Enfermeiro com Covid-19 denuncia falta de assistência médica horas antes de morrer

0
157
Enfermeiro Evandro da Silva Costa faleceu por Covid-19, em Macapá — Foto: Rede Amazônica/Reprodução Enfermeiro Evandro da Silva Costa faleceu por Covid-19, em Macapá — Foto: Rede Amazônica/Reprodução

Foi no local de trabalho que o enfermeiro Evandro da Silva Costa pediu socorro. Diagnosticado com Covid-19, ele estava internado no Hospital de Clínicas Alberto Lima (Hcal), no Centro de Macapá, e mesmo contra vontade foi transferido para o Centro Covid 2, na Zona Norte da capital.

Ele faleceu na sexta-feira (15). Ao chegar na unidade, segundo amigos, Evandro não recebeu medicamentos e assistência médica, com isso denunciou a situação em uma rede social.

Em uma das mensagens ele diz que não foi levado para uma UTI com respirador: “aqui só me jogaram em sala com O2”. Em outro trecho, o enfermeiro afirma: “me mandaram pra morrer, estou sem assistência alguma. Só no oxigênio. Vou morrer colegas”.

O profissional morreu logo depois de enviar as mensagens. Segundo o amigo e também enfermeiro, Odilon Ribeiro, Evandro estava em uma sala sem assistência médica e teve até que beber água da pia.

“Ele não teve nenhuma assistência. Eu conversei com ele na madrugada anterior da morte dele onde ele me relata que ele tava em uma sala sozinho abandonado, e ele chegou a beber água da pia. Isso é muito dolorido. Isso é muito cruel”, contou Ribeiro.

Protesto na Avenida FAB — Foto: Rede Amazônica/Reprodução

Protesto na Avenida FAB — Foto: Rede Amazônica/Reprodução

Neste sábado (16), enfermeiros, técnicos e auxiliares fizeram manifestação na Avenida FAB, em frente ao Hcal. Além de Evandro, mais dois trabalhadores da saúde faleceram na sexta-feira devido o novo coronavírus: as técnicas de enfermagem Viviane Brito e Sayonara de Souza Vaz.

Viviane atuava na Unidade Básica de Saúde (UBS) do distrito da Fazendinha, a 9 quilômetros de Macapá. Sayonara trabalhava na UBS Américo Coelho, no município de Cutias do Araguari, distante 135 quilômetros da capital.

Participante da manifestação, a enfermeira do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), Maria Araújo, afirmou que o sistema de saúde do Amapá está colapsado. Ela conta que foi afastada do trabalho devido a doença.

“O sistema está colapsado. Nós do Samu transferíamos em um plantão mais de 10 pacientes. Hoje, nós somos mais de 20 trabalhadores afastados. Nós estamos voltando aos poucos. Eu também fui afastada por Covid”, relatou a enfermeira.

Secretária-adjunta de enfrentamento da Covid-19, Maracy Andrade — Foto: Rede Amazônica/Reprodução

Secretária-adjunta de enfrentamento da Covid-19, Maracy Andrade — Foto: Rede Amazônica/Reprodução

A secretaria-adjunta de Enfrentamento a Covid-19, Maracy Andrade, declarou durante entrevista ao JAP1 deste sábado, que o Estado vai abrir um espaço atendimento exclusivo a trabalhadores da saúde e militares já diagnosticados.

“A Secretaria de Saúde e eu mesmo pessoalmente venho à público lamentar e falar o pesar das perdas que aconteceram ontem. Em relação a essa tratativa de atendimento ao profissional de saúde que está doente e exposto: hoje, o secretário de saúde me falou que vai receber na segunda-feira [18] o sindicato dos profissionais da área de saúde justamente, entre outras alternativas, tratar desse atendimento especializado”, garantiu Maracy.

O Amapá chegou aos 3,8 mil infectados pelo novo coronavírus e 108 mortes em decorrência da doença neste sábado. Na sexta-feira, Estado e Município decretaram “lockdown”, que inclui na capital o rodízio de veículos.

G1 Amapá