ENTREVISTA: AIRTON GURGACZ, VICE-GOVERNADOR E DIRETOR GERAL DO DETRAN

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airtonO entrevistado desta semana do programa Fala Governo é o vice-governador de Rondônia e diretor-geral do Detran-RO, Airton Pedro Gurgacz. Ele fala sobre as principais causas para o aumento do número de mortes no trânsito. Segundo ele, a imprudência – alta velocidade e grande consumo de álcool por parte das pessoas, acompanhados da direção – são as maiores causas de óbitos no trânsito, não só em Rondônia, mas em todo o Brasil.

Com uma frota de 800 mil veículos em Rondônia, o Detran arrecada com o IPVA quase R$ 170 milhões por ano. Mas Gurgacz ressalta: “o Detran não é o “primo rico” que todo mundo pensa”. E explica: “metade desse valor fica com os municípios”. O vice-governador também fala sobre sua chegada a Rondônia e a história de empreendedorismo da família Gurgacz, na entrevista a seguir.

Como foi sua vinda a Rondônia?

Vim a Rondônia em 1976, na trilha de meu irmão, Assis, que já havia se estabelecido quatro anos antes. Cheguei pela primeira vez em Vila Rondônia (atual Ji-Paraná), oriundo de Cascavel, no Paraná, e em Ji-Paraná intensificamos nossasd atividades comerciais. Nossa família está no estado há mais de quatro décadas. Na área empresarial, atuamos em logística e transportes, com o Grupo Eucatur, na indústria de mármores e granitos, com a Gramazon, e na área de comunicação, por meio da Rede TV e do Diário da Amazônia.

Como foi o início em Rondônia?

Quando chegamos aqui, Rondônia tinha apenas dois municípios: Guajará-Mirim e Porto Velho. Tínhamos vereadores em Vila Rondônia que trabalhavam na capital, onde estava a Câmara de Vereadores. Depois, com o tempo, foram surgindo novos municípios.

Por que ficar em Vila de Rondônia e não em Porto Velho?

Porque no interior nós tínhamos a facilidade do Incra, que na época estava abrindo vários setores de terras e fazendo doações. O Incra dava terreno, abria estrada, contratava os ônibus e ainda pagava passagem para as pessoas receberem os títulos de terras. Hoje me sinto muito feliz por essa conquista nossa e do povo de Rondônia, por ter vivido e acompanhado esse momento tão bonito do nosso Estado.

Vamos falar um pouco do Detran. Qual o tamanho da frota de veículos de Rondônia?

Hoje temos aproximadamente 800 mil veículos em Rondônia, e 67% são motocicletas. É moto pra todo lado, por isso tanto acidente. A gente tem trabalhado em várias campanhas. Quando assumimos o Detran, o governador Confúcio Moura nos pediu que fosse criada uma Escola Pública de Trânsito. Nunca se viu tanta campanha com o objetivo de diminuir o número de acidentes, como agora. Estamos com ações em todo Estado.

O que tem sido feito para diminuir o número de acidentes de trânsito?

Em janeiro de 2011, tínhamos uma média de 180 acidentes na nossa capital por final de semana (sexta, sábado e domingo). Hoje, depois que aumentamos a presença das blitze e intensificamos a Operação Lei Seca, a média baixou para 45 acidentados no João Paulo II. Hoje temos menos mortes, menos pessoas mutiladas e menos gente nos hospitais. Mas ainda temos muito a fazer.

Qual o impacto dos acidentes sobre os números gerais da saúde no estado?

O governador tem feito muito pela saúde do Estado, mas o elevado número de acidentes às vezes não deixa mostrar o tanto que já foi feito nos hospitais. Nessa área, o governador Confúcio Moura foi fantástico. Mas saúde parece que não tem jeito, nunca vai acabar o problema e principalmente essa questão de acidentes. É uma guerra que não tem vencedor. Só tem vencidos, infelizmente. Por quê temos tantos acidentes? Porque o pessoal não respeita a sinalização, bebe e sai dirigindo. E por aí vai…

Como está a estrutura do Batalhão de Trânsito?

Em 1988 o Batalhão de Trânsito da Capital tinha 300 homens e hoje, 25 anos depois, o contingente é o mesmo, ou até menor, porque muitos já se aposentaram. Por outro lado, naquela época nossa população tinha 22 mil carros, hoje temos 230 mil, ou seja, dez vezes mais!

Como funciona o DPVAT? Quais os valores dos benefícios aos acidentados?

