Geoglifos de sítios milenares tombados foram aterrados em fazenda no Acre

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Comparação entre os geoglifos originais e os aterrados Créditos: Iphan

Vestígios arqueológicos possivelmente produzidos pelo homem que viveu na região entre 800 e 2.500 anos atrás foram destruídos por tratores para a plantação de lavouras, em Capixaba, no interior do Acre.

Os desenhos geométricos conhecidos como geoglifos estavam na Fazenda Crixá II, do fazendeiro Assuero Veronez, presidente da Federação da Agricultura e Agropecuária do Acre (Feac).

Ele alega que foi ação de um funcionário à sua revelia. O Ministério Público Federal (MPF) do estado já abriu investigação para apurar o dano ao patrimônio arqueológico da União.

Veronez, dono da propriedade, afirma que a destruição aconteceu por acidente. Segundo ele, apesar de alertados a respeito da existência do sítio arqueológico, os tratoristas teriam feito o aterramento por negligência.

Segundo o paleontólogo Alceu Ranzi, que conhece os geoglifos da região há 20 anos, valas de três estruturas milenares foram aterradas para o plantio de grãos.

Imagens de satélite divulgadas pelo Iphan mostram o estrago feito pelos tratores. A superintendência do órgão pediu o embargo dos trabalhos na fazenda. Além disso, o órgão deve preparar um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC).

 

Segredos da floresta


Floresta Amazônica. Crédito: Planeta Biologia

O Acre é o estado com o maior número de geoglifos do país. Estima-se que haja cerca de 800 deles na região. Esses desenhos milenares chamam a atenção por sua precisão geométrica.

Segundo o Iphan, não existe consenso entre arqueólogos a respeito da função dessas estruturas para sociedades amazônicas pré-coloniais. Especula-se que podiam ser espaços sociais coletivos para uso cerimonial ou para moradia.

Muitas dessas estruturas se tornaram conhecidas conforma o desmatamento foi tomando conta da região, pois estavam ocultas pela selva.

Há muitas suspeitas sobre a ocupação daquelas terras por tribos bem organizadas e com certo grau de desenvolvimento, mas até agora nada ficou realmente provado.

 

O que se perdeu


Imagem aérea de 2009 mostra uma das 818 estruturas do tipo mapeadas na Amazônia.
Crédito National Geoghaphic. Foto Maurício de Paiva


Os técnicos identificaram vestígios arqueológicos, como fragmentos cerâmicos na superfície durante a fiscalização. “Destaca-se que os vestígios encontrados compõem, evidentemente, apenas um diminuto amostral do que deve haver em termos de material arqueológico na área”, diz o levantamento do local.

“Ademais, deve-se considerar também que o sítio está localizado em uma área de alto potencial arqueológico e é bastante provável que haja outros materiais arqueológicos, além daqueles visualizados”, diz o documento.

O relatório informa que o sítio arqueológico tem “indubitável significância pré-histórica” e que quando foi feito o estudo para o tombamento, em 2007, o local foi considerado em ótimo estado de preservação, com até 75% de integridade.

No documento encaminhado ao MPF, onde está em curso investigação sobre a destruição do patrimônio, o Iphan pede que seja apurado se houve concessão de licenças ambientais para as atividades agrícolas naquela área da fazenda.

Fonte: History e Estadão

Assista, abaixo, um excelente video sobre os geoglifos do Acre: