Enfermeira que debochou da vacina contra Covid-19 é demitida de hospital

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Após publicar em uma rede social vídeos em que aparecia sem máscara no local de trabalho e, em outro momento, debochando da vacina contra a Covid-19, a enfermeira Nathanna Ceschim foi desligada do Hospital da Santa Casa de Misericórdia de Vitória.

A informação foi dada pela enfermeira à reportagem do portal “A Gazeta” e confirmada pelo G1. Procurada, a Santa Casa disse apenas que “já tomou todas as medidas cabíveis relacionadas ao assunto e que não mais se manifestará sobre o ocorrido”.

As publicações que motivaram a polêmica foram feitas por Nathanna na sexta-feira (22) em seu perfil, que estava público. Em um dos vídeos, ela mostra um comprovante de vacinação e desdenha da vacina. “Tomei por conta que eu quero viajar, não para me sentir mais segura. Porque uma vacina que dá 50% de segurança para mim não é uma vacina. Tomei foi água”, disse no vídeo. Uma outra gravação, também feita por ela, mostra a enfermeira sem máscara dentro do hospital.

Nathanna foi imunizada na última terça-feira (19) porque atuava na linha de frente do combate ao coronavírus e, por isso, pertencia ao público-alvo dentro dos grupos prioritários já definidos.

O caso levou o Hospital da Santa Casa de Misericórdia de Vitória e o Conselho Regional de Enfermagem (Coren-ES) a abrirem uma investigação sobre a postura da profissional. A atuação dos órgãos será acompanhada pelo Ministério Público do Estado (MP-ES) (veja as notas mais abaixo).

A vacina que Nathanna tomou é a CoronaVac, produzida pelo laboratório chinês Sinovac em parceria com o Instituto Butantan (leia mais abaixo).

Enfermeira alega ‘liberdade de expressão’

Nesta tarde (25), Nathanna se pronunciou sobre o caso em um vídeo também publicado na rede social. Nele, ela diz que está com a consciência tranquila e que não cometeu nenhum crime ao expor a opinião sobre a CoronaVac.

A enfermeira disse que apenas exerceu seu direito de liberdade de expressão e, no final, pediu desculpas às pessoas que se sentiram ofendidas.

Mais cedo, em um relato enviado por ela através de uma mensagem de áudio à reportagem de “A Gazeta”, Nathanna já tinha dito que não fez campanha contra o imunizante.

“Eu acho a vacina importante? Sim, mas não acho que seja a salvação do problema. Foi um ponto de vista meu. Meu. Eu não fiz campanha contra a vacina, não falei para as pessoas não se vacinarem. Eu não fiz nada disso”, justificou.

Em outro áudio, Nathanna explicou por que apareceu sem máscara em um vídeo gravado dentro do hospital.

“Aquele momento lá era um momento que eu estava fechando meu plantão. Era perto das 19h. Foi um plantão bastante tumultuado que eu tive. Eu passei o dia todo de máscara e não bebi uma gota d’água. Naquele momento, foi um momento que eu parei em frente ao computador, respirei, tirei a máscara para poder tomar um pouco de água e fiz aquela brincadeirinha com o técnico da equipe de enfermagem, que não teve relação em nada com a vacina. Foi isso que aconteceu”, disse à reportagem de A Gazeta.

Investigações

 

Em relação ao uso da máscara, o Hospital da Santa Casa de Misericórdia de Vitória abriu uma investigação para apurar a conduta da funcionária, já que “a falta da máscara no ambiente é uma prática proibida desde o início da pandemia e que todos os colaboradores têm conhecimento sobre essa regra”.

Procurada novamente nesta segunda (25), a unidade informou que já tomou todas as medidas cabíveis relacionadas ao assunto e que não mais se manifestará sobre o ocorrido.

“A Santa Casa reitera sua postura clara e irrestrita com relação à importância da vacina como única solução possível para conter o avanço dos novos casos de coronavírus. Acreditamos, sim, na vacina e estamos ao lado da ciência”, diz parte da nota enviada à imprensa.

O Conselho Regional de Enfermagem do Espírito Santo (Coren-ES) também determinou abertura de procedimento ético para apurar o caso.

“É inaceitável que, após onze meses de enfrentamento à pandemia e em defesa da vida, um profissional de enfermagem se posicione nas redes sociais de forma irresponsável e inconsequente, comprometendo a ciência, a saúde e a vida das pessoas. A apuração, com amplo direito de defesa, será com base no Código de Ética da Enfermagem. As penalidades previstas vão de advertência à cassação do registro profissional”, diz parte da nota.

Nesta segunda (25), o O Ministério Público do Espírito Santo (MPES) informou que vai instaurar procedimento administrativo para acompanhar tanto o que está sendo feito no âmbito do hospital onde a enfermeira trabalha quanto o que o Conselho Regional de Enfermagem (Coren-ES) está apurando sobre o caso.

Repúdio

 

Entidades e profissionais ligados à área da saúde manifestaram repúdio à postura da enfermeira. O secretário estadual de Saúde, Nésio Fernandes, falou sobre o caso em uma rede social.

“Repudiamos toda e qualquer expressão de negação da ciência, da expressão de futilidades desnecessárias ao comportamento exemplar que se espera dos trabalhadores da saúde. Somos preparados para salvar vidas, não para sabotá-las”, disse.

A enfermeira e pós-doutora em epidemiologia Ethel Maciel também lamentou a atitude da colega de profissão.

“Eu queria dizer o quanto é lamentável numa pandemia que já levou mais de 200 mil pessoas no nosso país e que aproxima o Espírito Santo dos seis mil mortos e que não haja empatia. O primeiro problema é a falta de empatia com a vida alheia. As vacinas significam a nossa única estratégia para combater esse vírus. Além de uma série de desinformações presentes nesse vídeo, inclusive uma interpretação errada do que é eficácia.

 

Vacina

 

A vacina recebida pela enfermeira é a CoronaVac, desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac em parceria com o Instituto Butantan. A eficácia e a segurança da CoronaVac foram comprovadas em ensaios clínicos conduzidos no Brasil.

A eficácia geral da vacina ficou em 50,38% – acima do mínimo de 50% recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O uso emergencial do imunizante no país foi aprovado pela Anvisa no dia 17.

A eficácia de 50,38% foi contra todos os casos de Covid, incluindo aqueles muito classificados como “muito leves” (na gradação da Organização Mundial de Saúde, um caso “muito leve” é aquele que não precisa de atendimento médico).

Já contra os casos que precisaram de algum tipo de atendimento médico (casos “leves”, segundo a gradação da OMS), a eficácia foi de 78%.

Contra os casos considerados moderados ou graves, a eficácia da vacina foi de 100%.

Fonte: G1