Feminicídio: 82% das vítimas no DF foram mortas por ‘ciúmes’, diz polícia

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Um relatório da Polícia Civil do Distrito Federal mostra que das 67 mulheres assassinadas em Brasília nos últimos três anos, 55 – ou, 82% das vítimas – foram mortas por causa de ciúmes (veja abaixo).

Os dados obtidos pelo G1 se referem ao modo como a ocorrência foi registrada entre os anos de 2015 e 2018.

Fonte: PCDF

Segundo o levantamento, a maioria das mulheres mortas no ano passado, por exemplo, tinha entre 30 e 50 anos. Em seguida, estão as jovens de 18 a 29 anos, que foram vítimas em 28% dos casos registrados no DF.

Apesar da classificação da polícia se referir ao “ciúme” como causa dos assassinatos, a advogada Soraia Mendes, especialista em direitos da mulher, defende que o termo seja repensado.

Segundo ela, falar em ciúmes como causa dá ideia de passionalidade no crime. “Isso nada mais é do que reflexo do sentimento de posse, que transforma a mulher em uma coisa”, afirma.

“A violência ocorre por essa relação de posse que os homens têm sobre mulheres.”

Agressores

Entre os autores dos crimes, estão maridos, ex-companheiros e namorados. Depois aparecem vizinhos, pais das vítimas e até os próprios filhos.

Esse perfil de agressor corresponde à metade (50%) dos autores dos feminicídios ocorridos em 2018 no Distrito Federal. Nos dados da Polícia Civil, é possível traçar a relação entre o feminicídio e outros crimes já praticados pelos agressores.

De 28 assassinatos de mulheres em 2018, as investigações constataram que houve 30 autores envolvidos nas mortes, sendo que 27 já tinham antecedentes criminais.

Desse total, 11 suspeitos respondiam por crimes relacionados à Lei Maria da Penha, ameaça, roubo e furto. Os demais (16) tinham passagens pela polícia por tráfico e uso de drogas, tentativas de homicídio, lesão corporal, ameaça e maus tratos.

Nesses casos, a investigação constatou que entre os autores, a maioria (8) é de homens desempregados. Além disso, há registros de pedreiros (3 casos), policiais militares (3) e empresários como responsáveis pelos crimes.

No DF, outros dois casos de feminicídio tiveram como autores servidores públicos.

Profissão dos autores de feminicídio no DF

Profissão do autor Quantidade
Desempregado 8
Pedreiro 3
Policial Militar 3
Empresário 3
Caseiro 2
Servidor público 2
Vigia de carro 2
Garçon 2
Taxista 1
Eletricista 1
Chapeiro 1
Camelô 1
Pintor 1

Armas

Os dados mostram que as mulheres foram vítimas das agressões em casa na maioria das ocorrências (69%) de tentativa de feminicídio.

Os autores usaram armas de fogo em 16% dos casos, armas brancas – como facas e canivetes – em 62% das ocorrências e agressão física (16%) . Em 6% das situações, foram outros meios, como atropelamento e fogo ateado ao corpo, para tirar a vida das vítimas.

Feminicídio no DF

No ano passado, 28 mulheres foram assassinadas no DF. Em janeiro, a Secretaria de Segurança Pública informou que foram 29 casos – um a mais do que o dado atual. A diferença no levantamento, segundo a pasta, se dá pelo fato de que a tipificação do crime pode mudar.

Neste ano, de janeiro até esta quarta-feira (20), o GDF tinha confirmado 6 assassinatos de mulheres no DF.

Desde 2017 a Segurança Pública do DF adota um protocolo para que todas as mortes violentas de mulheres sejam, inicialmente, registradas como feminicídio. Somente após o esclarecimento dos fatos, a hipótese é descartada ou acolhida na polícia.

Casos recentes

Na noite desta terça (19), Maria dos Santos Gaudêncio, de 52 anos, foi encontrada morta dentro de casa no Itapoã. Segundo os policiais, ela foi atingida com um golpe na nuca.

A suspeita é que o crime tenha sido cometido pelo namorado, com quem ela teve um relacionamento por um ano.

Polícia fechou a rua onde fica a casa da mulher assassinada no Itapoã — Foto: TV Globo / ReproduçãoPolícia fechou a rua onde fica a casa da mulher assassinada no Itapoã — Foto: TV Globo / Reprodução

Polícia fechou a rua onde fica a casa da mulher assassinada no Itapoã — Foto: TV Globo / Reprodução

Segundo familiares, no domingo (17), os dois visitaram uma das filhas da Maria dos Santos, em Ceilândia e desde então, o namorado não foi mais visto. A filha da vítima disse ao G1 que o casal tinha um relacionamento aparentemente tranquilo e que não sabia de briga ou desavença entre os dois.

Antônio, de 40 anos, trabalhava como cabeleireiro. Vizinhos contaram que ele pediu demissão do emprego porque disse ter ‘ganhado na loteria’. As filhas contaram que Maria guardava as economias em casa, mas a polícia não encontrou o dinheiro.

Fonte: G1 DF