstrou que carrega o mesmo entusiasmo de quando o presidente começou sua jornada há quatro anos. Não há nenhum outro líder político no mundo no momento capaz de encher arenas esportivas. Trump mostrou que continua a fazê-lo, mesmo fora da excitação de uma campanha e sob um momento político delicado. Elizabeth Warren, Michael Bloomberg, Joe Biden ou mesmo qualquer um da família Obama parecem ser capazes de nada sequer parecido.

Que feliz de um povo que enche arenas não apenas para apoiar um time, mas uma ideia. Only in America!

Paulo Figueiredo é Economista, Empresario e Jornalista, pós-graduado em Negotiation Mastery pela Harvard Business School e em Relações Internacionais e Economia Política pela London School of Economics. Também é mestrando em Economia no MIT e pós-graduando em Governo Americano na Harvard University.