ENTREVISTADO: JORNALISTA MONTEZUMA CRUZ

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Montezuma Cruz, jornalista e escritor

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O entrevistado desta quarta-feira é o jornalista Célio Montezuma Caldieri Munhoz (Montezuma Cruz nas lides jornalísticas, desde 1972). Montezuma Cruz, 60 anos, nasceu em Presidente Prudente (SP). Durante dois anos e meio foi repórter especial e depois editor de opinião no “Correio do Estado”, em Campo Grande (MS). Retornou a Brasília, atualmente trabalha no site Gente de Opinião e colaboro com outras publicações. Montezuma não é filiado a nenhum partido. É cristão espírita, botafoguense roxo e aprecia centenas de cantores, grupos musicais, orquestras e gêneros musicais. “Sou um repórter à moda antiga, editor adaptado à modernidade, e cada vez mais irrequieto e intolerante com a desenfreada limitação de verbos, adjetivos transformados em verbos, ondas medíocres de repetecos”, diz.  “Em jornais, rádios, sites e TVs nada mais se faz, acontece, nem ocorre. A reportagem ‘registra’ temporais, deslizamentos de morros, filas em hospitais, diminuição de fiéis em igrejas, ampliação na área plantada com soja, erupção de vulcões”, critica.  “Ninguém mais chuta, nem faz gols. Daqui a pouco estamos sujeitos a ouvir que ‘foram registrados dois gols no clássico do Maracanã’. Há tempos, outras pragas me atormentam: ‘agendar’ e ‘priorizar’ por (mau) exemplo. O governo não libera nem oferece créditos, mas ‘disponibiliza’. Ministros se transformam em semáforos: deixam de autorizar verbas, investimentos, para darem sinais verde ou vermelho a isso ou aquilo. Ninguém mais lhe envia a mercadoria ao cliente: ‘vai estar enviando’. Ou seja, Kuppê, sou um chato sem galochas para o dito avanço tecnológico machucado por lamentável recuo editorial nas Redações”. Este é o grande Montezuma Cruz, que nos concedeu esta entrevista com profundo conhecimento da política rondoniense, nacional e um grande crítico.

+RO: Como você vê o governo Dilma e o que achou do governo Lula no ponto de vista político e social?

Montezuma:- Desde Lula, desencanto-me com acordos deploráveis feitos com a pior essência do coronelismo político brasileiro. Poupo-me de soletrar nomes. Lula não mudou o modus operandi antigo e nefasto de arrebatar votos. Aliás, o voto não deveria ser obrigatório.  Se com FHC vivíamos o drama dos acordos com ‘raposas’ da política nacional, piorou muito com os mandatos do PT, porque a farinha do mesmo saco nunca foi esteve tão explícita. Pibinhos não chateiam tanto, mas a brincadeira infanto-juvenil de esculhambar a gestão tucana, mesmo mantendo o Banco Central no governo Lula nas mãos de quem? …de um tucano – isso sim é conto de fadas.  Acredito que a coisa mude se funcionar aqui um banco semelhante ao Grameen Bank da Índia, facilitando o microcrédito à maioria. Chateio-me com o BNDES oferecendo dinheiro a frigoríficos falidos, com obras federais abandonadas. O incompetente ex-prefeito petista em Porto Velho não foi capaz de construir um viaduto. O ministro da Fazenda é constantemente desmoralizado pelos feiticeiros exploradores das taxas e dos impostos. Vivemos no País que mais cobra impostos no mundo e dele não escapa nem a cesta básica. A reforma agrária com os devidos componentes não existe, é pura falácia, e o preconceito com os povos indígenas massacra nossos semelhantes.  A dilapidação da Amazônia é lamentável. O que o Pará ganha com a exploração de Carajás? O que dizer das privatizações ‘rebatizadas’ de concessões? Apenas isso: calam a boca dos críticos de outrora. PT faz igualzinho ao PSDB. É cínico e sórdido empurrar sujeiras para baixo do tapete, apesar de ações eficazes de tribunais de justiça e de contas públicas federais. Mantém o mesmo sistema financeiro, apoiando bancos e seus lucros estratosféricos. Desde a Esplanada às repartições federais nos estados, o empreguismo em órgãos públicos só piorou. Contrata-se pelo compadrio político, não pela competência. A máquina ‘come’ o dinheiro que faria crescer a pesquisa agropecuária e a ciência. Faça um teste com os serviços telefônicos da Previdência Social e da Receita Federal ao cidadão: deixam a desejar. Foi medonha a maquiagem no balanço da Caixa Econômica Federal, depois do confisco dos restos de contas de poupança. Por melhores e justos que sejam, acordos internacionais, a exemplo do perdão aos países africanos, da aceitação dos flagelados haitianos, deixam a escanteio uma série de outros igualmente importantes.