O Seguro Obrigatório (DPVAT) é federal. A verba é destinada para indenização de vítimas em caso de morte, invalidez ou cobertura de despesas médicas e hospitalares. Os valores podem chegar a R$ 12 mil. Mas as vítimas e familiares devem estar alertas, pois existem muitos escritórios lucrando com a boa fé dessas pessoas. Nossa orientação é que as pessoas procurem diretamente o INSS e o Detran, e evitem esses escritórios.

Como está a questão do uso do simulador de direção veicular na formação de condutores?

A obrigatoriedade do simulador deveria valer a partir de janeiro, mas o Contran prorrogou o prazo para os centros de formação de condutores de todo o país instalarem o simulador até 30 de junho. A adequação a esta norma tem tido resistência por parte dos empresários das auto-escolas em todo o Brasil, não só em Rondônia. É uma máquina cara. Acho que o Governo Federal deveria se preocupar com um simulador para motocicletas, até porque 87% dos acidentes envolvem motos. É onde está o gargalo. E na próxima reunião do Denatran vamos cobrar isso.

Para onde vai o dinheiro do IPVA? É verdade que Rondônia tem o menor IPVA do país?

No mês passado arrecadamos R$ 13,5 milhões, ou seja, cerca de R$ 170 milhões anuais. Mas não somos o ‘primo rico’ do Governo, como alguns pensam. É que metade desse bolo vai para os municípios e a outra metade para o Estado. E a Folha de São Paulo confirmou: o menor IPVA pago no país é aqui em Rondônia.

Quais são as ações que estão sendo aplicadas na educação do trânsito?

Temos cinco núcleos da Escola de Trânsito, em Porto Velho, Ariquemes, Ji-Paraná, Cacoal e Vilhena. Temos feito palestras em todas as escolas, isso tudo por orientação do nosso governador. Investimos muito na educação de trânsito. Entendemos que pela educação das crianças nós teremos motoristas melhores no futuro.

Por quê grande parte do número de acidentes envolve os condutores de motos?

A moto é mais vulnerável, ela é inferior ao automóvel. No momento em que a pessoa bate de moto, só tem uma coisa: o chão. Já estando de carro, a pessoa pode até bater o rosto no volante, no pára-brisa, mas não vai cair, não vai se machucar se estiver com o cinto de segurança. Mas a moto é muito vulnerável, perigosa.

O senhor não acha que grande parte desse número de acidentes seria por excesso de velocidade? Se fizéssemos blitze mais freqüentes, esses índices não cairiam?

Verdade. Até porque estamos perdendo vidas e isso não tem preço. Cerca de 80% das pessoas que morrem em acidentes são jovens. Hoje temos a fiscalização da Lei Seca, são presos de 30 a 40 condutores por final de semana. Mas o governo necessita investir mais em fiscalização e, principalmente, no policial militar de trânsito. Sem fiscalização não tem jeito…

Qual a sua opinião sobre o movimento grevista no Detran?

Foi uma greve política. Os servidores queriam uma revisão no PCCR e um novo concurso público, que será feito. Mas também queriam uma gratificação de R$ 1.500 reais, só que isso não é possível, porque nossa arrecadação mensal chega a R$ 14 milhões, temos que manter o pé no chão.

Quantos funcionários tem hoje o Detran?

O Detran tem cerca de mil funcionários de carreira e 300 estagiários, atuando em todos os 52 municípios do estado e em outros 20 postos avançados. É uma equipe boa, trabalhamos e atendemos mesmo com a greve. Estávamos com problemas nos setores de habilitação. O problema maior era na GTI (gerência de tecnologia da informação), que é onde o pessoal estava mais reticente ao fim da greve.

Quantas vagas serão colocadas no concurso do Detran?

Serão colocadas 180 vagas, na maioria para atendimento ao público, principalmente no eixo da BR-364, porque nas outras cidades pequenas o trabalho tem sido feito com tranquilidade. Precisamos aumentar nosso quadro em Cacoal, Pimenta Bueno e Vilhena. Em Porto Velho, temos que melhorar nosso centro de habilitação.

Como está a interligação dos municípios com o Detran? Estão todos online?

Estão online, mas tem que melhorar. Precisamos instalar a biometria nos 52 municípios, que hoje só existe em dez. O Tribunal de Contas está analisando o processo e a hora que resolver isso, vamos eliminar esse problema. O que é vontade do governador Confúcio: é que a habilitação do camarada chegue em casa. Quando estiver com CNH vencida, que a pessoa seja informada com antecedência. Acredito que ainda demora um pouco, mas com certeza vamos chegar lá.