Greve de transportadores deixa postos de BH sem combustível

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Carestia. Posto de BH reajustou gasolina para quase R$ 4,20 de um dia para o outro por falta do produto

Vários postos de gasolina da região metropolitana de Belo Horizonte já estavam fechados por falta de gasolina e álcool na tarde de sexta-feira (8) em função da paralisação dos transportadores de combustível, conhecidos como “tanqueiros”. Eles protestam contra o aumento dos preços dos combustíveis em detrimento do baixo valor do frete. “A gasolina comum acabou ontem (quinta-feira), trabalhamos hoje (sexta) com aditivada a R$ 3,99 o litro”, contou Acendino Afonso Neto, gerente do posto do Walmart na Cidade Industrial, em Contagem, que fechou as portas na sexta-feira por volta de 15h30. Segundo Acendino, não havia previsão de chegada de combustível. “Os funcionários virão amanhã para cumprir horário, mas não sabemos se seremos abastecidos”, afirmou.

Os postos que ainda tinham gasolina subiram o preço, que chegou a R$ 4,19 o litro em alguns casos. Um posto na Via Expressa reajustou o preço do litro de R$ 3,87 para R$ 4,09 na madrugada de sexta. “Passei por uns três, quatro postos antes de chegar nesse aqui (na Via Expressa). Fiquei sabendo que é por causa de uma greve, mas a gente mesmo que sai prejudicado. Fica mais caro, e quero ver se eles (os postos) vão compensar e vai cair (o preço) depois que normalizar o abastecimento”, diz o técnico de manutenção de rede Mateus Xavier, 27.

A professora Cristina Maia, 35, não encontrou etanol para abastecer e acabou colocando gasolina em um posto na avenida Tereza Cristina, no bairro Padre Eustáquio. Ela disse que “a variação de preço de um posto para o outro estava muito grande”. No estabelecimento, o etanol já tinha acabado e duas bombas de gasolina estavam vazias.

Outra preocupação de quem estava conseguindo abastecer era encher o tanque para se garantir. “Estou até contando meu dinheiro para colocar o máximo de gasolina possível para não ficar sem durante o fim de semana”, contou a arquiteta Tatiane Gonçalves Macieira, 25.

Diretor do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados do Petróleo do Estado de Minas Gerais (Minaspetro), Bráulio Chaves confirma que o risco de desabastecimento é altíssimo e destaca que a situação é grave não apenas para Belo Horizonte, mas para todo o Estado. “A situação é para lá de complicada. A Refinaria Gabriel Passos (Regap) abastece um raio de 300 km no entorno de Betim, na região metropolitana. Já está faltando combustível em muitos postos”, afirma.

Sem a opção da Regap, alguns postos estão buscando em outras regiões mais distantes, o que encarece o custo do produto. “A refinaria mais perto de Belo Horizonte é a de Paulínia, em São Paulo. Ela fica a cerca de 600 km daqui. Por isso, vai ficar mais caro”, afirma.

De acordo com Chaves, o problema vai muito além. “Não é só gasolina para carro que vai faltar. Também vai faltar diesel para abastecer os caminhões que levam comida, vai faltar combustível para ambulâncias e viaturas policiais, para o transporte público e até para os aeroportos”, ressalta. O presidente do Sindicato dos Transportadores de Combustível e Derivados de Petróleo de Minas Gerais (Sindtanque), Irani Gomes, disse que a adesão ao movimento é de 100% dos caminhoneiros.

“Os caminhões não estão indo para as bases para fazer o carregamento. Simplesmente cruzamos os braços, não estamos fazendo bloqueio de via, nem nada nesse sentido, apenas cortamos a distribuição”, informou. Eles se reuniram durante toda a sexta-feira, mas, até o fechamento dessa edição, ainda não estava definido se o movimento continuaria no sábado (9).

Também há notícias de paralisações no Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Espírito Santo, Paraná e Santa Catarina. “Nós já estávamos com situação insustentável, com o frete muito defasado. Agora, não temos alternativa a não ser cruzar os braços”, disse o vice-presidente do Sindtanque-MG, Laurimar Mattar Pereira.

Segundo ele, mais de 150 empresas, além de caminhoneiros autônomos, aderiram à greve em Minas. “Vamos continuar até chegarmos a um denominador comum com os órgãos envolvidos”, afirmou. (Colaborou Felipe Castanheira)

Governo marca reunião para terça-feira

Depois dos transtornos causados com apenas dois dias de paralisação dos transportadores de combustível, o governo agendou uma reunião com o sindicato da categoria para a próxima terça-feira. Apesar de o Estado atravessar um momento de buscar mais arrecadação, o setor deve pedir cortes no ICMS dos combustíveis.

Na sexta, circularam rumores de que alguns tanqueiros dispostos a furar a greve tiveram que ser escoltados até a refinaria. O Sindtanque-MG negou e destacou que a adesão foi de 100%.

Fonte: O Tempo