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+RO: Como você vê o governo Confúcio Moura?

Montezuma:- O médico e administrador não provou ainda ser melhor que o médico e parlamentar. O governador Confúcio pôs os dedos nas feridas, escancarando a realidade rondoniense pós-investimentos hidrelétricos. No entanto, está devendo muito à saúde, à educação, à reforma agrária, à segurança pública e ao funcionalismo. Não deu conta de ações anticorrupção contra intocáveis. O secretariado deixou a desejar. Ao mesmo tempo em que mostrou fotos de desmatamentos em áreas de proteção ambiental, esquivou-se de combater madeireiros ilegais em terras comuns ou indígenas. E descumpriu um termo de ajustamento de conduto, pelo qual reassentaria famílias do Rio Pardo, que é atualmente uma das iminentes tragédias amazônicas.  Confúcio denunciou o óbvio ao governo federal, afirmando que a maioria dos crimes contra o patrimônio e homicídios concentra-se na fronteira Brasil-Bolívia. Nesse caso, sozinho não enfrenta um décimo do que faz o narcotráfico internacional. Nem ele, nem o Exército Nacional, cujo orçamento e planos para as fronteiras demandam investimentos até os próximos cinco anos. Nesse aspecto, descontemos, então, a culpabilidade do governador. Instalar-se no imponente palácio construído por Cassol significou a contramão do que fez Jerônimo Santana, que abominou “o Palácio da ditadura”, ao referir-se ao Palácio Presidente Vargas. O governo estadual descambou e corre o risco de ficar à mercê de acordões que poderiam fazer corar frade pedra. Dois cidadãos comandarão a ferro e a fogo a sucessão estadual. Querem segurar bem o osso: eles, os inimigos de ontem, senadores Valdir Raupp e Ivo Cassol. Isso nocauteia definitivamente o PMDB autêntico, se é que dele ainda restam algumas vestes. E apaga a última chama do PT, que ensaia a candidatura do padre Ton. Governar amarrado a parlamentares notadamente corruptos é tão condenável quanto administrar Rondônia com serviçais e permitir a secretários trabalhar fora de um padrão previamente estabelecido. Com pulso e garra, deveria ter se ombreado mais ao lado dos necessitados, do que admitir estapafúrdios favorecimentos a quem já deteve o mando no estado. Nota sete.

+RO:- Como você vê a administração Mauro Nazif?

Montezuma: – O prefeito de Porto Velho tem prazo quase esgotado para retomar dar rumo à retomada moral e orçamentária do município. Porto Velho tem um território enorme, no qual caberiam pelo menos dois países europeus. A herança deixada pelo antecessor não deve ser obstáculo para ousar, criar e fazer. Compromete-se agora adquirir com recursos próprios 110 máquinas para “combater alagações”. É preciso pressa e não mais se admite errar, porque a cidade acumula malfeitos por todo lado. Inaceitável Porto Velho seguir integrando a estatística negativa do saneamento básico nacional. Nota sete para o prefeito também. Assembleia Legislativa? Nota cinco, sem exagero ou apelação.

+RO:- Como vê a atuação da Câmara dos Vereadores?

Montezuma: – Também deixa a desejar, e não apenas na atual legislatura. Seu papel não vem correspondendo há tempos, com raríssimas exceções e, mesmo assim, impontuais. Nota seis.

+RO:- Copa do Mundo! O Brasil deve ser campeão? Por quê?

