GLOBO RURAL: FAMÍLIAS ATINGIDAS PELA CHEIA DO MADEIRA TENTAM RECOMEÇAR A VIDA

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Estação de Elevação de Esgoto ainda está alagada

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Desde o fim do ano passado, o excesso de chuva no norte do país e na Bolívia provocou uma grande cheia no rio Madeira. Por seis meses, a água não parou de subir, desalojando milhares de famílias que viviam no campo e nas cidades.

Uma cheia histórica. Em 2014, o Rio Madeira subiu 19 metros e 96 centímetros, um recorde atingido no dia 27 de março.

Cidades ficaram inundadas e, ao longo do rio, milhares de agricultores ribeirinhos perderam lavouras, rebanhos, e até mesmo as casas onde viviam. Três meses depois do auge da enchente, os prejuízos são visíveis e as famílias lutam para reconstruir suas vidas.

Nova Mamoré é um município com pouco mais de 22 mil habitantes, a 280 quilômetros da capital Porto Velho, no oeste do estado. Lá, o rio madeira marca a fronteira com a Bolívia.

Os moradores gravaram as imagens da cheia. Ninguém podia chegar, nem sair da cidade.

O comércio de Martin Pagung ficou embaixo d’água e ele ficou 90 dias sem trabalhar. O comerciante conseguiu salvar o estoque, mas muitas mercadorias venceram nesse período. “O retorno foi muito difícil e até hoje ainda continua difícil. Tenho 12 funcionários que eu precisei pagar todos os impostos deles. Até hoje está difícil o recomeço. A maior vitória é que ninguém morreu. Todo mundo teve que aprender a andar de canoa, a alagação foi forte”.

Em um trecho do Rio Madeira, em Nova Mamoré, o que sobrou da enchente foram galhos e troncos. A água inundou a rodovia e chegou a propriedades rurais do outro lado da rodovia.

A cheia foi tão violenta que os tanques de criação de tambaqui, que ficam a um quilômetro do rio, viraram uma coisa só. A criação se perdeu.

Nova Mamoré tem o segundo maior rebanho bovino para corte do estado. Na fazenda do criador Batista, os campos ficaram alagados e a pastagem morreu. Ele teve que deixar as 170 cabeças de gado no pouco que restou de pasto e agora vendeu quase todo o rebanho. Sobraram as 30 vacas leiteiras.

Em muitos trechos das estradas, o asfalto ficou coberto de terra, que agora virou poeira. Os acessos interrompidos foram  a principal dificuldade para a maioria dos criadores, como explica a agrônomo da Emater, José Renato Soares. “Nós temos na região uns quatro ou cinco frigoríficos e esse rebanho nosso ficou retido no município durante 70 dias. O boi gordo, para ser abatido nos frigoríficos, e sem poder, em razão do isolamento”.

Nova Mamoré tem uma das principais bacias leiteiras do estado de Rondônia. Com as estradas fechadas, muitos criadores se viram obrigados a suspender a ordenha. Uma agroindústria da região ficou duas semanas sem receber leite e sem produzir queijo.

Na capital Porto Velho, o coordenador estadual da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), Tarcísio Mendes, fez um balanço das perdas para a pecuária de Rondônia. “Uma estimativa de que mais de mil cabeças de animais se perdeu no rio em função das enchentes. Só de bovinos, fora pequenos animais que a enchente levou”.

Para muitos agricultores ribeirinhos do Rio Madeira, os prejuízos foram ainda mais severos: além da perda total das lavouras, o que se reflete em toda a economia do estado.

O setor agropecuário representa mais de 20% do PIB de Rondônia, segundo a diretora de assuntos estratégicos do governo, Rosana de Sousa. “Quebra tanto o produtor, quanto o estado, porque ele não arrecada. O impacto na economia do estado foi de R$ 4,1 bilhões, na agricultura em torno de R$ 1 bilhão”.

http://g1.globo.com/economia/agronegocios/noticia/2014/06/familias-atingidas-pela-cheia-do-rio-madeira-tentam-recomecar-vida.html