Família de vítima relata “extermínio” em hospital amazonense palco de estudo sobre proxalutamida

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“Aquilo foi um extermínio. Eu presenciei. Todos os dias via as pessoas morrendo ao lado”, relatou a sobrinha de uma vítima do estudo

O Hospital Regional de Itacoatiara, no Amazonas, foi centro de um experimento de médicos para testar a eficácia do remédio proxalutamida contra a Covid-19. As experiências foram defendidas pelo presidente da rede particular de saúde Samel, Luís Alberto Nicolau, que foi chamado pelo prefeito da cidade, Mário Abrahim (PSC), para “socorrer a população”, segundo reportagem da jornalista Malu Gaspar, no Globo.

Uma das pacientes do hospital era Zenite Gonzaga da Mota. Internada com Covid-19, a aposentada recebia um tratamento de antibióticos, dipirona e oxigenação, e se sentia bem.

O termo de consentimento para participar no experimento não dizia que parte dos voluntários receberia doses de placebo nem descrevia os riscos. O estudo também não tinha autorização da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep).

Contudo, o médico Michael Correia Nascimento, do corpo clínico do hospital, ofereceu a Zenite oportunidade de participar do estudo com o medicamento tido como milagroso.

A aposentada começou a ter falta de ar, e, de acordo com a sobrinha, Alessandra Saar, ficou com braço roxo, bolhas subcutâneas e arritmias. Ela chegou a ter duas paradas cardíacas, e veio a óbito em 13 de março, três dias após ter sido transferida ao Hospital Delphina Aziz, em Manaus.

Os pesquisadores anunciaram o resultado em uma transmissão ao vivo: 141 haviam morrido no grupo placebo, enquanto só 12 no grupo que havia tomado o remédio. Posteriormente, eles informaram à Conep a ocorrência de 200 óbitos.

A Conep afirmou à Procuradoria-Geral da República que os quadros clínicos dos voluntários no estudo não foram suficientemente detalhados e que, por isso, não é possível “descartar a possibilidade de morte provocada por toxicidade medicamentosa ou por procedimentos da pesquisa”.

“Mesmo assim eles não pararam com as medicações. Aquilo foi um extermínio. Eu presenciei. Todos os dias via as pessoas morrendo ao lado (da minha tia). As pessoas estavam bem, conversando, e de repente pioravam. Os médicos não aceitavam questionamentos simples nossos”, lembra Alessandra.

Após receber o prontuário de Zenite, a família descobriu que ela recebeu inalações de cloroquina. O inquérito da Polícia Civil não apura o uso da proxalutamida.

Brasil 247