Montezuma: – Sim. É a nossa melhor alegria. A Copa nos permite abraços, mãos dadas e até nos beijamos uns aos outros. Nela conseguimos nos enxergar. O torneio nos traz alegrias, apesar de as vozes das ruas apontarem rigorosamente a diferença oceânica entre bilhões de reais investidos em estádios e apenas milhões em combalidos hospitais regionais. Que ela não nos anestesie na hora do voto, o qual, reafirmo, deveria por direito e decência, ser facultativo, no entanto, a maioria do Congresso é pusilânime e se imagina democrática. Então, prestemos bem atenção à lista dos fichas-sujas. Ela existe legalmente! E nossa imagem lá fora é tão embaçada quanto à dos demais países campeões de corrupção.

+RO:- Futebol regional. Por que o nosso futebol não vai para frente? Falta o quê?

Montezuma:- Outras categorias também padecem por falta de apoio – maratonistas por exemplo. Esse apoio não implica diretamente dinheiro público; é uma causa, digamos, empresarial. Faltam dirigentes de pulso, corretos, que fujam da política de “Maria vai com as outras” dominante na CBF e nas federações desde o regime militar. Quem se atreve?

+RO:- Quais deputados federais mais se destacam? Por quê?

Montezuma:- Analiso com a ótica do que ocorreu em 2013: cada qual no seu quadrado, mesmo a gente podendo divergir deles em determinados aspectos: Padre Ton, Marinha Raupp e Moreira Mendes. Porque compareceram assiduamente a reuniões de comissões permanentes, visitaram ministérios, obtiveram recursos para Rondônia e dialogaram. Ser deputado federal, no meio de cinco centenas exige algo: levantar cedo, informar-se, desviar-se de mediocridades e aleivosias palacianas ou de corredores, receber correligionários e também os adversários, se for o caso.

+RO:- Qual dos senadores mais se destacou? Por quê?

Montezuma:- Cassol retomou o discurso do ex-senador Ernandes Amorim, lamentando que Rondônia continue pagando a dívida do extinto Beron. Garganteou contra a administração do Banco Central, em regime especial temporário, considerando-a “desastrosa”. Não disse uma só palavra a respeito do uso de bancos estaduais em campanhas políticas. A dívida acumulada soma entre R$ 12 milhões e R$ 15 milhões descontados todo mês. Cassol tem conseguido recursos para rodovias no interior do estado, mas está carimbado: é o primeiro senador e o 11ª parlamentar condenado por fraude em licitações (quatro anos e oito meses) pelo Supremo Tribunal Federal desde a vigência da Constituição de 1988, recolhe apenas a multa de R$ 201,8 mil, com atualizações. Agora, une-se ao ex-inimigo Raupp para continuar mandando em Rondônia. Na média, cada um dos senadores rondonienses têm seus valores, embora eles ainda não superem suas falhas gritantes. Raupp teve que demitir um lobista envolvido com o setor elétrico. Se quisesse, repararia seu erro quando governador, cometido na Chacina de Corumbiara (1995). Exigiria do governo federal urgência no apoio às famílias das vítimas, inclusive aos militares que morreram no massacre. De outro lado, Raupp surpreende, mesmo reeditando um discurso clássico do período ditatorial: exige da Superintendência da Zona Franca de Manaus apoiar Guajará-Mirim, desconcentrando-se dos seus investimentos maciços na capital amazonense. Acir Gurgacz debitou à tesouraria dessa Casa gastos feitos para abastecer o seu próprio avião. Contrariou o Ato nº 10, voando para outros estados com o dinheiro de sua cota. Na verdade, o Senado-mãe, Casa do Perdão, Céu – seus mais conhecidos apelidos –, onde quase tudo se admite, restituiu-lhe despesas de querosene feitas no interior dos estados do Amazonas, Mato Grosso, Paraná, Roraima e São Paulo. Quero crer que o seu louvável apoio ao Povo Indígena Cinta-larga se dissocie dos lobbies do setor mineral, pois esses elegem parlamentares do Caburaí ao Chuí, tal qual as maiores empreiteiras do País.
+RO:- Diga o nome de um candidato ao governo de sua preferência. Por quê?
Montezuma:_ No momento não me convenço em soletrar o nome de alguém. Muito menos, sigla partidária. Partidos jogaram fora seus programas e as ruas devem decretar mudanças no modo de escolha e temos aí milhares de jovens eleitores em Rondônia.

+RO:- Rondônia tem liderança política nata ou ainda vai se consolidar politicamente como Amazonas, Acre, Pará, etc?

