Guajará-Mirim celebra feriado de 196 anos de independência boliviana

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Com 46,5 mil habitantes, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Guajará-Mirim é a única cidade de Rondônia com um feriado municipal único. Nesta sexta-feira (6), são comemorados os 196 anos da independência boliviana, cujas terras, em 1825, pertenciam à Espanha. Neste ano, o festejo, assim como em 2020, está suspenso para evitar a aglomeração popular, devido à legislação que estabelece cuidados máximos com a disseminação do coronavírus e suas variantes.

A Bolívia é um país multiétnico. São dez milhões de habitantes. Guayaramerín (40 mil habitantes), cidade-gêmea da brasileira Guajará-Mirim, possui um porto situado na margem esquerda do rio Mamoré. Situa-se a 93 quilômetros de Riberalta e 115 quilômetros de Trinidad.

Tradicionalmente, o festejo da independência sempre se sobressaiu desde os períodos territoriais na fronteira: Guajará-Mirim e Guayaramerín (Beni) são separadas pelo rio Mamoré, mas compartilham alegrias comuns, entre elas: o futebol, feiras de alimentos, o intercâmbio escolar e também a celebração do nosso tradicional 7 de Setembro, data da independência brasileira.

A Bolívia, hoje denominada Estado Plurinacional, é uma república democrática dividida em nove departamentos. Suas regiões são distintas: o altiplano a oeste e as planícies do leste, cuja parte norte pertence à bacia Amazônica e a parte sul à Bacia do rio da Prata, da qual faz parte o Chaco boliviano.

Ali se fala o espanhol, embora o aimará e o quéchua também sejam comuns. Além delas, outras 34 línguas indígenas são oficiais.

Considerado país em desenvolvimento, seu Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é médio. A pobreza atinge cerca de 60% da população que se dedica à agricultura, silvicultura, pesca, mineração, e bens de produção: tecidos, vestimentas, metais refinados e petróleo refinado. A Bolívia é muito rica em minerais, especialmente em estanho.

ERA MUITO ANIMADO

“Neste início de agosto, choramos a saudade de um tempo que certamente não será como antes”, lamenta a professora Olga Mejia Brasil, ex-diretora da Escola Estadual de Ensino Médio e Fundamental Simon Bolívar. A professora é filha do falecido boliviano Epifânio Mejia, natural de San Joaquim.

Segundo ela, os moradores de Guajará-Mirim estavam acostumados a vivenciar um feriado municipal “pra lá de animado e de verdadeira lição de civismo”.

“Vamos agora comemorar a independência da Pátria irmã, sentados em casa, só nos resta pedir por delivery uma boa, mas abrasileirada, saltenha e recordar de tempos tão bons”, diz.

A professora conta que os festejos começavam um dia antes da comemoração oficial: “No dia 5, já nos movimentávamos com entusiasmo, para tudo dar certo, principalmente com os estudantes. À noite havia bailes nos clubes sociais, à beira das calçadas, muita música típica boliviana e músicas brasileiras”, lembra Olga Mejia.

DOIS DIAS DE FESTA

O feriado da independência boliviana durava na verdade dois dias movidos a danças, bebidas, comida, bancas de jogos e muita gente reunida. “Bem cedo, no dia 6, Guayaramerin já estava novamente arrumada para seguir a festa, que iniciava na avenida principal com o desfile cívico; era o grande dia para todos os bolivianos e seus descendentes, e para nós, brasileiros vizinhos”, prossegue a professora.

Autoridades abriam os festejos cívicos, desfilando garbosamente, seguidos de convidados de honra, entre eles, diretores, professores e alunos de escolas brasileiras. As fanfarras também atravessavam o rio Mamoré e reforçavam o sentimento de fraternidade entre os povos, pela miscigenação das raças que formam a população local e pelo entusiasmo dos jovens em viver uma aventura internacional.

Segundo Olga Mejia, as escolas Simon Bolívar, Alkindar Brasil de Arouca, Durvalina Estilben de Oliveira (extinta em 2016) compareciam todos os anos.

“A Escola Simon Bolívar sempre gozou de um grande prestígio entre os bolivianos, porque o seu nome homenageia o líder da independência hispânica, o que rendia bons projetos de interdisciplinaridade e conexão entre escolas dos países irmãos, a exemplo dos desfiles de 6 de agosto e 7 de setembro”, relata a professora.

Segundo ela, os desfiles eram longos, mas ninguém arredava o pé, mesmo sob um sol de mais de 30 graus. Praticamente todas as associações, escolas, instituições comerciais e do poder público desfilavam.

“Nossos alunos queriam permanecer assistindo, e que trabalheira conseguir que retornassem ao Brasil antes do início da badalada tarde de festa que se arrastava até a noite do dia 6!”, conta.

Para a professora Olga Mejia e todas as direções, professores e alunos de Guajará-Mirim, as festas proporcionaram inesquecíveis aulas de patriotismo. “E como e excelente anfitrião que é o povo boliviano não economizava gentileza e atenção, o que nós retribuíamos quando recebíamos as escolas bolivianas para que participassem do desfile cívico nos festejos da Independência de nossa Pátria, Brasil; esperamos que essa memorável confraternização volte a acontecer depois que vencermos essa fase difícil da pandemia”, acrescenta.

As relações com a Bolívia são importantes para Rondônia e para o Brasil, acreditam autoridades estaduais rondonienses, entre as quais o gestor da Superintendência de Desenvolvimento Econômico e Infraestrutura (Sedi), Sérgio Gonçalves, e o diretor-presidente da Sociedade de Portos e Hidrovias (Soph), Fernando Cesar Ramos Parente.

Eles atestam a facilitação do escoamento de produtos bolivianos pela Hidrovia do Madeira e certificam que Rondônia faz parte da geoestratégica às relações com a Bolívia, país com o qual o compartilha sua maior fronteira (3.423 km) e a condição de país amazônico e platino.

SAIBA MAIS

► A Bolívia é um país com conjuntura macroeconômica estável e amplo potencial de crescimento econômico. A extensão de seu território é de aproximadamente 1,1 milhão de km² e sua população corresponde a cerca de 11,3 milhões de habitantes (2018). O FMI estima que o Produto Interno Bruto (PIB) da Bolívia alcançou US$ 40 bilhões em 2018.

► A cooperação energética tem grande importância para os dois países, constituindo insumo para a política energética brasileira e fonte de renda para a Bolívia. A parceria foi consolidada com a assinatura, em 1958, das Notas Reversais de Roboré – que suscitaram, pela primeira vez, o tema da compra de gás boliviano e da construção de um gasoduto.

► Em 1972, com o Acordo de Cooperação e Complementação Industrial, estabeleceu-se a compra pelo Brasil de gás natural boliviano e projetos voltados para o fortalecimento da economia da Bolívia.

► No final da década de 1980, o interesse brasileiro no gás boliviano foi retomado e imprimiu-se sentido de permanência e cooperação na parceria energética. Em 1999, as negociações resultaram na instalação do Gasoduto Bolívia-Brasil, que tem importante papel no aprofundamento das relações bilaterais e na criação de oportunidades de inserção econômica da Bolívia no Mercosul.

Fonte: Secom