Fim da COP26: Txai Suruí alerta para necessidade de cobrar promessas do Brasil

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Ativista indígena brasileira Txai Surui disse que países fecharam os olhos para as mudanças climáticas/Foto: Fotos Públicas

Para a ativista indígena Txai Suruí COP26 teve de positiva a visibilidade alcançada pelos povos indígenas e pelo movimento quilombola. Liderança jovem ainda vê o mundo distante de alcançar metas para contornar a crise climática

A ativista indígena brasileira Txai Suruí considera que apesar da condescendência dos países europeus e dos Estados Unidos de darem um voto de confiança ao governo brasileiro sobre as promessas de zerar o desmatamento e implementar medidas concretas para contribuir com a redução do aquecimento global, é preciso que estas nações cobrem os compromissos assumidos pelo Brasil como uma premissa para realizar negociações econômicas e diplomáticas.

“É claro que o discurso [do Brasil] é mais positivo. Mas tem que ter cuidado. Esses países têm que entender que têm responsabilidade também. É importante que eles exijam que os direitos indígenas sejam respeitados como uma premissa. É o mínimo que podem fazer porque senão vão estar incentivado a destruição da Amazônia. [o que eu diria] é que o Brasil tem responsabilidade e vocês têm responsabilidade de pressionar para que isso seja realmente feito”, disse Txai Suruí, em entrevista ao programa Cruzando Fronteiras, apresentado pelo jornalista Jamil Chade, no Canal MyNews.

Para Txai Suruí, o mundo está muito distante de alcançar as metas para contornar a crise climática. Mesmo assim, ela enxerga que a COP26 teve de positiva a visibilidade alcançada pelos povos indígenas, pelo movimento quilombola e por outros segmentos da sociedade civil organizada. “Independente dos acordos, a luta vai continuar de qualquer jeito. Pessoalmente, tive a oportunidade de conhecer muita gente, muitos futuros parceiros bons. O Brasil conseguiu mostrar que no Brasil tem gente com compromisso com a pauta climática e a gente consegue reverter isso se tiver compromisso”, complementou.

A ativista indígena foi destaque no primeiro dia da conferência – com um discurso contundente sobre a necessidade de compromisso das nações com a conservação ambiental e por denunciar a situação vivida no Brasil – com o desmonte das políticas ambientais e a perseguição aos povos originários, com consequente destruição de diversos habitats. Após a repercussão de suas palavras – que reverberaram em todo o mundo, Txai Suruí passou a receber ataques nas redes sociais e também foi intimidada dentro do ambiente da COP26 por um pessoa com um crachá de identificação da comitiva brasileira.

“Depois do meu discurso, durante as entrevistas que concedi, notei que havia um homem cercando, rondando, e num certo momento ele veio interromper e não foi uma situação legal. Veio falar para que eu não atacasse o Brasil e não falasse mal do Brasil. Olhei para a credencial dele e ele falou ‘eu sou parte do Brasil’. Ali eu entendi como uma intimidação do governo brasileiro. Eu não estou atacando o Brasil. Eu estou trazendo a realidade do que está acontecendo. Se a gente fechar os olhos, a gente não vai encontrar as soluções”, contou a liderança indígena, que chegou a ser comparada pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) com o cacique indígena caiapó Raoni Metuktire – que percorreu o mundo no final da década de 1980, denunciando a situação dos povos indígenas brasileiros e da Amazônia.

“Levaram uma índia para substituir Raoni e atacar o Brasil”, disse Bolsonaro, em 3 de novembro. Após essa declaração, a jovem Txai Suruí disse que passou a ser atacada nas redes sociais com mensagens violentas e que pensa em denunciar a intimidação do governo brasileiro e as ameaças às autoridades competentes dentro da Organização das Nações Unidas.

“Saio daqui confiante e preocupada. Não imaginava o tamanho da repercussão que o discurso ia ter. É importante ouvir a voz dos povos indígenas e o sentido de urgência que a gente precisa ter neste momento. A importância dos povos indígenas estarem no centro do debate neste momento que vai decidir o nosso futuro. Levar a voz dos jovens indígenas do Brasil para o mundo. (…) A própria ONU entrou em contato comigo e a Embaixada Brasileira também, por toda a situação”, revelou Suruí, dizendo não apenas ela, mas outras lideranças indígenas também sofreram intimidações.

“Outros episódios que aconteceram com outros indígenas. Nós somos a verdadeira delegação brasileira, que está mostrando que tem gente no Brasil que tem responsabilidade e com a agenda climática. Logo depois do discurso de Bolsonaro, que disse que eu vim atacar o Brasil, recebi muitas mensagens de ódio e também surgiram algumas fakenews sobre a minha pessoa. Essas pessoas agem como se fosse uma quadrilha”, analisou.

Txai Suruí não acredita nas promessas do governo e chama atenção para a necessidade de acompanhar o que será feito a partir de agora. “O governo brasileiro não é confiável e isso é verdade. Parece uma grande falácia. Aqui se diz que vai acabar o desmatamento e proteger a floresta. Mas a política que vem acontecendo no Brasil é totalmente contrária a isso. Dados do Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) mostram que o desmatamento aumentou e que outubro foi o segundo pior mês em desmatamento. Existe a tentativa de aprovar o marco temporal e acabar com as terras indígenas e são os indígenas que vêm sustentando a floresta. Existe o desmonte dos órgãos ambientais, o desmanche da legislação ambiental. A política que está sendo executada no Brasil é totalmente contrária do discurso que está sendo feito aqui”, alertou a ativista indígena brasileira.

* A cobertura da COP26 do Canal MyNews está sendo realizada em parceria com a Vale

Veja a íntegra do Cruzando Fronteiras, com Txai Suruí e Jamil Chade, no Canal MyNews
Fonte> My News