Montezuma:- A bancada só se fortalece quando se une às demais. Um dia indaguei ao deputado Nilson Pinto (PSDB-PA) se a região mereceria ações mais articuladas. Ele explicou que desdobramentos históricos motivaram a diferenciação política e, por isso, nem todos defendem as mesmas propostas. Justificou-me, por exemplo, as atividades econômicas, dizendo que o Amazonas tem um modelo estabelecido a partir da Zona Franca e baseado na subvenção estatal, na isenção fiscal que criou um polo industrial importante, mas que beneficia basicamente o vizinho estado. Lembrou-me que o polo causou um vazio demográfico, pois a população foi morar na capital. E mencionou outro modelo, o extrativista, desenvolvido pelo Acre para contemplar pequenas propriedades. Não creio na qualificação de “líderes políticos natos”. Mesmo assim, eles não agem sozinhos. Vê-se que existem Amazônias e não apenas Amazônia.

 

+RO:- O que você acha da criminalidade que assola o País, em especial Rondônia?

Montezuma:- Mesmo sendo um problema de competência dos governantes, não me detenho à aprovação de leis mais rígidas, tampouco concordo com a surrada tese da redução da imputabilidade penal, que duplicaria de 15 a 16 para 30 a lotação de uma cela, a exemplo do que já ocorre nos principais presídios de Brasília. Algo totalmente inviável, repugnante. Dadas as pirâmides e diferenças sociais, Moisés está cada vez mais distante da gente: o mandamento “Amai-vos uns aos outros” perde o sentido espiritual para se transformar em música e poesia. Não entro no mérito do debate a respeito de taxas de homicídio a menos ou a mais. Sintetizo o meu pensamento, vontade e sonho em ver a redução da desigualdade, e o País pode fazer isso, não apenas com a distribuição de cestas básicas e dinheiro mensal, muito menos com uma ou outra redução na taxa de juros. Ao mesmo tempo, investir plenamente no declínio das taxas de evasão escolar, sem ter que chamar o Pelé para dizer que “lugar de criança é na escola. E oferecer condições de trabalho às pessoas. Aprendi desde menino que o trabalho vence o crime. Isso faz parte da inversão das prioridades: não basta exportarmos mais, precisamos nos valorizar mais.

 

+RO:- Como você vê o projeto de se aplicar 75% do royalty do petróleo em educação?

Montezuma:- Números quase sempre convencem editores de jornais e políticos que creem em Papai Noel e virgindade em bordel.  E não são poucos. Por isso, esse percentual só me convencerá quando a Petrobras provar que é honesta, 60 anos depois de criada. E, igualmente importante: depois que esse petróleo deixar o fundo do mar. Que não se ofendam os engenheiros da Petrobras…

+RO:- Lei das cotas raciais para ingresso em concurso público e universidades. É contra ou a favor?

Montezuma: – Não vejo alternativa mais enérgica e de resultados, embora defenda o máximo empenho em garantir vagas no Ensino Público para quem faz jus a elas, seja qual forma cor da pele do indivíduo. O presidente do STF chegou aonde chegou sem se valer de cota alguma. Diante da realidade nacional, da exploração, do preconceito, do massacre racial, da falência da Universidade Pública e da corrupção em suas entranhas, as cotas constituem ponto de equilíbrio.

 

+RO:- Em sua opinião, Rondônia tem cultura? Os eventos culturais estão a contento?

Montezuma:- Melhoraram muito. A essa altura, o estado segue no rumo do vento e mais não faz porque outros setores estão destrambelhados. Em Rondônia, para se aceitar investimentos no setor cultural, os demais devem estar “uma joia”. Quando isso acontecerá, só Deus sabe.

+RO:- Como você vê a chegada (finalmente) do Teatro Estadual que inaugura em abril?

Montezuma:- Rondônia merece.

Que personalidade de mundo cultural (já falecido) deveria dar nome ao teatro estadual?

