HILDON X CRISTIANE: O RECADO DAS URNAS

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Hildon Chaves (PSDB) e Cristiane Lopes (PP)

José Bueno (*)

 

Passado o primeiro turno estou à vontade para traçar uma análise um pouco mais aprofundada sobre o recado das urnas, para a disputa de segundo turno entre HILDON e CRISTIANE para a prefeitura de Porto Velho. No primeiro turno um natural processo autofágico diante de mais de uma dezena de candidatos, o que se tornou um massacre sobre o eleitor que, diferente do que se pensa sobre processo democrático, é na realidade um modo de deturpar, distorcer e até corromper o jogo democrático das escolhas.

No marketing, nas ciências sociais e do comportamento, já se sabe que, quanto mais opções de escolha pior será a escolha. É óbvio que, quando comparamos diferentes opções, cada escolha vai significar abrir mão das outras opções. Portanto, quanto mais opções, maiores os custos para abraçar uma oportunidade, o que significa maiores custos psicológicos para optar por alguma opção.

Estudiosos como o psicólogo norte-americano Barry Schwartz, brilhante na exploração sobre o Paradoxo da Escolha, ou do arquiteto alemão Mier Van Der Rohe, autor da máxima do minimalismo “menos é mais”, consagraram a enorme dificuldade que nós humanos temos diante de escolhas com muitas opções e ofertas. O clássico estudo das geleias à venda em um supermercado apontou que, diante de 24 opções de sabores, as vendas atingiram apenas 3%. Quando apenas seis sabores foram oferecidos, as vendas foram a 30%.

Esse paradoxo empurrou para o abismo 333 mil eleitores de Porto Velho, para a escolha de um dentre 15 candidatos. E há diversas leituras bem enraizadas para apontar que, neste segundo turno, ainda não é possível cravar HILDON CHAVES como vencedor, mesmo considerando uma escolha com apenas duas opções.

É claro que o atual prefeito oferece algumas preferências naturais, entretanto, uma leitura acurada dos números aponta que o aparente céu azul está manchado de nuvens, e há forte tendência de que elas possam encobrir bastante o aparente céu de brigadeiro do tucano até o dia 29 de novembro.

Primeiro, vamos colocar os números na ordem das coisas. Dos 333.031 eleitores, quase 30% ficaram em casa, um número recorde de ABSTENÇÃO. Para os cientistas, a abstenção é o principal elemento de negação para o conjunto dos candidatos. O eleitor não se dispõe a sair de casa para votar em quem ele não quer, não acredita, não confia. Claro, há um elemento novo nesse tempero ardido que é a pandemia, mas ainda assim a taxa recorde aponta para significativa insatisfação permeada na sociedade portovelhense, em relação aos 15 candidatos, com importante recorte negativo sobre o atual prefeito.

Dono de 74.726 votos neste primeiro turno, HILDON CHAVES conseguiu a aprovação de apenas 22% dos eleitores da capital. Se formos considerar o percentual sobre a população, o prefeito conseguiu apenas e tão somente o apoio de 14% da população. Indiscutivelmente, HILDON CHAVES não é uma unanimidade.

Ele tem contra si, dos votos válidos, 145.021 eleitores que depositaram votos nas urnas para os outros 14 candidatos. Somando-se ainda os 8.630 brancos e os 12.801 nulos, HILDON CHAVES não convenceu 166.452 eleitores que foram votar. Isto significa, na conta rasa da padaria que, se os eleitores que não votaram nele se unissem no segundo turno, ele não seria reeleito. Mas não funciona assim.

O jogo do segundo turno é truculento, vocês verão. E o paradoxo da escolha deixará de existir, para centrar-se no oposto do paradoxo, que é a lógica, a razão, a sensatez. Quanto mais orientada estiver uma estratégia para o sentido contrário do paradoxo das escolhas, melhor será o impacto e o efeito sobre a opinião dos eleitores. Isso porque, baixar expectativas é a essência da felicidade humana diante de escolhas.

Os meus colegas marqueteiros costumam fazer o contrário, conduzindo as campanhas para o aumento de expectativas, o que aumenta o paradoxo, ao criar artifícios e promessas que não poderão ser cumpridas ou se revelam mentirosas por evidência.

Quando montei a estratégia da campanha vitoriosa de HILDON CHAVES em 2016, podem reparar, não coloquei foco nas promessas. Tudo foi centrado na dura realidade das coisas da cidade e a escolha que os eleitores deveriam fazer: ou continuar ou mudar. Sem falsas promessas. Uma frase que criei e que hoje faz muitos torcerem o nariz, HILDON CHAVES tornou realidade: “Porto Velho, deixa eu cuidar de você”. Ele cuidou, ainda que não tenha cuidado como muitos gostariam ou como a excessiva demanda da cidade ainda clama.

O eleitor é um animal inteligente e, ainda que tenha suas restrições naturais de toda ordem, tem a sabedoria própria das decisões humanas tomadas em conjunto. Por isso a base da democracia é o poder da escolha, preferencialmente entre duas opções, como demonstra a democracia norte-americana em seus mais de 230 anos de existência e com todos os problemas que enfrenta.

O desafio imediato da estratégia de CRISTIANE LOPES é duplo: primeiro, precisa atrair os votos de parte dos 134.991 eleitores que foram votar, mas não votaram nela; e segundo, atrair parte dos outros 91.851 eleitores que não foram votar. Isto é lição de casa. Articular mais que uma coligação, uma coalização intrapartidária, é fundamental nesse processo. É absolutamente certo que os tucanos não vão se aliar ou coligar com a maior parte dos outros partidos, e neste ponto CRISTIANE LOPES e seu Progressistas pode aglutinar forças de fato mobilizadoras neste segundo turno. Já contou com o nanico PROS e o apoio do PODEMOS, do deputado federal LEO MORAES.

Há cerca de 50 mil a 70 mil votos de outros partidos ao alcance dos dedos, e mais um pedaço importante dos votos da ABSTENÇÃO, francamente recuperáveis em segundo turno. Isto potencializa CRISTIANE LOPES para consagrar-se prefeita de Porto Velho, contrariando os prognósticos rasos elaborados por análises da superfície inacabada e dos interesses envolvidos junto do atual prefeito.

Neste exato momento não há qualquer ganhador. O que existe é um enorme desafio político eleitoral decorrente de uma eleição previamente pensada para ser fragmentada, mas esqueceram de combinar com os russos. E os russos são exímios estrategistas de surpresas.

(*) José Bueno é marketeiro e articulista político