Herdeira do Itaú critica decisões do Congresso pró-agronegócio: “Inexplicável”

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Neca Setúbal, 71, tem extensa atuação na área de educação e é herdeira do Itaú Imagem: Marlene Bergamo/Folhapress

Socióloga e herdeira do Banco Itaú, Neca Setubal criticou as decisões do Congresso que vão de encontro ao interesses no agro-negócio. Em entrevista a Miriam Leitão, para o jornal o Globo, ela explica que a atual crise climática que o Brasil enfrenta também é fruto de más decisões em âmbitos políticos. “Continuamos vendo desmatamento e o uso de produtos químicos que prejudicam o meio ambiente. O Congresso precisa entender que estamos em uma emergência climática”, reforçou.

Na conversa com a jornalista, a presidente da Fundação Tide Setubal também criticou outras prioridades do poder executivo –como a anistia dos presos da tentativa de golpe de 8 de janeiro.

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“A sociedade precisa pressionar para que isso seja tratado com urgência. E parece que o Congresso está falando da Anistia também. Não está se dando conta do que a gente está vivendo. É uma coisa inexplicável, inexplicável isso. Realmente não sei como a gente pode, enquanto sociedade, pressionar para que isso chegue até o Congresso de uma forma urgente, que a situação exige”, acrescentou.

Míriam Leitão entrevista Neca Setubal que acabou de lançar o livro ‘Minha escolha pela ação social’. Foto: Divulgação

“Falta uma maior responsabilização da elite brasileira”

Com um trabalho de décadas em âmbito filantrópico, Neca também critica integrantes da elite que não se mobilizam para reparar questões da desigualdade social brasileira.

“Ainda acho que é insuficiente [apoio das elites], principalmente se compararmos com outros países, como os Estados Unidos, que também possuem grandes desigualdades, mas onde a sociedade tem um olhar mais comunitário e a elite desempenha um papel social mais ativo. Falta uma maior responsabilização da elite brasileira, mas, na verdade, falta um senso de responsabilidade da sociedade como um todo. Há uma ideia de que “isso é papel do governo, não me cabe”. Talvez não seja apenas a elite; acho que não temos uma cultura de cidadania forte. Falta isso”, pontuou.

E, para Neca, uma das formas de lutar contra esse cenário é a taxação dos super-ricos. “Mantenho essa posição desde 2014, quando estava com a Marina Silva em sua campanha. Defendi uma Reforma Tributária que introduza uma taxação progressiva e que atinja os super-ricos. Isso é algo que precisa ser amplamente discutido pela sociedade. No Conselhão, escrevi um artigo apoiando a proposta do ministro Haddad de levar ao G20 a taxação dos super-ricos em nível global. Essa medida global pode ajudar a evitar que o capital fuja de um país para outro. Internamente, a segunda parte da Reforma Tributária deve ser progressiva e atingir os mais ricos.

A ideia da Esther Duflo, Prêmio Nobel de Economia, de direcionar essa taxação para um fundo climático também é inovadora. Ela propõe que esse fundo beneficie os países mais pobres ou de renda média e tenha um foco claro no enfrentamento das questões climáticas. Isso é algo que precisamos considerar”, finalizou.

DCM