Montezuma:- Menciono alguns nomes: o advogado, magistrado e poeta Fouad Darwich Zacharias, primeiro presidente do Tribunal de Justiça do Estado; Vitor Hugo, autor do livro “Os Desbravadores”, religioso dedicado ao rádio e à educação salesiana; Kleon Maryan (Cleonice Queiroz), sem dúvida, a maior mobilizadora dos escritores e poetas em atividade, numa época em que ainda não havia Academia de Letras. Jornalistas Sérgio Valente, Vinícius Danin, Roberto Vieira, Paulo Caldas, todos eles notáveis apoiadores das artes e da cultura rondoniense. Há outros, e bastaria a seleção de nomes ser submetida à escolha popular, notadamente em ambientes escolares, acadêmicos, nos plenários legislativos e entre antigos que por ventura tenham conhecido o trabalho dessas pessoas.

+RO:- Como você vê nome de escolas públicas homenagearem familiares de políticos corruptos?

Montezuma:- Talvez, desvio de ética e de conduta de quem votou favoravelmente à escolha. É lamentável que políticos que deveriam se dedicar melhor ao desempenho de seus mandatos, optem pela pior forma de atuação.

 

+RO:- O Programa Mais Médico foi uma boa iniciativa do Governo Federal?

Montezuma:- Gosto do programa. Ele me parece um pedaço da tábua da salvação. Quem conhece a realidade brasileira de perto sabe da importância de um médico ouvindo a pessoa, olho no olho, acompanhando a sua dor ou inquietude. Faltam médicos no SUS na periferia das grandes cidades. No entanto, frustro-me com os congressistas e com o próprio governo quando não permitem que o médico brasileiro tenha salário justo e condições de trabalho nos cantões que mais necessitam deles. Veja a situação dos hospitais universitários sucateados, alguns dos quais, vítimas da malversação do dinheiro federal, exigindo total revolução de valores. O governo e o Conselho Federal de Medicina deveriam não obrigar, mas propor bons incentivos àqueles decididos a não fazer parte da grave concentração de médicos em grandes cidades e nas capitais.

+RO:- Como você vê atuação liberal do Papa Francisco? É uma nova era da religião católica?

Montezuma:- Com Francisco, a Igreja Católica paga seus pecados, se recompõe, organiza métodos administrativos modernos e convincentes. E conclui: primeiro é preciso arrumar a casa, o que pressupõe irmanar-se também a outros seguidores de Jesus. Veio a hecatombe do Banco do Vaticano, os processos por pedofilia, e muitas colunas ruíram, porém, a essência da fé permaneceu. O Papa Francisco tem jeito de revolucionário de costumes. Acredito que ele mostrará aos cardeais dirigentes, sobretudo aos padres, as reais diferenças entre mitos, dogmas, e o verdadeiro sentido do amor ao próximo.

+RO:- Você é contra ou a favor do casamento entre pessoas do mesmo sexo. Por quê?

Contra ou a favor me parece um tanto simplista. Em pouco mais de quatro décadas de profissão tive amigas e amigos homossexuais, e os respeitei. Vi amor entre pais com filhos homossexuais, porém, vi também incompreensões e desprezo. Soube de homossexuais que adotaram legalmente crianças, dando-lhes muito mais amor do que elas teriam de pais atormentados por drogas. A adoção é importantíssima para o Brasil atual. Infelizmente, também soube de desavenças causadas por interferências de terceiros, já que casais em sociedade não conseguem isolar-se por toda a vida.

 

Examino e não me sinto capaz de avaliar tudo “no atacado”. Há muitas situações totalmente diferentes. Conhecendo pessoas e alguma literatura de diferentes autores espíritas cristãos, percebo que a construção do conhecimento se dá na valorização do outro e da vida, dentro de um equilíbrio harmônico. Ensinam que o amor tem caráter transdisciplinar, uma vez que é uma essência manifesta em diferentes existências. Hoje me preocupam as consequências dolorosas da utilização do amor com devassidão e libertinagem, visando tão somente prazer, vingança ou desespero, em prejuízo do crescimento evolutivo. Outro dia vi um padre na TV alertando para a divisão em relação à união gay. Ele lembrou que as religiões têm direito a não aceitá-la, no entanto, devem respeitar o aspecto cível, no qual não devemos interferir. Trata-se do direito de duas pessoas reconhecerem uma sociedade existente entre elas, ele advertiu. Defendeu como atitude correta avaliar os valores que sustentam uma relação. “Se eles dignificarem a vida são positivos, independente da forma em que se manifestem”. Dignidade é tudo.