Hipocrisia republicana no futuro da suprema Corte

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Morte da juíza Ruth Ginsburg abre caminho para Trump consolidar maioria conservadora no tribunal antes das eleições, embora seu partido tenha bloqueado, há quatro anos, uma indicação de Obama

A juíza Ruth Bader Ginsburg previu a batalha partidária que irromperia em seguida ao anúncio de sua morte. “Meu desejo mais fervoroso é que eu não seja substituída até que um novo presidente seja empossado”, ditou à neta Clara dias antes de morrer de metástase de um câncer pancreático. A preocupação da incansável juíza, que lutava pela vida e justificava seus votos do leito do hospital, pelo timing de seu fim fazia sentido.

O alarme soou rapidamente entre os democratas e na vigília de manifestantes que lotaram as escadarias da Suprema Corte. Obituários exaltam a retidão com que Ginsburg, ou RBG, norteou sua trajetória pessoal e profissional ao mesmo tempo em que republicanos não escondem a pressa para preencher vaga aberta na Suprema Corte.

A apenas 44 dias das eleições, a especulação prematura e inoportuna traduz também a amargura e o ressentimento que tão bem caracterizam esta eleição nos EUA.

Ruth Bader Ginsburg em Washington DC, em 12 de setembro de 2019 — Foto: Sarah Silbiger/Reuters

e Trump indicar um juiz antes do pleito, será respaldado pelo plenário do Senado, conforme adiantou o líder da maioria republicana, Mitch McConnell. Será a chance de o presidente americano consolidar, por pelo menos uma geração, a maioria conservadora na mais alta corte americana — 6 dos 9 assentos. E desfigurar o equilíbrio ideológico em temas sensíveis como aborto, imigração, direitos às armas ou ação afirmativa.

Na tentativa de energizar a base republicana e mantê-la a seu redor, Trump divulgou, na semana passada, uma lista de 20 nomes que poderiam ser indicados à Suprema Corte caso fosse reeleito. Incluía baluartes de matriz conservadora como os senadores Ted Cruz, Tom Cotton e Josh Hawley.

A morte da juíza Ruth Ginsburg, aos 87 anos, antecipa a escolha tendo em vista a curta janela que se abre para os republicanos, explicitada de forma tão oportuna pelo líder McConnell, mal a morte da juíza foi divulgada: os presidentes da República e Senado agora são do mesmo partido. De acordo com as pesquisas eleitorais, este cenário poderá se alterar em novembro.

E há o precedente ainda fresco na memória dos americanos. Foi o mesmo senador Mitch McConnell que bloqueou, há quatro anos, a indicação de Merrick Garland pelo presidente Barack Obama, após a morte do juiz Antonin Scalia.

Faltavam 8 meses para as eleições. Mas o líder da maioria não convocou o processo de confirmação do juiz, alegando que os eleitores deveriam, primeiro, ser ouvidos no pleito de novembro. Trump venceu e, no ano seguinte, fez a sua própria indicação: Neil Gorsuch, confirmado pelo Senado republicano.

Não por acaso, o líder da minoria democrata, Chuck Schumer, repetiu, na sexta-feira (18), cada palavra proferida há 4 anos por McConnell para postergar a votação:

“O povo americano deve ter voz na escolha de seu próximo juiz da Suprema Corte. Portanto, esta vaga não deve ser preenchida até que tenhamos um novo presidente.”

É improvável, porém, que as duras críticas de infâmia e hipocrisia detenham o líder republicano no Senado e cão de guarda de Trump no Capitólio.

Fonte: G1

Por Sandra Cohen