Governo bolsonarista de Rondônia frauda número de leitos para não aderir ao isolamento

0
127
Leito de UTI no Hospital de Campanha da Zona Leste em Porto Velho — Foto: Reprodução/Rede Amazônica

Está na mídia nacional. O governo de Rondônia incluiu leitos clínicos e de UTI (unidades de terapia intensiva) inativos em relatórios diários de ocupação de hospitais com pacientes com covid-19 durante os meses de dezembro e janeiro. O objetivo teria sido o de evitar que, por falta de leitos, o estado fosse obrigado a decretar medidas de isolamento social mais rígidas. Hoje, Porto Velho enfrenta um colapso na saúde pública pelo excesso de casos e precisa transferir pacientes por falta de vagas em unidades.

A denúncia foi feita pelo MP (Ministério Público) estadual, que inicia hoje um inquérito civil público para aprofundar as investigações e apontar os responsáveis pela inclusão dos números nos documentos. O UOL procurou ontem, no fim da tarde, o governo de Rondônia para que se posicionasse sobre a apuração, mas até o momento não obteve retorno. Se enviado, seu posicionamento será publicado. Os dados incluídos nos relatórios se referem a 30 leitos de UTI e 23 clínicos do Hospital de Campanha da Zona Leste, que foi desativado em 14 de outubro, ao fim da primeira fase da pandemia. No local, hoje, até existem camas e equipamentos, mas não há médicos para abrir os leitos aos pacientes.

“Eles, aproveitando-se dos resultados fraudados, regrediram Porto Velho apenas para a fase dois, que permite ficar quase tudo aberto. Naquele dia, com os dados fraudados, estava 67% de ocupação dos leitos, contando os 30 leitos. Se tirássemos os leitos fraudados, iria para ocupação de UTI de 87,5%, o que teria levado automaticamente para a fase um —e era isso que eles não queriam. Para poder camuflar os dados do relatório eles continuavam lançando esses leitos, mesmo estando inativos. E não só estavam inativos, como não havia nem sequer a possibilidade de ativá-los a qualquer momento por absoluta falta de profissionais médicos.” Geraldo Henrique Guimarães, promotor e coordenador estadual da força tarefa da covid19 do MP-RO.

 

Em vídeo divulgado ontem pela assessoria de imprensa, o secretário de Estado da Saúde, Fabrício Máximo, confirma —sem citar local— que possui leitos que não podem ser operados por falta de profissionais. “Seguimos aguardando médicos, porque temos leitos de UTI prontos com todos os equipamentos e demais profissionais aguardando somente os médicos”, afirma. Estado entrou em colapso Sem medidas de isolamento mais rígidas entre dezembro e janeiro, o estado viu o número de casos crescer e enfrenta hoje um colapso na rede pública de saúde. . Há ainda fila de espera de pacientes, que aguardam uma vaga em um hospital para iniciar o tratamento. “As adulterações já evidenciadas fizeram com que perdêssemos tempo precioso para nos prepararmos para o pior”, afirma Guimarães

 

No dia seguinte à reunião, diz o MP, o estado corrigiu os dados nos relatórios. “Eles fizeram isso depois da decisão da mudança de fase. Foi quando eu percebi e falei: ‘Nossa, isso é gravíssimo'”, conta. Diante da explosão de novos casos, um decreto com isolamento social restritivo foi publicado apenas no último dia 16, quando o governo regrediu Porto Velho para a fase 1. “Antes disso, nós nos reunimos novamente, e eles regrediram para a fase um após a cobrança do MP. Só que daí já era tarde demais”, revela.

Fonte: Folha UOL